sábado, 7 de setembro de 2013

Não de qualquer jeito

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 14, 1. 25-33 que corresponde ao 23º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus está a caminho de Jerusalém. O evangelista disse que “grandes multidões o acompanhavam”. Porém Jesus não tem ilusões. Não se deixa enganar pelo entusiasmo fácil das pessoas. Hoje alguns estão preocupados com o descenso do número de cristãos. Jesus estava mais interessado na qualidade de seus seguidores do que no seu número.
Em determinado momento, ele “volta-se” e começa a falar para aquela multidão das exigências concretas que incluem acompanhá-lo de um jeito lúcido e responsável. Não quer que as pessoas o sigam de qualquer forma. Ser discípulo de Jesus é uma decisão que deve marcar toda a vida da pessoa.
Jesus lhes fala, em primeiro lugar, da família. Aquelas pessoas têm sua própria família: pais e mães, mulher e filhos, irmãos e irmãs. Eles são os seus entes mais queridos e amados. Contudo, se não deixam de lado os interesses familiares para colaborar com ele para promover uma família humana, não baseada em laços de sangue, mas construída a partir da justiça e da solidariedade fraterna, não podem ser seus discípulos.
Jesus não está pensando em desfazer os lares eliminando o carinho e a convivência familiar. Mas, se alguém coloca em primeiro plano a honra de sua família, o patrimônio, a herança ou o bem-estar familiar, não pode ser seu discípulo, nem trabalhar com ele no projeto de um mundo mais humano.
Ainda mais. Se alguém pensa somente em si mesmo e em suas coisas, se vive somente para desfrutar de seu bem-estar, se se preocupa apenas com seus interesses, que não se deixe enganar, não pode ser discípulo de Jesus. Falta-lhe liberdade interior, coerência e responsabilidade para levá-lo a sério.
Jesus continua a falar com firmeza: “Quem não carrega sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo”. Se alguém vive evitando problemas e conflitos, se não sabe assumir os riscos e penalidades, se não está disposto a suportar sofrimentos pelo reino de Deus e sua justiça, não pode ser discípulo de Jesus.
Não é possível ser cristão de qualquer forma. Não devemos confundir a vida cristã com formas de viver que desfiguram e esvaziam de conteúdo o seguimento humilde, mas responsável a Jesus.
Surpreende a liberdade do Papa Francisco para denunciar estilos de cristãos que têm pouco a ver com os discípulos de Jesus: “cristãos de boas maneiras, mas de maus hábitos”, “crentes de museu”, “hipócritas da casuística”, “cristãos incapazes de viver contra a corrente”, cristãos “corruptos”, que somente pensam neles, “cristãos educados” que não pregam o evangelho...

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