Padre Henri Caffarel, profeta so século XX

A obra do Padre Henri CAFFAREL

Testemunho de um participante do Colóquio
Padre Louis de Raynal
Em dezembro passado, participei do primeiro colóquio organizado sobre a figura e a obra do Padre Henri CAFFAREL. Posso dizer o que mais me marcou? Como padre diocesano, fiquei sensibilizado de ver a prodigiosa fecundidade do ministério de um padre a serviço dos batizados e dos casais.
Sua vida inteira, afinal, terá tido este objetivo: ajudar as pessoas a realizarem sua vocação à santidade.
Um homem de seu tempo
Foi importante ouvir vários expositores situarem o contexto no qual Henri Caffarel nasceu, cresceu e realizou sua vocação. Notei a forte influência da Ação Católica na sua juventude e no início de seu ministério. A presença em nosso meio de testemunhas que conheceram intimamente o Padre Caffarel permitiu que eu compreendesse a humanidade dele. Um homem simples e discreto, exigente, mas com certeza apaixonado. Seu pronunciado gosto pela literatura mostra o lugar determinante que ele conferia à vida do pensamento.
Por meio das palavras dos escritores, ele celebra o mistério do amor. Ela estimula os casais para que leiam e assim alimentem sua oração e seu engajamento.
A vida de oração
Vários expositores do Colóquio nos fizeram compreender o lugar central que o Padre Caffarel dava à oração na vida cristã. Não estaria aí o segredo da fecundidade de seu ministério? Aos 20 anos, Henri tem um encontro decisivo com o Senhor. É um homem que, aos poucos, se deixa arrebatar por Deus. Ele procura captar os apelos do Senhor na oração, nos encontros, nos acontecimentos. Ouvi esta frase de Xavier Lacroix a respeito da oração: “Não é uma obra a realizar, mas uma desistência a realizar”. A oração conjugal é o primeiro ato da missão dos esposos.
Uma espiritualidade conjugal
A palestra do Padre Alain MATTHEEUWS nos ajudou a compreender o que é uma vida espiritual, ao enfatizar o quanto a ação do Espírito Santo se faz numa humanidade e, portanto, num corpo. Os caminhos do Espírito Santo estão nos sinais que se pode ver, ouvir, tocar. É uma pista essencial para aprofundar a espiritualidade conjugal, colocada em evidência pelo Padre CAFFAREL. Os esposos, por meio de todos os atos de sua vida conjugal e familiar, passam a ser eles mesmos sinais e, logo, evangelizadores. A missão do casal realiza-se no corpo eclesial.
A missão universal
No casal, a vocação à santidade realiza-se no e por seu amor de esposos e de pais. Eis aí uma Boa Nova! O testemunho de um casal brasileiro me fez tomar consciência da catolicidade do Movimento das ENS, com essa capacidade de unir em seu seio casais de países, culturas, sensibilidades extremamente diferentes. Foi muito bonito ouvir esse casal dizer: “É preciso levar a boa nova do sacramento do matrimônio até os confins do mundo”.
Afinal, o que eu guardo desse Colóquio? Uma formidável esperança para a Igreja! Desde a morte do Padre CAFFAREL, em 1996, o grãozinho de trigo caído em terra continua trazendo muito fruto, fazendo germinar, no coração e na vida de muitas pessoas uma sólida espiritualidade cristã, baseada nos sacramentos do batismo e do matrimônio.
NB : O Padre Louis de Raynal é autor de uma obra publicada em en 2010 : “A boa noiva do matrimônio – O Padre Caffarel profeta para nosso tempo”- Ed. Echelle de Jacob
 
Fonte: O BOLETIM DOS AMIGOS DO PADRE CAFFAREL


BOLETIM DE LIGAÇÃO N° 9     Julho-Agosto 2011

ASSOCIATION DES AMIS DU PÈRE CAFFAREL

49 RUE DE LA GLACIERE

F-75013 PARIS

www.henri-caffarel.org

O Pe. Henri Caffarel, O homem do encontro

Pe. Paul-Dominique Marcovits , o.p.
Postulador da causa do Pe Caffarel
(trechos da intervenção do Pe. Marcovits em Brasilia)

Permitam que o postulador da causa do Pe. Caffarel vos recorde que tudo começou aqui, no Brasil. É a forma de eu e a vice-postuladora, Marie-Christine Genillion, expressarmos o nosso reconhecimento aos equipistas deste país. Em 2004, os responsáveis internacionais das Equipas de Nossa Senhora, Gérard e Marie-Christine de Roberty, e o conselheiro espiritual internacional, Mons. François Fleischmann, visitaram os equipistas do Brasil. Notaram não só o afeto que todos têm pelo Pe. Caffarel, que veio visitá-los três vezes, mas verificam sobretudo «uma presença» do fundador das Equipas. Um santo é, em primeiro lugar, alguém que está «vivo» a quem cada um se dirige hoje para viver e vencer as dificuldades da existência. Foi por isso que as Equipes pediram ao arcebispo de Paris, Mons. André Vingt-Trois, que abrisse a causa do seu fundador. O Pe. Caffarel está vivo para nós. Tem de se tornar vivo para todos!Não é permitido aos equipistas guardá-lo para si: o Pe. Caffarel deve resplandecer na Igreja e para além dela…

Que objectivo se persegue? O bem dos casais e de todos os que querem fazer oração. O objectivo é mostrar que o matrimónio é uma Boa Notícia para os que se amam e que a oração é fonte de vida e de amor. A vida e a personalidade do Pe. Caffarel, os seus ensinamentos comunicados nos seus livros, as obras que fundou, são de uma riqueza tal que tudo isso deve ser partilhado por todos.
O Pe. Caffarel é um homem do encontro. Esclareçamos que nunca foi ele quem procurou esses encontros que moldaram a sua vida. Foram eles que se lhe impuseram.


Em primeiro lugar, foi Deus que veio. Todos conhecemos o relato que resume toda a sua vida: «Aos 20 anos, Jesus Cristo, de repente, tornou-Se alguém para mim. Mas não foi nada de espectacular. Nesse longínquo dia de Março de 1923, fiquei a saber que era amado e que amava, e que, daí em diante, a minha relação com Ele seria para toda a vida. Tudo estava jogado» (Jean Allemand, Henri Caffarel, um homem cativado por Deus, Ed. Lucerna, Estoril, p. 18). O Senhor impôs-Se-lhe. Foi essa a sua alegria, a sua vida. Foi o primeiro encontro. Tudo se centra no amor que Deus lhe revela: ele é amado por Deus, ele ama Deus, tudo está definido, «Tudo estava jogado», diz ele exactamente. Toda a sua vida se edificará sobre este amor recíproco entre Deus e ele.

Os dois outros encontros determinantes do Pe. Caffarel estão na continuidade deste, são sempre obra de Deus: o encontro em 1939 com casais que lhe pedem que os conduza no caminho da santidade e a quem ele responde: «Procuremos juntos»; e, em 1943, o encontro com viúvas que lhe pedem que as conduza nesse novo caminho e a quem ele responde igualmente: «Procuremos juntos». Quando o Senhor Se manifesta a alguém é para lhe confiar uma missão: fazer bem aos outros. O Pe. Caffarel deseja que façamos a experiência do amor de Deus. Missão essencial!
No seu túmulo, o Pe. Caffarel mandou escrever: «Vem e segue-Me». Foi assim. O Senhor orientou a vida do seu servo para que este estivesse ao serviço do amor revelado aquando da sua vocação em 1923: o amor no matrimónio, o amor mais forte do que a morte na viuvez.
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A vida do Pe. Caffarel encontra a sua origem em Deus. Ele centra-se em Deus, organiza tudo em torno do encontro com o seu Senhor. Pode ter parecido exigente… («Sede exigentes e jamais vos arrependereis», gostava ele de dizer); pareceu, por vezes, demasiado sério (excepto com os brasileiros, pois não pôde resistir ao seu bom humor!); come pouco (o que é impensável para os franceses!)… O nosso fundador não é, portanto, uma múmia perfeita. Mas foi sempre o homem do encontro.


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O Pe. Caffarel amava a Igreja apaixonadamente. Era padre da diocese de Paris. Os arcebispos de Paris compreenderam e apoiaram sempre as suas obras. Foi o anterior arcebispo de Paris, Mons. Jean-Marie Lustiger, que lhe deu o título de «profeta para o nosso tempo», mostrando assim a fecundidade do Pe. Caffarrel, que apresenta o matrimónio como «caminho de santidade».


O Pe. Caffarel estava em profunda harmonia com o Papa Paulo VI. Quando, em 1970, o Pe. Caffarel foi a Roma com mais de três mil casais, o Papa fez um longo discurso sobre o matrimónio que encheu de alegria o padre e os equipistas, de tal forma viram nele a espiritualidade conjugal de que as Equipas viviam. Nesse dia, o Papa entregou ao Pe. Caffarel um cálice que um sobrinho seu, o Pe. Voisin, nos emprestou para o nosso encontro: é um pouco do Pe. Caffarel, nosso fundador, que visita de novo o Brasil.
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Conduzir os outros a Deus é para ele o essencial.
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Escreve ao amigo: «Eu gostaria, caro amigo, que, quando fosses para a meditação, tivesses sempre a forte convicção de que és esperado: esperado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, esperado na família trinitária. Onde o teu lugar está pronto: de facto, lembra-te do que Cristo disse: “Vou preparar-vos um lugar”» (Henri Caffarel, Na presença de Deus, Cem cartas sobre a oração, Ed. Lucerna, Estoril, 2008, pp. 8-9). Quantos descreveram o Pe. Caffarel diante do Santíssimo Sacramento, sentado no seu banquinho de pedra. Nada se move: ele permanece em Deus.
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Permitam-me agora que vos dê algumas notícias precisas sobre o desenrolar do processo da causa do Pe. Caffarel. Este processo foi aberto a 25 de Abril de 2006 pelo arcebispo de Paris, o cardeal André Vingt-Trois, a pedido das Equipas de Nossa Senhora que, para esse fim, se constituíram na «Associação dos Amigos do Pe. Caffarel», sendo a sua responsabilidade assumida pela Equipa Responsável Internacional, em particular pelo casal Maria Carla e Carlo Volpini.
Desde a abertura do processo, o delegado episcopal nomeado para esse inquérito, Mons. Maurive Fréchard, antigo bispo de Pau, recebeu numerosos testemunhos, a maior parte dos quais foi apresentada por mim próprio, postulador, e pela vice-postuladora, Marie-Christine Genillon. Mons. Fréchard recebeu também o relatório dos censores teólogos, que examinaram a rectidão de fé do Pe. Caffarel. Recebeu ainda o relatório da comissão histórica, que examinou a autenticidade das informações relativas à vida do Pe. Caffarel.
A vice-postuladora classificou todos os arquivos respeitantes à causa. Mons. François Fleischmann, antigo conselheiro espiritual internacional, digitalizou perto de três mil páginas, editoriais de revistas e textos vários, e,como chanceler da diocese de Paris, autenticou um número considerável de documentos.

Pensamos que este inquérito diocesano estará terminado no fim deste ano de 2012. O conjunto do trabalho será entregue à Congregação para as Causas dos Santos, em Roma. Abrir-se-á então a segunda parte do caminho sob a responsabilidade de um novo postulador, o Pe. Angelo Paleri, franciscano conventual, postulador geral da sua Ordem e membro das Equipas de Nossa Senhora. Eu próprio terei de redigir a “positio”, ou seja, a síntese das investigações que demonstram a santidade do Pe. Caffarel. As nomeações oficiais serão comunicadas em 2013.

Basta que compreendam que uma investigação para uma causa exige tempo e trabalho e que o mesmo se realiza segundo regras rigorosas. Mas digo-vos tudo isto com a seguinte finalidade:
O Pe. Caffarel será beatificado se Deus quiser… Mas também se cada um de vós também quiser! Se o pedirem ao Senhor! A Igreja reconhece então esta realidade. Para isso, há que realizar três acções:
– em primeiro lugar, ler e meditar os escritos do Pe. Caffarel sobre o matrimónio e a oração. Conhecê-lo é amá-lo e entrar na sua escola.
– Em seguida, viver a vossa graça do matrimónio, ajudados de forma particular pela Carta: o matrimónio é um caminho de santidade. A santidade da vossa vida manifestará também a santidade do Pe. Caffarel que vos conduziu.
– Finalmente, rezar com frequência a oração que pede a canonização do Pe. Caffarel. Pedir, pedir ao Senhor graças e um milagre, sinal da presença e da intercessão do Pe. Caffarel por nós. Um milagre floresce sempre no meio de um povo que pede todas as graças.

Para terminar, uma canonização, cuja primeira etapa é a beatificação, é para o bem do povo cristão e da sociedade humana. Pensamos que a mensagem do Pe. Caffarel sobre o amor e a oração deve ser conhecida por todos. O Pe. Caffarel foi-nos dado por Deus; temos de o dar a conhecer aos casais e a todos os que procuram o Senhor. Não podemos guardar para nós tal tesouro. Falar do Pe. Henri Caffarel é evangelizar os homens e as mulheres que procuram a felicidade.

BOLETIM DE LIGAÇÃO N° 12 DOS AMIGOS DO PADRE CAFFAREL
Janeiro 2013
ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO PADRE CAFFAREL
49 RUE DE LA GLACIERE
F-75013 PARIS

domingo, 17 de fevereiro de 2013

LEMBRANÇAS DO PADRE CAFFAREL

Vimos o Pe. Caffarel pela primeira vez em 1957. Tínhamos então apenas três anos de equipe, o que naqueles tempos representava muito: basta lembrar que depois de três reuniões a equipe já pedia sua “filiação” ao Movimento. Fomos ao Colégio Santa Cruz para o encontro que o Pe. Caffarel, na sua primeira visita ao nosso país, teria durante dois dias com casais das então 13 equipes do Brasil1. Lembramo-nos até hoje das suas palavras no final da missa na capela, palavras que conclamavam aqueles poucos casais a levar adiante o ideal das Equipes de Nossa Senhora chamando, outros casais a viver seu matrimônio como vocação à santidade. Como todos os que o ouviram então, sentimo-nos diretamente tocados pelo ardor das palavras, pela urgência da missão de que acabava de investir a pequena sementeira de apóstolos ali reunida.

 




Cinco anos depois, estávamos sentados em torno de uma mesa no restaurante chinês próximo à casa dos Moncau, com eles, Esther e Luiz Marcello, Ignez e Orozimbo, Isa e Newton2, debatendo com o Pe. Caffarel o programa que havia sido montado para sua segunda visita e que, num abrir e fechar de olhos, ele desmontou inteiro, deixando-nos boquiabertos e, por que não dizê-lo, um tanto decepcionados em vista das muitas horas passadas para organizá-lo...

Assim era o Pe. Caffarel: o que decidia estava decidido, não havia o que discutir. Já experimentáramos, um ano antes, quando de nossa primeira viagem à França, o quanto nosso fundador era habitado por essa força interior que impunha respeito, ao mesmo tempo que inspirava admiração. Estávamos em visita ao então Centro Diretor (atual ERI) e pediram-nos para falar aos Responsáveis de Setor que se reuniriam em Paris naqueles dias. Somente a insistência do Pe. Caffarel fez com que aceitássemos, e ainda hoje Monique se lembra daquela sala onde pela primeira vez tivemos que tomar a palavra para falar das Equipes do Brasil.

Ainda o ano de 1962. Valinhos, primeira “Sessão de Quadros”3. O Pe. Caffarel falava, Gérard traduzia. De vez em quando, entusiasmado com o assunto, o Pe. Caffarel passava das 2 ou 3 frases combinadas e Gérard tinha o maior trabalho para se lembrar do que dissera. Ora, o Pe. Caffarel, que não entendia nada de português, interveio pelo menos em duas ocasiões, dizendo ao Gérard que havia esquecido de traduzir isso ou aquilo... Não entendia português, mas o seu senso do Movimento supria!

Naquela mesma Sessão, o Pe. Caffarel, ao ver equipistas entrando no salão no dia seguinte e serem recebidos com salvas de palmas, externou sua estranheza: “costume curioso esse de vocês, quanto mais atrasado alguém chega, mais é aplaudido!” Foi preciso explicar-lhe que vinham de longe e o ônibus em que viajavam havia quebrado.

Uma lembrança muito pessoal agora. O Pe. Caffarel almoçaria em nossa casa e Monique, sem saber que na França é a coisa mais banal, pensou honrá-lo servindo-lhe carneiro, mas não sabia cozinhá-lo e ficou duro que nem pedra. Imaginem a agonia da dona de casa recebendo aquela figura tão importante... Felizmente, não demorou para perceber que o Pe. Caffarel não dava a mínima atenção ao que havia no seu prato, só estava interessado na conversa. Que alívio!

Outras lembranças são só de Monique, que por três vezes teve a graça de fazer a Semana de Orações que o Pe. Caffarel organizava em Troussures, alguns quilômetros ao norte de Paris. Ele escolhera a dedo aquele lugar e ficava feliz quando eu me dizia maravilhada com a beleza dos campos que circundavam a Casa e a paz que deles emanava. Da última vez, quando comentei que me bastara entrar na casa para sentir-me imediatamente mergulhada no silêncio, sorriu e disse: “De fato, o silêncio aqui é quase palpável...”

Sempre que ia para lá, aguardava meio ansiosa a papeleta que deixavam em baixo da porta do meu quarto marcando a hora em que ele iria me receber. No exato minuto previsto eu tocava a campainha do seu apartamento, a porta se abria e lá estava ele, com aquele enérgico aperto de mão e aquele olhar direto e penetrante. Aliás, o que mais impressionava no Pe. Caffarel era exatamente o olhar, um olhar que parecia perscrutar até o fundo da alma da gente, mas também com algo de cumplicidade, um olhar que dizia conheço você melhor do que você se conhece... Perguntava por Gérard, Nancy, Marcellô, mas queria mesmo era saber do Brasil, ao qual devotava indisfarçável predileção... Em 1986, com o pretexto de que era “pour Nancy”, pedi para tirar uma foto dele e, para a minha surpresa, aquiesceu (é essa, frente à biblioteca, entre as fotos dos dois Papas).

Quem visse no Pe. Caffarel somente o lado erudito, a personalidade forte, não teria dele uma idéia completa. Disse alguém que um santo triste é um triste santo, e um dos traços marcantes do Pe. Caffarel era exatamente o humor. Divertia-se, por exemplo, quando, depois de explicar-nos que para entrar e permanecer em oração é necessária uma certa ascese, convidava-nos a “pular” o jantar... e ainda ao anunciar-nos que, no dia seguinte, no lugar da meia hora de “oraison”4 antes do café, faríamos uma maratona de 3 horas, entrecortadas por duas pausas (em que poderíamos sair da capela e comer um pedaço de chocolate, mas isso só descobríamos na hora...); “claro, ninguém é obrigado”, acrescentava ele nas duas ocasiões, rindo disfarçadamente de nossas caras assustadas.

Com a idade - em 1994 estava com 91 anos - não perdera nada de sua lucidez nem de sua vivacidade de espírito; apenas não fazia mais ele mesmo todas as palestras (essas mereceriam uma palavra especial, mas não caberia neste artigo). Quando fui falar com ele e disse que, da próxima vez que fôssemos à França, “daqui a dois anos”, esperava que Gérard fosse comigo visitá-lo, respondeu-me “daqui a dois anos não sei se ainda estarei aqui...”

De fato, em agosto de 1996, minha carta perguntando se poderia nos receber no final de setembro ficou sem resposta, mas pensávamos que essa chegaria após nossa partida. Em Londres, jantando com um casal nosso amigo desde a Peregrinação de 82, foi que soubemos, quando nos disseram: “Ouvimos dizer que o Pe. Caffarel teria falecido. Vocês estão sabendo de alguma coisa?” Chegávamos da Itália, somente íamos a Paris depois, e evidentemente não sabíamos de nada; levamos um susto e não podíamos acreditar nem entendíamos: “Como, teria? é um boato? estava doente?” (Na realidade, Cidinha e Igar quando haviam estado com ele em fevereiro já o haviam encontrado bastante enfraquecido, mas nós não sabíamos). Naquela noite mesmo tratamos de confirmar a notícia - era verdade: ele se fora como gostava de viver, no silêncio... deixando entre seus filhos das Equipes, além do sentimento de perda, uma certa incredulidade devida à discrição com que desejara cercar sua partida para o Pai.

Para nós, mesmo que Gérard não o tenha podido rever, ficou uma imensa ação de graças por termos conhecido um pouco o pequeno grande homem que Deus colocara em nosso caminho de casal havia mais de 40 anos.



Monique e Gerard

Equipe 1A - São Paulo



l. 6 e 7 de julho de 1957, e havia 10 equipes em São Paulo, 1 em Florianópolis, 1 em Campinas, 1 em Jaú.

2. Era, com Glória e Payão e o Pe. Corbeil, a equipe da então Região Brasil, futura Equipe de Coordenação Inter-Regional (ECIR), oficializada em novembro de 1962, no final dessa visita.

3. Depois “Sessão de Formação de Dirigentes” e finalmente apenas “Sessão de Formação”.

Oração interior, meditativa/contemplativa, traduzida entre nós por “meditação”.

fonte : Carta Mensal AGOSTO DE 2003

sexta-feira, 20 de março de 2015

LES AMIS DU PÈRE CAFFAREL

Foto Internet
LES AMIS DU PÈRE CAFFAREL
Association loi 1901 pour la promotion de la cause de Canonisation du Père Henri Caffarel

Carta aos correspondentes Março de 2015
Milagres e graças
Caros amigos,
Foi transposta uma etapa importante no caminho que levará à beatificação do Pe. Caffarel: o inquérito diocesano terminou no passado dia 18 de Outubro em Paris, e a 10 de Dezembro o dossier foi entregue à Congregação para a Causa dos Santos em Roma. É preciso aguardar o decreto de validade que dirá se o inquérito foi conduzido segundo as regras da Igreja. A próxima etapa será a redacção da «positio»: a partirdo inquérito, mostrar a vida, as virtudes e a santidade do Pe. Henri Caffarel. Este processo é habitualmente longo dada a precisão exigida na descrição da vida do futuro santo.
Desta vez, temos dois pedidos:
1. Todos temos de pedir ao Senhor que faça um milagre pela intercessão do seu servo o Pe. Caffarel.
– Um milagre é uma cura física, instantânea e definitiva. O milagre é uma «confirmação do céu». Confirma o que a Igreja pretende proclamar: a santidade do servo de Deus, que pode depois ser percebida pelos fiéis como um exemplo.
– Se, pela oração do Pe. Caffarel, Deus intervém de forma extraordinária na vida de alguém, isso confirma a santidade do Pe. Caffarel.
Devemos também pedir ao Senhor graças pela intercessão do Pe. Caffarel.
– Com efeito, muita gente pede a um santo que a ajude na multiplicidade dos acontecimentos da sua vida quotidiana. Pede-se com frequência ao Pe. Caffarel que interceda junto do Senhor para problemas de casal, reconciliações… mas também para coisas materiais, físicas…
– Pedir-lhe que intervenha junto de Deus é mostrar que o Pe. Caffarel está presente na nossa vida quotidiana, que pensamos que a sua acção tão fecunda na terra é também — e mesmo mais — fecunda agora que acreditamos que ele está no céu, na presença de Deus.
Agradecemos que nos comuniquem as graças que receberem: elas são sinais da presença do Pe. Caffarel
no meio de nós. É no meio dessas graças que um milagre será dado por Deus ao seu povo.
Que o Senhor nos abençoe a todos!

Padre Paul-Dominique Marcovits, o.p.

49, rue de la Glacière – (7e étage) – F 75013 PARIS
Tél. : + 33 1 43 31 96 21
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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A intuição do Padre Caffarel




Amigos esta semana foi cansativa, reunião interequipes e semana academica na universidade. Grandes palestras, muitos valores e tantos maverick, que beleza!
Continuo a postagem deste artigo do padre Angelo Epis. Boa leitura!
alexandre(da Alana)

ARRASTADOS PELA CONFUSSÃO MEDIÁTICA DIFICILMENTE PODE-SE ENTENDER O AMOR

Não tem mais tempo para olhares apaixonados, precisa entender logo com quem estou lidando, “ assim, se não me interessa, logo caio fora”. E em tudo isso pergunto-me aonde está o amor (amore), aquele com A maiúscula, que rima com “coração” (cuore), aquele que te deixa ansioso e envergonhado, aquele que faz sentir um buraco na barriga esperando o prazer.
A Internet ajuda os jovens a dialogar de modos novos, não tendo efetivamente um contato direto, mas um intercambio denso de e-mail, nos quais se examinam rapidamente, e em tempo real, todos os conceitos de amor, sexo e muitas outras coisas, virtualmente. O contato físico faz parte de um outro tipo de relacionamento que pode vir depois e sem excluir o outro, compensando-o, às vezes. Nesse ponto não serve mais dizer alguma coisa e “falar de amor” é inútil.
E os jovens conhecem muito bem o PC, navegam na Internet, criam as páginas Web e estão todos inscritos no Facebook, compram e vendem com e-bay, sabem manejar as post-pay e tem familiaridade com os link para fazer os download daquilo que desperta o interesse deles.
Este mundo novo, completamente ilusório, esta invadindo as mentes de muitos adolescentes, confundindo-os sempre mais so
bre violência, amor, afeto, compreensão. O amor, aquele sadio, não é considerado e, frequentemente, entre os "branchi" surgem competições para emular, ser protagonistas com o desejo de emergir e de oferecer espetáculo.
Os celulares complicaram ainda mais esta absurda existência que se move através do éter e nos trilhos da super-velocidade, como so
bre uma lâmina afiada.
A intuição do Pe. Caffarel

É útil traçar alguns aspectos essenciais do que o Pe. Caffarel deu às equipes, com os ensinamentos e os numerosos escritos sobre a criação, a expansão e a animação do movimento. Ele mesmo, voltando no passado, tratava de tirar lições para o futuro. È isto que vou tentar fazer com esta intervenção.
Devendo escolher, tenho presentes quatro pontos essenciais nos quais precisamos continuar refletindo, se quisermos, contemporaneamente ser fieis ao carisma fundador das equipes e fazê-lo viver em contextos frequentemente diversos daqueles vividos pela primeira geração. Lem
bremos que em Chantilly, no ano 1987, quatorze anos depois de ter deixado a direção das equipes, Pe. Caffarel fazia uma reflexão impressionante sobre o carisma fundacional, e com grande lucidez, fazia um balanço contrastante. Ele deixava o encargo de orientar o futuro do movimento, entregue à criatividade daqueles que teriam continuado a caminhada.
A espiritualidade do casal (de uma conferencia do Pe. Fleischmann)
Por volta do ano 1940, poucos movimentos cristãos faziam referencia aos casais como tal. Os conselhos evangélicos propostos na Igreja eram orientados separadamente ou para os homens ou para as mulheres e nunca feitos em comum! Partindo da pergunta de algum casal jovem, e com a sua ativa participação, Pe. Caffarel construirá as bases para uma espiritualidade dos casais.
A espiritualidade era correntemente considerada como a especialidade dos religiosos, célibes, enquanto o matrimonio era mais ou menos desprezado. Pode-se também dizer que a sexualidade era frequentemente considerada, em lugares mais fervorosos, como uma espécie de concessão inevitável para a procriação e para aplacar o desejo; o sentido cristão não era muito aprofundado. Henri Caffarel afirma, com força, que “os leigos devem definir bem quais são os seus meios e os seus métodos, o que constituirá a espiritualidade do cristão casado” (Conferencia para os responsáveis das equipes, 1952).
Revisando os editoriais da carta das equipes dos primeiros anos, aprecem coisas interessantes. Em junho 1950, por exemplo, Caffarel da uma definição para a espiritualidade: “a espiritualidade é a ciência que trata da vida cristã e dos caminhos que conduzem ao seu florescimento pleno”. Em seguida o Pe. Precisa que não se trate, para as famílias que procuram construir a sua espiritualidade, de evadir do mundo, mas de aprender como, seguindo o exemplo de Cristo, servir a Deus na sua vida e no mundo. Ele lhes faz desco
brir como a espiritualidade não seja feita somente por alguns passos como a oração e a ascese, mas requer o serviço a Deus aonde se vive: na família, no trabalho, na cidade.
No coração do percurso espiritual dos casais, Caffarel coloca sua reflexão so
bre o amor, sobre os laços estreitos entre amor de Deus e amor humano. A chave é: “O amor humano é a referência para entender o amor divino. Pelo seu poder de tornar dois seres em um só, resguardando a personalidade de cada um, o amor nos permite de ter a inteligência da misteriosa união do Cristo com a humanidade e do matrimonio espiritual da alma com o seu Deus”. (Discurso sobre o amor e a graça, p. 44). Aqui está o ponto central: a partir da experiência vivida no amor do casal, pode-se descobrir o amor de Deus, sua fidelidade, seu desejo de bem para nós, ao mesmo temp que os cônjuges desejam a alegria um do outro, no âmbito humano e naquele de seu amadurecimento religioso; sem esta dupla dimensão, o seu amor seria imperfeito, mutilado, no dizer de Caffarel.
Para construir a espiritualidade, o Pe. Caffarel insiste no discernimento do verdadeiro objetivo procurado na vida espiritual. Em um vigoroso editorial que intitulou simplesmente: But numéro un, ele mostra que, entre outros objetivos como o aprendizado da oração e o estudo do pensamento cristão, aos quais não se deve renunciar, não se pode perder de olho o escopo número um: A UNIÃO COM CRISTO. União com Cristo, ou seja, imitação de Cristo em todas as horas e atividades da vida... Eis o objetivo. (carta, fevereiro 1950 ).
Se questionado so
bre aonde pode basear a sua consistência esta aliança espiritual com Cristo, Pe. Caffarel coloca logo no centro da perspectiva a Eucaristia, prodigando-se para não isolar este sacramento dos outros elementos indispensáveis para a vida cristã: a formação da fé com o contato habitual com a Palavra de Deus, a oração de meditação e o amor vivo e eficaz ao próximo (cfr. Carta, Março 1958 ). Pe. Caffarel analisa o modo em que o casal vive a Eucaristia. No número, Le Mariage route vers Dieu, aparece um belo artigo sobre matrimonio e Eucaristia. Com o risco de antecipar um pouco o segundo ponto, preciso apresentar a reflexão do padre sobre este tema. Em comunhão com Cristo, o amor dos esposos é transformado pela graça da Eucaristia que lhe traz “purificação, novidade de vida” e que conduz a desejar compartilhar “o amor e a alegria de Deus, a santidade”( Propos, pp. 253-254).
Ma profundamente ainda, Pe. Caffarel diz ao casal que se o Cristo renova na Missa a sua única oferta do Calvário, é “porque ele quer que o seu sacrifício penetre até as profundezas carnais e espirituais da sua família, para criar também em vocês um estado de ânimo de oferenda permanente ao Pai” ( ibid. p. 261). Em fim, como Cristo vive seu sacrifício na Igreja na Missa, deseja vivê-lo na família que se dispõe habitualmente a doar-se realmente: os dois se doam um para o outro e ao mesmo tempo oferecem a seu amor a Deus do qual receberam tudo em Cristo.
Pe. Caffarel indica com profundidade o sentido do nascimento e da presença das crianças na família. Fiquei impressionado por duas frases achadas nos Propos: “O Criador fez do amor o insubstituível colaborador de sua paternidade. Por amor ao amor, Deus amarrou suas mãos: ele não terá outra posteridade se não aquela que lhe será dada pela união do homem e a mulher”. E ainda: “Esposos, sintam a batida do coração de Deus no desejo ardente de um filho na intimidade do seu amor” ( p. 44).
Assim, a fecundidade e a capacidade de gerar são dom de Deus, partilha de sua própria paternidade. O desejo de dar a vida associa inseparavelmente o amor do casal e o amor de Deus presente na família. A procriação e a educação manifestam, no dizer de Pe. Caffarel, o ágape que vivem os cônjuges e que eles aspiram a comunicar (cf. Le mariage, route vers Dieu, p. 288).
Tratando-se de educação, a espiritual esta privilegiada; Pe. Caffarel pede que nas famílias se formem “procuradores de Deus”, que frequentem a Bíblia, que rezem juntos, integrando na oração familiar os elementos da oração litúrgica da Igreja.
Um aspecto que não pode ser descuidado no que o Pe. Caffarel chama de a vida mística do casal cristão, é o sentido do pecado e do perdão de Deus. A espiritualidade do casal não deve ser idealizada! Quando as opacidades de um ou do outro, as incompatibilidades, as formas diferentes de mal que dividem, os esposos cristãos têm o dever de desco
brir que são pecadores.
Os insucessos do amor levam a uma tomada de consciência do fato que o próprio amor tem necessidade de ser salvado. Caffarel conclui um parágrafo intitulado Communauté pécheresse, repentante et pardonnée com estas palavras: “Se aceitarem a dolorida descoberta (ser pecadores), a sua comunidade conjugal torna-se finalmente comunidade penitente na grande comunidade penitente que é a Igreja que recorre ao seu Senhor do qual não quer colocar em duvida a presença e a solicitude, então, a
brindo-se para o perdão, renascerão para a esperança”. (Le Mariage ce grand Sacrement, pp. 332-333).

terça-feira, 22 de abril de 2008

Por que uma beatificação?


O Arcebispo de Paris, a pedido das Equipes de Nossa Senhora representadas pela Equipe Responsável Internacional, abriu a instrução da Causa de beatificação do Padre Henri Caffarel. O decreto de abertura foi lido em Lourdes, em 18 de setembro de 2006, no décimo aniversário da sua morte. Uma pergunta bem simples: por que uma beatificação? A resposta vale para todos aqueles que a Igreja pretende beatificar.
A Igreja beatifica um servo ou uma serva de Deus, em primeiro lugar, para dar graças a Deus. Queremos reconhecer a presença e a ação de Deus em alguém. Ninguém pode tornar-se santo sem a graça de Deus, porque somente Deus é santo. Em algumas pessoas, Deus faz resplandecer a sua santidade de forma deslumbrante. E o mínimo que se pode fazer, se me permitem dizê-lo, é reconhecer a obra de Deus e agradecer a Ele por ela. A personalidade de Madre Teresa é respeitada no mundo inteiro. Vemos nela uma caridade extraordinária, que vem de Deus. A sua fé, burilada na provação, foi forte e a sua esperança indomável...






A Igreja, ao beatificá-la, rende glória a Deus, que dá a um de nós a graça de viver o amor, um amor mais forte que a morte, mais forte que todas as mortes da Índia e do mundo inteiro! As Equipes de Nossa Senhora reconhecem no Padre Caffarel “um homem arrebatado por Deus”, ao retomar a expressão de Jean Allemand, seu biógrafo, que escreveu: “Deus arrebatou o seu servo para que ele mostrasse a grandeza do sacramento do Matrimônio e o lugar central da oração na vida cristã”. O Padre Caffarel sempre quis seguir a Cristo, deixar-se guiar por sua vontade, que ele discernia na oração. Todas as testemunhas da vida do Padre Caffarel falam dessa presença de Deus nele.
A Igreja também beatifica alguém para o bem do povo cristão e para o mundo. Tendo reconhecido a presença e a ação de Deus num de seus servos ou de suas servas, a Igreja pensa que não deve colocar a luz sob o alqueire... Essa luz precisa ser vista, para que todos possam beneficiar-se dela.



Numa época em que o início e o fim da vida são questionados, onde a pobreza do mundo aumenta, a beatificação de Madre Teresa é uma luz para todos. Como diz um prefácio eucarístico para os santos: “o seu exemplo nos encoraja”. Da mesma forma, Deus deu à Igreja o Padre Henry Caffarel para que todos os cristãos pudessem redescobrir o sentido do casamento, da oração, da Igreja. Semelhante tesouro não pode ficar escondido... 
Aos equipistas cabe a tarefa de promover a causa da beatificação do Padre Caffarel, para que todos os casais cristãos possam ter a alegria de viver melhor o amor de Deus em suas vidas e testemunhá-lo no mundo.

Não podemos privar das luzes extraordinárias que o Padre Caffarel nos deu tantos homens e mulheres que procuram se amar.

Uma beatificação não é um certificado de ausência total de defeitos. A história da Igreja nos revela que muitos santos tinham temperamentos estranhos! No entanto, assim como nós, procuraram converter-se. A força de Deus, contudo, ao agir neles com o seu consentimento irrestrito, produziu maravilhas. O “doce” São Francisco de Sales precisou vencer um temperamento colérico. Nos santos, as virtudes foram vividas de maneira heróica, isto é excepcional. Esse caminho de conversão que eles seguiram faz com que eles sejam próximos de nós e isso também nos encoraja. O Padre Caffarel conheceu esse caminho, e é impressionante ver o quanto ele ajudou os outros a viver da santidade de Deus. A santidade é viver de Deus e dar essa vida aos outros. Alguém disse a seu respeito: “Assim que vi o Padre Caffarel, soube que estava diante de um santo”.
Quem pede à Igreja que beatifique alguém? Lembramo-nos do enterro de João Paulo II e dos gritos do povo: “Santo súbito!”. O reconhecimento da santidade de alguém é sempre o fruto da fé do povo cristão.








A Equipe Responsável Internacional pediu a abertura da Causa do Padre Caffarel porque constatou o fortís­simo apego dos equipistas do Brasil àquele que por três vezes estivera no seu país. 
A ERI constatou, principalmente, que esse apego provinha de uma “presença” do Padre Caffarel. Lá, ele está vivo. Essa presença significa que Deus fala sempre de maneira forte por meio do seu servo para mostrar a grandeza do matrimônio e da oração.


Na França, os equipistas descobrem cada vez mais a importância e a riqueza da personalidade e da mensagem do seu fundador. Eles consideram que aí reside um tesouro que deve ser repartido. Os equipistas dos demais países, também eles, estão cada vez mais conscientes da importância da Causa para o mundo.
O Padre Caffarel está vivo. Ele nos fala. Leiamos os seus escritos, recebamos a sua luz. Orar a ele é viver com ele no caminho do matrimônio, esse “caminho de santidade”, e no caminho do encontro com Deus.



Frei Paul-Dominique Marcovits, o.p. Sac. Postulador da Causa de Beatificação de Pe. Caffarel

Tradução de Monique e Gerard Duchêne / CARTA MENSAL ABRIL 2008

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Testemunho sobre o Padre Caffarel














Testemunho sobre o Padre Caffarel
Maria e Agustin Fragueiro Ferrer 











Somos Maria (45 anos) e Agustin (48 anos) Fragueiro, de
Córdoba, na Argentina. Pertencemos às Equipes de Nossa Senhora
desde 1991. Foi assim que descobrimos o Padre Henri Caffarel. Não
tivemos a sorte de conhecê-lo pessoalmente, mas lemos muitos de
seus escritos, em particular aqueles sobre a Oração. Aos poucos,
aprendemos a conhecer sua mensagem e a respeitá-lo e amá-lo como
um verdadeiro guia espiritual 
Nosso primeiro encontro verdadeiro com a mensagem do Padre
Caffarel aconteceu no ano de 2000, quando alguns amigos nos
trouxeram um presente: o livro de Jean Allemand "Henri Caffarel,
um homem arrebatado por Deus". Na leitura dessas páginas,
tornamo-nos mais próximos deste homem maravilhoso, que deu sua
vida para o serviço de Deus e dos homens. Tomamos consciência da
importância daquilo que significa ter uma verdadeira vida de oração.
A oração tornou-se para nós um momento de encontro pessoal
com Deus, um tempo em que damos a Ele a possibilidade de falar
conosco. O Padre Caffarel nos pediu que fizéssemos dez ou quinze
minutos de tempo de silencio (nas Obrigações das Equipes). Ele
mesmo tirava dois meses por ano para se encontrar com o Senhor.
Assim, ele tomava as forças necessárias para realizar suas tarefas
pastorais. Ele não se contentava com palavras; ele mesmo vivenciava
e depois transmitia. 
Descobrimos que nós, leigos, somos pouco dispostos a
consagrar tempo a Deus em nossas vidas. Por isso, temos um
sentimento de frustração, de desânimo ou de fracasso em nossa
maneira de agir e de viver todos os dias.


Queríamos tentar viver esses quinze minutos cotidianos
consagrados a Deus, como nos ensinou o Padre Caffarel. Assim,
começamos a consagrar mais tempo a sós com Deus.
Por um lado, sentíamos a necessidade de transmitir aos demais
membros da Equipe nossa descoberta, mas por outro, não sabíamos
bem como fazê-lo. Carecíamos de documentos do Padre Caffarel
traduzidos para o espanhol, para aprofundar sua mensagem.
Começamos a procurar entre nossos familiares, nossos amigos,
nossos conhecidos. Consultamos também a Internet ara conhecermos
tudo o que o Padre Caffarel havia escrito. Foi assim que caíram em
nossas mãos alguns números do "L’Anneau d’Or", assim como
alguns livros traduzidos para o espanhol, publicados algumas décadas
antes. Recebemos também um presente: um exemplar do "O Corpo e
a Oração", numa livraria do Chile. 
Com entusiasmo e com a ajuda de alguns padres, organizamos
jornadas de oração, com a participação de casais das ENS e alguns de
seus amigos.
Tomamos mais consciência do que a oração significa na vida
do cristão. Podemos observar, todavia, que ainda há muito "ruído" na
vida dos leigos em geral. Passamos a maior parte de nosso tempo a
procurar a felicidade e a querer a felicidade daqueles que amamos.
Mas tentamos fazer isso do nosso jeito. Não nos damos conta de que
nossa felicidade reside nesta descoberta: Deus ama cada um de nós
de uma maneira pessoal e tem um plano para cada um neste mundo.
Se conseguíssemos descobrir o plano que Ele estabeleceu para cada
um de nós, então seríamos plenamente felizes e faríamos a felicidade
dos outros. A oração é a maneira adaptada e privilegiada para se
chegar a essa descoberta.







Esta é a mensagem central que descobrimos graças aoPadre
Caffarel: se vivemos motivados pela ação no mundo do "fazer", é
necessário pararmos no caminho para retomar forças para agir mais e
melhor. É imperativo que "repousemos" entre os braços do Pai que
nos ama para encontrarmos a alegria e a paz. É o que Padre Caffarel 
chama de "oração silenciosa". Entra-se nela em recolhimento, com o
sentimento da suave presença de nosso Senhor. É um sentimento
verdadeiro no fundo de nossa alma, saber que o AMOR, com
maiúsculas – que é Deus em nós – está ali presente e nos impulsiona
para que continuemos a viver e a transmitir sua mensagem de amor,
apesar das contradições deste mundo. Se realmente encontrarmos
Deus, nossa vida muda para sempre e torna-se impossível não
comunicá-lo.
A vida de oração é uma conquista difícil para o ser humano,
porém, é indispensável. Nós, seres humanos, deveríamos aprender o
silêncio para permitir que "Deus fale em cada um de nós".
Poderíamos, então, viver num mundo totalmente diferente.









Fonte:
BOLETIM DE LIGAÇÃO dos AMIGOS do PADRE CAFFAREL






N° 3 – JULHO-AGOSTO 2008

terça-feira, 9 de setembro de 2014

EM MEMÓRIA DO PE. CAFFAREL



O Pe. Franscec VERGES I VIVES era espanhol, mais exatamente, catalão. Conheceu o Pe. Caffarel desde o início das Equipas de Nossa Senhora no seu país.


Meu Pe. Caffarel

Uma tarde de Setembro, um telefonema do Pe. Sarrias anuncia-me a morte do Pe. Caffarel. Exclamei espontaneamente: «Sinto-me órfão!».Caffarel tinha sido para mim um pai na fé e no meu ministério sacerdotal.

Não o único, mas um dos mais importantes. Não o via há alguns anos, mas estava sempre presente no meu espírito. É claro que não sou o único a sentir a sua morte como a de um pai. Muitos equipistas por esse mundo terão este mesmo sentimento.
No Domingo 3 de Novembro de 1996, na sacristia da nossa Catedral, muitos Conselheiros das Equipas estávamos a preparar-nos para a Missa em sua memória. O Cardeal, Mons. Carles, também ele antigo Conselheiros das equipes, confessou-me que tinha conhecido o Pe. Caffarel através da revista L’Anneau d’Or. Teria sido muito interessante ouvir as recordações de cada Conselheiro. É a minha vez de contar as minhas.

A partir de 1954, tive muitos contatos com o Pe. Caffarel, no início das ENS em Barcelona. Em Paris, nas jornadas dos Conselheiros. Em Roma e Lourdes nos Encontros Internacionais das Equipas e do Movimento das Viúvas, outra obra suscitada por ele. Em Barcelona, pela primeira vez em 1959, uns meses depois do encontro de Roma com o Papa João XXIII, havia o entusiasmo e um grande impulso de expansão no nosso país e no mundo inteiro. Muitas pessoas estavam interessadas nas Equipas, um período feliz para as ENS. O Pe. Caffarel recebeu em minha casa o jovem Jordi Pujol (futuro Presidente da Catalunha) para falar das equipas de casais «Confraria de Virtêla» que estavam a começar à imagem das ENS. Em Blois, houve uma
reunião com alguns casais e conselheiros, durante a qual ele nos deu a conhecer o seu desejo para o presente e o futuro das Equipas. Em Madrid, numa Jornada Internacional de Responsáveis, ouvi-o dar a sua visão das Equipes como comunidades cristãs que viviam a interiorização da fé, na confiança e no acolhimento dos equipistas. Voltei a encontrá-lo também em Lourdes durante o Concílio, num encontro internacional. 

Alguns anos depois, fui a Troussures, à Casa de Oração, para participar numa das famosas «Semanas de Oração», em que ele foi o meu mestre de oração. Estávamos no fim de 1970 e ele já não era o Conselheiro Espiritual das ENS. E foi nessa Casa que ele morreu em Setembro de 1996. Não conheço toda a sua vida. Em 1939, era um jovem padre em Paris. Foi vigário paroquial na paróquia de St. Augustin em Paris. Algum tempo antes da guerra, conheceu jovens casais bons cristãos – talvez antigos escuteiros ·– que lhe pediram que os esclarecesse sobre o amor no casamento e o seu desejo de amar Cristo. Ele recordava que o amor alegre daqueles quatro casais o tinha tocado e levado a interessar-se pelo casamento através deles. Dizia: «Eles ensinaram-me o que era o amor humano, e eu podia ensinar-lhes o que era o amor a Cristo». Confessava que isso o tinha conquistado e entusiasmado, revelando-nos assim o segredo da sua vida: «No
princípio, dizia ele, quatro reuniões bastaram para decidir a minha vocação».

O Pe. Caffarel foi um homem «de vocação», como gostava de dizer Emmanuel Mounier, seu contemporâneo. Era, ao mesmo tempo, encorajador e exigente. O Pe. Caffarel foi esse humanista, seduzido por Cristo, homem do encontro e da experiência de Deus. O «quaker católico», como eu lhe chamava às vezes, fazendo referência a Thomas Kelly, o quaker que ele tanto apreciava e muitas vezes citava. Sabendo isto dele, compreende-se o seu entusiasmo e a sua tenacidade. O seu ser vivia em profundidade, e, ao longo
dos anos, ele comunicava essa profundidade a tudo o que empreendia. Fiel ao seu chamamento íntimo – à sua vocação – fazia avançar todas as suas obras.  Franscec Verges I Vives

Associação Internacional de Apoio
à causa da Beatificação do
Padre Henri CAFFAREL
49 rue de la Glacière – 7ème étage
F-75013 PARIS

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O significado da beatificação de Padre Henry Caffarel




No dia 25 de abril de 2006, na arquidiocese de Paris, foi oficialmente aberto o processo de beatificação de Pe. Henry Caffarel que, a partir disso, recebeu o título de “Servo de Deus”. A primeira etapa do rigoroso itinerário prevê o reconhecimento da exemplaridade das virtudes cristãs de Pe. Caffarel e da ortodoxia dos seus ensinamentos. Após este reconhecimento, o Servo de Deus receberá o título de “Venerável” e poderá ser, então, objeto de veneração por parte dos fiéis. As etapas sucessivas da Beatificação e da Canonização dependerão do reconhecimento de pelo menos um milagre em cada etapa.

A leitura, no dia 17/09/2006, do Decreto de abertura do processo foi acolhida com grande entusiasmo e comoção por parte dos milhares de equipistas reunidos no Encontro Internacional de Lourdes, mas suscitou também algumas indagações sobre a oportunidade e o sentido da beatificação. A glória da beatificação acrescentaria algo mais à real santidade do Pe. Caffarel? Estaria o Pe. Caffarel de acordo com ela? Estaria em sintonia com a grande simplicidade e profunda modéstia com que o Servo de Deus sempre evitou todo tipo de honra e de projeção pessoal? O processo de beatificação do próprio fundador não poderia esconder uma forma de vaidade por parte do Movimento das ENS, em querer se promover diante de outros movimentos? Como enfrentar o custo elevado que um processo necessariamente comporta?

A estas indagações pode-se, antes de tudo, responder que toda beatificação é, ao mesmo tempo, um dom e o reconhecimento de um dom de Deus à Sua Igreja. Esta, com efeito, tem como missão essencial a de ser Mestra de santidade para todos os cristãos. O convite de Jesus: “Sejais perfeitos, pois o vosso Pai do Céu é perfeito” é dirigido a todos os batizados. A proclamação de que um filho da Igreja alcançou esta meta é a demonstração de que a santidade é possível ainda hoje e que a Igreja continua sendo a Igreja de Cristo, Caminho, Verdade e Vida; é motivo de glória e de esperança para todo cristão que, mais uma vez, pode perguntar-se: “Se este e aquele conseguiram, por que eu também não posso?”.

A beatificação do Pe. Caffarel é, ainda mais, um dom especial de Deus para todos os casais cristãos e em particular para o Movimento das ENS, que o tem como fundador. De fato, o Pe. Caffarel se prodigou para resgatar e repropôs aos olhos da Igreja a sublimidade da vida matrimonial, como sacramento do amor de Cristo; e isso numa época em que a vida conjugal era considerada um caminho de santidade de segunda categoria, em relação à vida de perfeição representada pela vida religiosa ou “vida consagrada”. A sua beatificação vai confirmar e premiar esta posição teológica. A análise rigorosa a que a Igreja vai submeter a vida e o pensamento do servo de Deus irá dar total segurança a quantos se inspiram na sua obra. A aprovação da Igreja tornar-se-á um selo de qualidade sobre as orientações propostas para a santidade conjugal, particularmente para o Movimento das ENS.

A beatificação de Pe. Caffarel, ainda, é o reconhecimento dos dons que Deus lhe concedeu. Todo bem-aventurado é um testemunho da grandeza e da santidade divina. Por isso, a gloria dos altares, mais do que destoar com a simplicidade e a profunda modéstia de Pe. Caffarel, deverá representar a exaltação do poder de Deus que, apesar e graças à humildade e “inutilidade evangélica” do servo de Deus, soube fazer dele um colaborador eficaz da sua obra salvadora.
Assim, a beatificação poderá ser para Pe. Caffarel um hino de gratidão a Deus: como Maria, a escrava do Senhor, poderá repetir: “O Poderoso fez em mim maravilhas e o Seu nome é Santo”. E é por isso que de geração em geração toda a Igreja chama-lo-á de bem-aventurado.

É quanto todos nós esperamos: que a bem-aventurança do Pe. Caffarel possa representar para os cristãos um motivo de orgulho e de confiança na Igreja Mestra de santidade, incentivo para todos os casais cristãos a acreditar e perseguir a santidade conjugal, um sinal de coerência do Pe. Caffarel com aquela santidade que sempre incentivou aos casais e um testemunho da bondade e da grandeza de Deus que de servos humildes e modestos sabe fazer “grandes coisas”.
Pe. Geraldo Grendene, sdb

Fonte: Carta mensal - Fevereiro 2007

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Acreditamos que no Brasil, a pessoa do Pe. Caffarel está viva por obra e graça do casal , Nancy e Pedro Moncau

Padre Caffarel e Brasília 2012




Em 2003, estiveram no I Encontro Nacional das ENS do Brasil, o CR pela ERI, Gérard e Marie-Christine de Roberty e o SCE do Movimento, Monsenhor François Fleischmann. Foi sua percepção de que, no Brasil, o Pe. Caffarel continuava vivo, que deu origem à abertura do processo de beatificação de nosso fundador.
No ano passado, falamos da internacionalidade das ENS em Colóquio organizado em Paris com o objetivo de aprofundar o conhecimento da pessoa e da obra do Pe. Caffarel. Para dar um testemunho que não fosse só nosso, promovemos uma pesquisa em todo o país, buscando conhecer a visão que os equipistas brasileiros têm do Pe. Caffarel. E a constatação foi a mesma. Entre nós,
Henri Caffarel está vivo e continua inspirando as nossas equipes na busca da espiritualidade conjugal.
Acreditamos que no Brasil, a pessoa do Pe. Caffarel está viva por obra e graça do casal que trouxe o Movimento para o país, Nancy e Pedro Moncau. A correspondência que mantiveram com o Padre, o seu esforço para trazê-lo para cá em várias oportunidades, as suas permanentes referências a ele foram decisivas para que seu espírito permanecesse entre nós. As palestras de Nancy Moncau em particular, nos últimos anos de sua vida, que tanto emocionaram a todos nós, sempre nos remetia à pessoa ou às palavras do Pe.Caffarel. Demonstrando sua visão internacional, foi a Pedro Moncau que, numa carta datada de janeiro de 1950, Caffarel confiava: “Uma de minhas principais preocupações é de estabelecer comunicação com todos aqueles que, nos quatro cantos do mundo, trabalham no mesmo sentido”, isto é, com grupos de casais que “buscam a santidade, nem mais nem menos”.
A preocupação do Pe. Caffarel com a internacionalidade se traduziu, ao longo dos anos, na realização dos grandes Encontros Internacionais. Tivemos a graça de estar em todos os que foram realizados desde 1976 (duas vezes em Roma, duas vezes em Lourdes, uma vez em Fátima e uma vez em Santiago de Compostela) e podemos dizer que mesmo naqueles realizados sem a sua participação e depois de seu falecimento, sua presença era sensível para todos os participantes.
O nosso próximo Encontro Internacional será em Brasília. Temos a certeza de que, de perto de Deus onde está, o Servo de Deus Henri Caffarel acompanha essa nova reunião de seus filhos equipistas que continuam perseguindo aquele mesmo objetivo: no e pelo sacramento do Matrimônio, a santidade “nem mais nem menos”.
Hélène e Peter
Eq.03D - N. S. do Desterro São Paulo-SP

Carta Mensal  abril 2012

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A causa do Padre Caffarel


Para começar, algumas palavras sobre a causa do Padre Caffarel.

A sessão diocesana está chegando ao seu final. As testemunhas foram ouvidas. Os teólogos e os historiadores irão dentro de pouco tempo relatar seus trabalhos à Comissão diocesana. Se o arcebispo de Paris der o seu consentimento, poderemos logo remeter o processo para Roma. Aí começa outra etapa. Mantê-los-emos a par.

Ao aproximar-se o Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora em Brasília, permitam-me deixar aqui algumas reflexões. O Padre Caffarel amou o Brasil, esteve lá três vezes a convite das equipes que ali nasceram graças a Pedro e Nancy Moncau. Este Encontro será para nós como um novo Pentecostes: o Espírito Santo virá sobre nós para que a boa nova do matrimônio seja anunciada de novo e sempre para todos os casais da terra.

“Ousar o Evangelho” é o tema desse Encontro. Para prepararmo-nos para essa peregrinação a Brasília – que estejamos presentes em corpo ou em espírito

– eis três palavras do Padre Caffarel.

“Para se realizar, o ser humano precisa mais de oração que de pão”

O pão é necessário, o auxílio mútuo fraternal é fundamental, muitos auxílios humanos podem também vir em socorro aos equipistas para vivenciar o matrimônio e dele dar testemunho. Todavia, a oração, o relacionamento com Deus, o tempo para se colocar diante do Senhor, “ao seu dispor” como diz o Padre Caffarel... aí está a fonte de tudo. Sem a oração, a ajuda dos outros não será totalmente eficaz: o essencial não terá sido atingido.

Na oração e mais especialmente na meditação, o Senhor faz brotar a vida... e logo tudo o mais se encaixa no devido lugar. A grande graça que Deus concedeu ao Padre Caffarel foi a compreensão do sacramento do matrimônio, que deu origem às Equipes de Nossa Senhora. Sim, é verdade, se logo acrescentarmos que ele reuniu Cida de casamento e vida de meditação, de oração. Se Deus é “fonte do amor”, como diz a liturgia do matrimônio, então a oração essencial. O casamento corre o risco de murchar se a água da oração faltar. Mas se ela estiver presente, o homem e a mulher podem “realizar-se”, encontrar o equilíbrio, superar os obstáculos que atravessam toda e qualquer vida. Ousar o Evangelho é, antes de tudo, ousar a oração.

Uma segunda palavra do Padre Caffarel é esta:

“É necessário voltar sempre a esta verdade primeira: quem vem para tomar, parte com as mãos vazias, quem vem para dar, encontra”.

Como isso se aplica bem ao casamento! E como poderá se aplicar a Brasília! Já o sabemos: o apostolado, a força de dar testemunho diante dos outros da grandeza do amor humano habitado pelo amor divino, tudo isso tem sua fonte no amor, no dom de si aos outros. Ousar o Evangelho não é “tomar”, não é impor nossa fé, nossa visão das coisas, não! Ousar o Evangelho é querer dar o que temos de mais precioso.Aquilo que toca os outros, aquilo que nos vem do coração.

Por fim, uma última palavra. Quando o Padre Caffarel se apresentava para o primeiro encontro com os retirantes de Troussures, abria os braços e dizia: “O Senhor está à vossa espera.” Em sua primeira carta sobre a oração, escreve também: “O Senhor está sempre à vossa espera”. Em Brasília, ele está à nossa espera. Se ficarmos em nosso país, o Senhor está à nossa espera na comunhão com todos os equipistas, com a grande família das Equipes.

Para correspondência, por carta, ao endereço da Associação,



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A obra do Padre Henri CAFFAREL

Testemunho de um participante do Colóquio

Padre Louis de Raynal

Em dezembro passado, participei do primeiro colóquio organizado sobre a figura e a obra do Padre Henri CAFFAREL. Posso dizer o que mais me marcou? Como padre diocesano, fiquei sensibilizado de ver aprodigiosa fecundidade do ministério de um padre a serviço dos batizados e dos casais.
Sua vida inteira, afinal, terá tido este objetivo: ajudar as pessoas a realizarem sua vocação à santidade.

Um homem de seu tempo

Foi importante ouvir vários expositores situarem o contexto no qual Henri Caffarel nasceu, cresceu e realizou sua vocação. Notei a forte influência da Ação Católica na sua juventude e no início de seu ministério. A presença em nosso meio de testemunhas que conheceram intimamente o Padre Caffarel permitiu que eu compreendesse a humanidade dele. Um homem simples e discreto, exigente, mas com certeza apaixonado. Seu pronunciado gosto pela literatura mostra o lugar determinante que ele conferia à vida do pensamento.

Por meio das palavras dos escritores, ele celebra o mistério do amor. Ela estimula os casais para que leiam e assim alimentem sua oração e seu engajamento.

A vida de oração

Vários expositores do Colóquio nos fizeram compreender o lugar central que o Padre Caffarel dava à oração na vida cristã. Não estaria aí o segredo da fecundidade de seu ministério? Aos 20 anos, Henri tem um encontro decisivo com o Senhor. É um homem que, aos poucos, se deixa arrebatar por Deus. Ele procura captar os apelos do Senhor na oração, nos encontros, nos acontecimentos. Ouvi esta frase de Xavier Lacroix a respeito da oração: “Não é uma obra a realizar, mas uma desistência a realizar”. A oração conjugal é o primeiro ato da missão dos esposos.

Uma espiritualidade conjugal

A palestra do Padre Alain MATTHEEUWS nos ajudou a compreender o que é uma vida espiritual, ao enfatizar o quanto a ação do Espírito Santo se faz numa humanidade e, portanto, num corpo. Os caminhos do Espírito Santo estão nos sinais que se pode ver, ouvir, tocar. É uma pista essencial para aprofundar a espiritualidade conjugal, colocada em evidência pelo Padre CAFFAREL. Os esposos, por meio de todos os atos de sua vida conjugal e familiar, passam a ser eles mesmos sinais e, logo, evangelizadores. A missão do casal realiza-se no corpo eclesial.

A missão universal
No casal, a vocação à santidade realiza-se no e por seu amor de esposos e de pais. Eis aí uma Boa Nova! O testemunho de um casal brasileiro me fez tomar consciência da catolicidade do Movimento das ENS, com essa capacidade de unir em seu seio casais de países, culturas, sensibilidades extremamente diferentes. Foi muito bonito ouvir esse casal dizer: “É preciso levar a boa nova do sacramento do matrimônio até os confins do mundo”.

Afinal, o que eu guardo desse Colóquio? Uma formidável esperança para a Igreja! Desde a morte do Padre CAFFAREL, em 1996, o grãozinho de trigo caído em terra continua trazendo muito fruto, fazendo germinar, no coração e na vida de muitas pessoas uma sólida espiritualidade cristã, baseada nos sacramentos do batismo e do matrimônio.

NB : O Padre Louis de Raynal é autor de uma obra publicada em en 2010 : “A boa noiva do matrimônio – O Padre Caffarel profeta para nosso tempo”- Ed. Echelle de Jacob
 
Fonte: O BOLETIM DOS AMIGOS DO PADRE CAFFAREL


BOLETIM DE LIGAÇÃO N° 9     Julho-Agosto 2011

ASSOCIATION DES AMIS DU PÈRE CAFFAREL

49 RUE DE LA GLACIERE

F-75013 PARIS

www.henri-caffarel.org

quinta-feira, 3 de março de 2011

Colóquio sobre o Padre Caffarel : a continuação



Padre Paul-Dominique Marcovits , o.p.

O colóquio que teve lugar no colégio dos Bernardinos, nos dias 3 e 4

de dezembro últimos, foi para todos nós uma oportunidade para uma real

descoberta do Padre Caffarel. Cada um de nós tem o “seu Caffarel”!

Encontros em Troussures, lembranças dos Encontros de Roma ou ainda de suas visitas ao Brasil... Nós o enxergamos a partir de nosso ponto de vista.

No colóquio, vimos que o Padre Caffarel tem muitas facetas! E no entanto, há uma unidade profunda nesse sacerdote, uma unidade que vem de Deus. No colóquio, foi sua pessoa, em toda a sua amplitude, que se

manifestou aos poucos... Foram, naturalmente, aparecendo suas sombras e suas luzes. Foi sobretudo a influência que teve sobre pontos fundamentais da vida cristã que foi destacada: sua marca sobre o casamento, sobre a viuvez, sobre a oração é claríssima. Começam a ser escritos livros sobre

esses assuntos que nos ajudam a entrar no pensamento do Padre Caffarel.

Restam, todavia, muitas questões a serem aprofundadas. Por

exemplo, a relação entre os sacramentos da ordem e do matrimônio, esses dois sacramentos apresentados pelo Catecismo da Igreja Católica como sendo “os dois sacramentos ao serviço da comunhão” na Igreja. Padre

Caffarel escreveu sobre esse tema e sempre fez questão da presença dos padres nas Equipes de Nossa Senhora como conselheiros espirituais.

Seria também necessário trabalhar a relação entre o Padre Caffarel e a Igreja: sua obediência e sua inteligente liberdade. Conviria também estudar o lugar do movimento carismático e do ecumenismo. Uma primeira colocação foi feita no Colóquio, que abriu muitas pistas. Poderse-ia ainda mostrar o lugar do laicato em seu pensamento. Ou a atitude do Padre Caffarel em relação à Encíclica Humanae Vitae de Paulo VI... Ou ainda, o Padre Caffarel e a arte: jovem, ele pintava e encomendou vitrais para a capela de Troussures, magníficos vitrais que exprimem a sua fé.

Aqui estão, na desordem, algumas pistas de trabalho. Haveria outras. Portanto, restam ainda pesquisas a serem feitas. Para o avanço de uma causa de canonização, nada substitui a oração! Nada, tampouco,

substitui a pesquisa. Se quisermos que o Padre Caffarel possa fazer cada vez mais bem à Igreja e ao mundo, é nosso dever colocar bem em relevo a profundidade de sua vida e de seu pensamento.

Para correspondência, por carta, ao endereço da Associação, 
por e-mail : postulateur@henri-caffarel.org

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