quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A Herança do Padre Caffarel

Monsenhor François FLEISCHMANN

“’A oração interior, arriscaria dizer, é uma conversa com Deus’, escrevia Clemente de
Alexandria. […] Para Santa Teresa de Ávila, a oração interior é ‘um trato de amizade em que
mantemos uma conversa a sós com Deus por quem nos sabemos amados’. […] Esses termos,
‘trato’ e ‘conversa’ podem contudo gerar um equívoco, fazendo crer que a oração interior
consiste essencialmente em falar interiormente com Deus. Ora ela é um ato vital, que nos
empenha inteiramente... A oração interior é uma orientação profunda da alma, […] uma
atenção, uma presença bem alerta perante Deus de todo o nosso ser, do corpo e da alma, de
todas as nossas faculdades.»
Se nos perguntássemos ainda qual a importância, ou qual o impacto que tem a oração interior,
Henri Caffarel responde: «Por que será que a oração possui tão grande poder? Porque,
novamente, ela não é atividade do homem, mas sim, atividade de Deus no homem, à qual o
homem está associado. Cristo dizia : ‘Meu Pai e eu agimos sem cessar’; o homem que ora
reencontra em si mesmo a toda poderosa atividade divina, entrega-se a ela, coopera com ela,
oferece-lhe o meio de penetrar num mundo que, de outra forma se fecharia a ela.» (Cem

« A oração interior (“oraison”) significa abandonar essa periferia tumultuosa do nosso ser da
qual falava, é recolher, reunir todas as nossas faculdades e mergulhar na noite árida rumo à
profundeza da nossa alma. Aí, à entrada do santuário, basta fazer silêncio e prestar atenção.
Não se trata de uma sensação espiritual, de uma experiência interior, trata-se de fé: acreditar
na Presença. Adorar em silêncio a Trindade viva. Oferecer-se e abrir-se à sua vida
transbordante. Aderir, comungar ao seu Ato eterno.
«Pouco a pouco, ano após ano, a ponta do nosso ser espiritual afinada pela graça tornar-se-á
mais sensível à ‘respiração de Deus’ em nós, ao Espírito do amor. […] a nossa vida exterior
será então a manifestação, a epifania da nossa vida interior. Ela será santa porque no mais
profundo de nós estaremos estreitamente unidos ao Deus Santo.» (Cem cartas, p. 12)

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