segunda-feira, 6 de junho de 2011

CATEQUESE. É preciso conter a pastoral da rotina!

Boa semana a todos!!
Gostei muito deste artigo do Correio Riograndense, por isso partilho com voces!!
um abraço a todos, principalmente aos catequistas.
alexandre

 
Referência em catequese, ir. Nery diz que estrutura do “sempre foi assim” deve ser quebrada.

Por Alberto Meneguzzi 
Especial para o Correio Riograndense

Referência em catequese no Brasil e no continente, irmão Israel José Nery esteve em Caxias do Sul, no início de maio, participando da jornada que reuniu quase mil catequistas que atuam nas 71 paróquias da diocese caxiense. Além de trabalhos no Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs (Irmãos Lassalistas), ir. Nery é presidente da Sociedade de Catequetas Latino-Americanos (Scala), escritor - tem 53 livros publicados - e autor de vários CDs de canções e DVDs (Ed. Paulinas).

Irmão Nery diz, entre outras coisas, que o grande diferencial do novo modelo de catequese é considerar o estudo da iniciação cristã como uma preparação para a formação do discípulo e missionário, desconsiderando, assim, o antigo modelo de ‘cursinhos vestibulares de preparação aos sacramentos’. “Em muitas paróquias existe a sagrada pastoral da rotina, ou seja, sempre se fez assim e não se muda. É preciso quebrar esta estrutura. Esse não é um pedido meu, mas consta no Documento de Aparecida.”




Correio Riograndense - Qual a importância de encontros como esses, que reúnem milhares de catequistas para uma jornada de formação, reflexão, estudo e partilha?

Ir. Israel José Nery - Hoje uma das preocupações fundamentais da Igreja é cuidar da formação de cada católico. A Igreja quer oferecer a todos os católicos a oportunidade para o encontro pessoal com Jesus, para a conversão pessoal. Também quer motivar a conversão das estruturas da pastoral. Um evento como esse aqui em Caxias do Sul, que reúne tantos catequistas, dá uma injeção de entusiasmo, alimenta a fé e impulsiona a alegria de seguir Jesus. Estimula ainda o voluntariado e, sobretudo, une mais o senso do “somos irmãos na mesma vocação e missão”. Os catequistas não podem ficar isolados e devem celebrar a alegria de ser irmão e irmã dos demais, que possuem a mesma vocação

CR - Como agir para que a catequese não imite o modelo escolar?

Ir. Nery - O catequista precisa agir de forma a não imitar o modelo de sala de aula, de professor. Se é para fazer diferente, o encontro não pode ser 45 minutos, nem uma hora. Não pode parecer aula. Tem que ser encontro. E para ser encontro, o catequista precisa fazer as pessoas se encontrarem, se apresentarem, serem felizes por estarem ali. Ele precisa criar um clima diferente. Um encontro de catequese é um momento meditativo, celebrativo, orante, comunitário e por isso tudo, desafiador. Um encontro assim não se faz em 45 minutos. É preciso mudar a estrutura, mas para que isso aconteça é preciso também uma mudança na cabeça dos catequistas. Não dá para entrar na dimensão do “eu sou o professor de religião.” Sou, isso sim, um pastor ou pastora que anima o grupo e que opta por Jesus e vive com Ele. É preciso também mudar a cabeça de padres, freiras, de pais e mães de muitas comunidades, para que a catequese seja algo vital e não apenas um cursinho vestibular para receber a hóstia sagrada ou a confirmação. Isso já era, não existe mais. Agora é encontro pessoal com Jesus, encontro comunitário. É o compromisso com Ele e com a comunidade. Isso vai além do que qualquer aula, do que qualquer ensino ou doutrina, porque vida não se explica, se vive.


CR - Muitos catequistas reclamam da ausência dos padres. O que precisa mudar na formação dos presbíteros quando o assunto é catequese?

Ir. Nery - Nós estamos ainda, como Igreja Católica, devedores de um estilo de formar presbíteros, que é intelectualmente. Você precisa ter três anos de estudo de filosofia e outros quatro de teologia. Ótimo, não tenho nada contra isso, eu também fui formado assim. Vou dar um exemplo. Aquele que vai dar seis meses de aulas sobre Jesus Cristo é um doutor em cristologia. Mas não basta ser um cientista sobre Jesus, tem que dar consciência e competência, é necessário provocar a fé, ajudar a viver o encontro pessoal com Jesus. Um doutor de Bíblia que ensina sobre o Antigo ou Novo Testamento, não basta ensinar cientificamente, trabalhar arqueologia e tudo o que a bíblia diz. Ele tem que provocar a fé na palavra.

CR - Mas qual o caminho então?

Ir. Nery - Enquanto nós não introduzirmos dentro da faculdade a união fé e vida, vamos formar o presbítero que é doutor e vai falar para o povo como doutor, mas não vai chegar ao coração, porque ele não vive isso. É preciso trabalhar a experiência pastoral. Um presbítero que não entende de pastoral, não vai dar apoio à catequese, nem para a pastoral da juventude, e muito menos para a pastoral da família. Porque ele vai achar que o fundamental é celebrar a missa, sacramentalizar, e que é fundamental dar as homilias dele e ministrar os cursos a partir do que ele aprendeu. Nós temos que mexer na vida, trabalhar a vida, isso é o essencial. Tanto eu como os presbíteros, os bispos, precisamos de uma formação nova, de um jeito novo, para poder evangelizar.

CR - Isso tudo para não cair naquilo que o senhor chama de ‘sagrada pastoral da rotina’...

Ir. Nery - Sim, isso mesmo. Eu costumo dizer que nós temos uma sagrada pastoral da rotina, ou seja, sempre se fez assim e não se muda. É preciso quebrar esta estrutura. Esse não é um pedido meu, mas consta no Documento de Aparecida. Ele nos pede conversão pessoal e das estruturas, que precisam ser mudadas porque não comunicam mais como deveriam o evangelho e nem a vida cristã. Nós temos que ter orientações claras e, para isso, é preciso aprender uma nova linguagem, uma nova maneira de conversar com o povo



CR - Os novos modelos propostos provocam mudanças significativas na catequese. Uma dessas mudanças é a sugestão de seguir a catequese conforme o ano litúrgico. Esta é a fórmula ideal?

Ir. Nery - É normal que as pessoas tenham medo de mudar. A rotina paralisa. Tudo sempre foi assim, assim continuará sendo, pensam alguns. É preciso respeitar as características de cada local, mas é prudente que as orientações diocesanas sejam seguidas. Uma catequese que imita o tempo escolar transforma o ambiente catequético em escola. Fala-se em matrícula para os catequizandos. Os catequistas acabam agindo como professores. Daí existem as férias no mesmo tempo que a escola, tudo vira uma imitação da escola. Fica difícil desvincular. Por isso, obedecer ao calendário litúrgico significa fazer da catequese algo diferente. Esse é um desafio da catequese nos dias de hoje.

FONTE: Correio Riograndense

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