Padre Henri Caffatrel
Em toda a parte a mentira; ao redor de nós; em nós mesmos. A Sra.
Y detesta a Sra. Z; estendelhe, porém, a mão com um sorriso impecável. O
Dr. A vive criticando o seu colega Dr. B; encontra-se com este e com
que entusiasmo apresenta-lhe felicitações pela classificação obtida no
concurso do hospital.
Examinai o grupo de pessoas que, na Igreja, desfilam diante da
família do defunto; ficareis surpreendidos com a “sinceridade” de
todos...
Todos representam o seu papel: a mãe perfeita, o pai de família
numerosa, o braço direito do Sr. Vigário, o modelo social, o cristão de
ideias largas. Afivelar bem a máscara, ajustar bem o disfarce, esta a
grande preocupação.
E os partidos políticos! E a imprensa!... e seja lá o que for, a
última greve, a sucessão presidencial, o grande julgamento no Tribunal:
sempre palavras belas, escondendo quase sempre coisas sujas.
Estamos, aliás, tão habituados que nem mesmo atenção prestamos a tudo isto. Tão habituados, quer dizer, tão contaminados...
Pessimista, direis. Utilizai-vos, então, deste teste: durante um
dia apenas, esforçai-vos por descobrir todas as mentiras que se insinuam
nas vossas atitudes, palavras, cartas, gestos, silêncios, pensamentos,
orações, seja em relação à vossa esposa, filhos, empregados e demais
pessoas com quem cruzais, seja em relação a vós mesmos (pois mentimos a
nós mesmos e, talvez, mais do que aos outros), seja em relação a Deus
(pois, quantos cristãos não seriam mais leais se se abstivessem durante
algum tempo, como Peguy, de recitar o Pai Nosso, tendo em vista o “seja
feita a Vossa vontade” que é desmentido pelo proceder diário). Se vós
não vos espantardes, à noite, com o resultado da experiência, é porque
ou sois santo ou, quando menos, cego. E nesta segunda hipótese, o vosso
caso é grave.
Tornarmo-nos verdadeiros - tal deveria ser o nosso ideal de todos os dias.
E nesse sentido sereis eficientemente ajudados se jogardes lealmente o “jogo” das Equipes.
Se durante a troca de ideias2, todos os casais
exprimirem com toda a simplicidade, aquilo que pensam, confessarem
aquilo que ignoram, solicitarem a ajuda dos outros para a questão que os
preocupa, raciocinarem em harmonia com os demais de forma a traduzir em
sua vida a verdade melhor compreendida, estes não tardarão a se tornar
verdadeiros.
Se a vossa oração, na reunião mensal, for alguma coisa mais do
que uma boa dissertação, se ela traduzir em algumas palavras despidas de
eloquência, de literatura, - como se estivéssemos a sós diante de Deus –
um pensamento, um desejo, um sentimento profundo da alma,
tornar-vos-eis verdadeiros.
Se praticarem os casais, lealmente, aquilo que chamamos de
“Partilha” (recordai o texto do Estatuto: - “Cada casal dirá, com toda a
franqueza, se observou, durante o mês, as obrigações3 assumidas e não tardarão a se tornarem verdadeiros”).
Pôr-se a par dos respectivos esforços e dificuldades é coisa
absolutamente normal para os casais que, conjuntamente e com o objetivo
de entreajuda fraternal, assumirem o compromisso de seguir uma regra.
Não é compreensível, pois, a ojeriza de certos casais para com a
“Partilha”. E não haverá isto precisamente na medida em que eles estão
ainda habituados a “blefar”, a representar os seus papéis, a cultivar a
sua reputação?
É precisamente porque vemos na “Partilha”, entre outras coisas,
um meio infalível de fazer cair a máscara, de lutar contra o “blefe”
mundano, que lhe atribuímos tamanha importância.
Quando os casais de uma Equipe se esforçarem por eliminar toda a
mentira, numa tentativa de sinceridade total, então, - conforme me
escreveu um de vós: -
“Entre cristãos que se tornaram transparentes uns para os outros,
a comunhão dos santos não é somente um dogma no qual se crê, mas também
uma experiência que se vive”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário