
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 27º Domingo do Tempo Comum (06 de outumbro de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1a leitura: Habacuc 1,2-3; 2,2-4
2a leitura: 2 Timóteo 1,6-8.13-14
Evangelho: Lucas 17,5-10
Serviço de Deus, serviço do homem1a leitura: Habacuc 1,2-3; 2,2-4
2a leitura: 2 Timóteo 1,6-8.13-14
Evangelho: Lucas 17,5-10
Quando textos evangélicos parecem contradizer-se, devemos redobrar a atenção: seu acordo estará num nível superior, numa inteligência mais alta da mensagem. É o que acontece com esta parábola de Lucas 17,5-10 e Lucas 12,37. Na parábola, temos um servidor que, depois de voltar do trabalho, deve ainda servir o seu mestre; o que entra em colisão com Lucas 12,37, onde vemos que o mestre fará sentarem-se à mesa os servidores e, ele, cingindo-se, os servirá. Para poder compreender, temos de notar, antes, que, no capítulo 17, tudo é visto na perspectiva dos servidores e dos patrões “humanos”: "Se algum de vós tem um empregado..." (versículo 7); "Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram..." (versículo 10). Digamos que, como servidores, não podemos fazer para Deus menos do que fazemos para os homens. Já, ao contrário, no capítulo 12, Jesus nos revela a conduta de Deus para conosco. Se lidos em conjunto, estes dois textos manifestam uma espécie de competição entre Deus e o homem: qual dos dois irá, a mais, servir ao outro. Um serviço que vai até o fim: sem descanso nem ocaso. É que, para Deus, servir ao homem é fazê-lo viver. E, para o homem, servir a Deus é aderir à vida, viver e fazer viver, reconhecer (ação de graças) este de quem nos vem a vida. E tudo isto se exprime através do tema do alimento, que se liga à vida.
Dar é receber

Deus servidor
Não merecemos nada, pois nada podemos dar que antes não tenhamos recebido. E Deus, no entanto, "aprecia" que, por nosso "serviço" - mais uma vez, o serviço de Deus que passa pelo serviço dos outros -, escolhamos fazer retornar à sua fonte o dom que temos recebido. As Escrituras exprimem esta atitude de Deus em termos de reconhecimento ou de recompensa. É que, ao entregarmos a Deus a vida que Ele mesmo nos dá, reproduzimos o intercâmbio Trinitário. O Verbo, o "Filho", recebe-se a si mesmo todo inteiro do Pai-Origem e se entrega de volta, todo inteiro, ao Pai. Este ir-voltar é o "movimento", o intercâmbio que constitui Deus e que, constitui igualmente o homem em sua verdade: é sempre a criação à imagem e semelhança. Então, a maior inutilidade (“servos inúteis”) se mostra como a suprema utilidade, o maior valor. Não podemos pretender recompensa alguma, e, no entanto, a recompensa nos é dada. Voltemos nossa atenção para aquele que nos conta a Parábola: o Cristo é o servo que, após ter servido os homens por toda a "jornada" de sua vida, segue vestido com sua roupa de serviço (João 13). Prepara a mesa para os homens, para os servidores, esta mesa na qual é ele, a uma só vez, quem serve e quem se dá em alimento. Assim é o nosso Deus. Assim somos nós, os homens.
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