A casa de Jericó (Lc 19,1-10)

“Hoje, tenho de ficar em tua casa” é o convite que Jesus dirige a cada um de nós, para que paremos com Ele para fazermos um balanço da nossa vida, para ver, com Ele, para onde vamos, o que somos e queremos ser, como progredir nas nossas escolhas de fé e de que forma testemunhar o aspecto sacramental do nosso matrimônio.
O nosso envolvimento no momento da partilha é precisamente este espaço de por em comum e verificação das nossas escolhas quotidianas diante da escolha fundamental de fé que fizemos. A partilha é o apelo de Cristo “Hoje tenho de ficar em tua casa, para que tu, para que vocês façam comigo o balanço da sua vida espiritual, para que, iluminados pela minha Palavra, possam orientar as suas opções de vida, recordar o seu percurso conjugal e olhar para o futuro.
Neste sentido, a partilha e a regra de vida estão fortemente ligados, porque a regra de vida não mais deve representar um compromisso específico e limitado, mas sim tornar-se o compromisso com um estilo de vida conforme a nossa maneira de pensar e de agir, e isso só pode resultar de um balanço e de um ajuste sinceros do nosso dia a dia.
Quando Jesus lhe disse “tenho de ficar em tua casa”, Zaqueu encheu-se de alegria; sabia que ao acolher Jesus, encontraria o sentido da vida que procurava. A toda a hora, Jesus nos diz “tenho de ficar em tua casa”; com as numerosas oportunidades que Ele nos oferece, somos capazes de O acolher com alegria, como faz Zaqueu, para dar um significado à nossa vida?
“Quantas vezes, no desenrolar frenético dos dias, deixamos de lado uma procura mais profunda sobre o sentido da vida! O momento da partilha torna-se um pouco, para mim e para ti, a imagem da nossa casa, a de um espaço interior. E mesmo ainda hoje, parece-nos que somente em casa e os dois a sós, nos sentimos capazes de retomar o fio do nosso percurso de vida, de nos interrogar sobre o sentido de tudo o que acontece e nos acontece. Lá fora, trata-se de receber ou de dar, enquanto dentro de casa, trata-se de recompor, para dela nos apropriarmos, a nossa vida e a nossa história. Quando estamos fora, temos de certa maneira as idéias mais claras, sabemos para onde dirigir os nossos passos, o que se espera de nós e acreditamos naquilo que dizemos e fazemos.
A nossa vida “pública” não parece mudar muito; pelo contrário, as experiências que vivemos constantemente alargam os nossos horizontes, fazem-nos amadurecer e tranqüilizam-nos no plano social. Sabemos, contudo, que temos de viver na ótica de uma renovação constante, chamados a um salto qualitativo tanto em relação à fé, como à vida, sabendo também que no plano afetivo estamos mais fracos e mais frágeis do que pensávamos. É por isso que temos a sensação de sentir a casa como um espaço interior e a partilha sobre os pontos concretos de esforço como um lugar privilegiado desse espaço de profundidade, porque aí reencontramos a nossa autenticidade, colocamos o nosso coração a nu diante um do outro e os dois, sozinhos, podemos continuar a tecer a trama de nossa vida.”
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