quarta-feira, 23 de março de 2011

A casa de Zaqueu em Jericó - Volpini - ROMA 2003

A casa de Jericó (Lc 19,1-10)


Zaqueu vivia em Jericó, era um homem rico, chefe dos cobradores de impostos, e exercia a sua profissão numa cidade onde reinava a opulência, o sentido dos negócios, mas também a indiferença e o individualismo. Zaqueu não se sentia totalmente satisfeito, sentia que alguma coisa estava errada, e pôs-se à procura... Jericó é um pouco como o nosso país : a riqueza e a pobreza coabitam, a solidariedade existe, mas não prevalece sobre o individualismo. Há em Jericó, como em nossas cidades, movimento, vitalidade, frenesi, multidão, confusão...Nós também, como Zaqueu, sentimos que tudo isso não nos satisfaz, andamos à procura de alguma coisa diferente, como Zaqueu queremos também que Jesus nos fale, mas como Zaqueu mantemo-nos à distância, estamos com ele trepado no sicômoro... Em meio à confusão da multidão ouve-se a palavra de Jesus que soa inacreditável aos ouvidos de Zaqueu: “ Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa” e Zaqueu cheio de alegria espera este encontro.

“Hoje, tenho de ficar em tua casa” é o convite que Jesus dirige a cada um de nós, para que paremos com Ele para fazermos um balanço da nossa vida, para ver, com Ele, para onde vamos, o que somos e queremos ser, como progredir nas nossas escolhas de fé e de que forma testemunhar o aspecto sacramental do nosso matrimônio.

O nosso envolvimento no momento da partilha é precisamente este espaço de por em comum e verificação das nossas escolhas quotidianas diante da escolha fundamental de fé que fizemos. A partilha é o apelo de Cristo “Hoje tenho de ficar em tua casa, para que tu, para que vocês façam comigo o balanço da sua vida espiritual, para que, iluminados pela minha Palavra, possam orientar as suas opções de vida, recordar o seu percurso conjugal e olhar para o futuro.

Neste sentido, a partilha e a regra de vida estão fortemente ligados, porque a regra de vida não mais deve representar um compromisso específico e limitado, mas sim tornar-se o compromisso com um estilo de vida conforme a nossa maneira de pensar e de agir, e isso só pode resultar de um balanço e de um ajuste sinceros do nosso dia a dia.

Quando Jesus lhe disse “tenho de ficar em tua casa”, Zaqueu encheu-se de alegria; sabia que ao acolher Jesus, encontraria o sentido da vida que procurava. A toda a hora, Jesus nos diz “tenho de ficar em tua casa”; com as numerosas oportunidades que Ele nos oferece, somos capazes de O acolher com alegria, como faz Zaqueu, para dar um significado à nossa vida?

“Quantas vezes, no desenrolar frenético dos dias, deixamos de lado uma procura mais profunda sobre o sentido da vida! O momento da partilha torna-se um pouco, para mim e para ti, a imagem da nossa casa, a de um espaço interior. E mesmo ainda hoje, parece-nos que somente em casa e os dois a sós, nos sentimos capazes de retomar o fio do nosso percurso de vida, de nos interrogar sobre o sentido de tudo o que acontece e nos acontece. Lá fora, trata-se de receber ou de dar, enquanto dentro de casa, trata-se de recompor, para dela nos apropriarmos, a nossa vida e a nossa história. Quando estamos fora, temos de certa maneira as idéias mais claras, sabemos para onde dirigir os nossos passos, o que se espera de nós e acreditamos naquilo que dizemos e fazemos.

A nossa vida “pública” não parece mudar muito; pelo contrário, as experiências que vivemos constantemente alargam os nossos horizontes, fazem-nos amadurecer e tranqüilizam-nos no plano social. Sabemos, contudo, que temos de viver na ótica de uma renovação constante, chamados a um salto qualitativo tanto em relação à fé, como à vida, sabendo também que no plano afetivo estamos mais fracos e mais frágeis do que pensávamos. É por isso que temos a sensação de sentir a casa como um espaço interior e a partilha sobre os pontos concretos de esforço como um lugar privilegiado desse espaço de profundidade, porque aí reencontramos a nossa autenticidade, colocamos o nosso coração a nu diante um do outro e os dois, sozinhos, podemos continuar a tecer a trama de nossa vida.”

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