segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Diocese de Caxias do Sul em transformação

Parabens caxienses por este Bispo! Li esta entrevista no jornal Correiro riograndense!
alexandre

Dom Alessandro Ruffinoni completa, nesta quarta 19, 103 dias como bispo da diocese de Caxias do Sul. Com mais os 10 meses em que atuou como coadjutor de seu antecessor, dom Paulo Moretto, soma tempo suficiente para uma avaliação mais aprofundada dos municípios e dos cerca de 800 mil habitantes que compõem a diocese que administra. Foi isso que ele fez ao atender o Correio Riograndense. Dom Alessandro, nascido em 26 de agosto de 1943, em Piazza Brembana (Bergamo, Itália), com 26 anos de Brasil, foi além: revelou surpresas que teve, em especial o pluriculturalismo que encontrou; disse que prepara a implantação do diaconato permanente, necessidade para suprir o encolhimento das vocações; que estuda o vicariato episcopal (espécie de pré-diocese) para Farroupilha, Bento Gonçalves e Nova Prata; que quer priorizar as pastorais do migrante e da juventude; e que já tem projeto pronto para reformar a casa episcopal.


A seguir, principais trechos da entrevista concedida ao editor-chefe Ibanor Sartor e ao editor-assistente Marcelino Dezen.



Correio Riograndense - Que avaliação o senhor faz da realidade caxiense e da região da diocese que o senhor comanda?

Dom Alessandro Ruffinoni - Hoje já posso fazer uma análise um pouco melhor - embora tenha ainda muito a conhecer. Por exemplo: a cidade de Caxias, com seus mais de 400 mil habitantes, é cosmopolita, não é mais só de origem italiana. Estive presente em alguns batizados e não tinha nenhuma de sobrenome italiano. Caxias cresceu, por sua indústria e capacidade de oferecer mão de obra a muita gente, mas cresceu também culturalmente, tornando-se pluricultural.



CR - E quanto à questão social, à distribuição de riquezas?

Dom Alessandro - Com a entrada de novas forças, entra também a pobreza. Nem todo mundo consegue alcançar o sonho de vir para Caxias e conseguir emprego. Os bairros vão se enchendo de gente e surgem dificuldades. Aquilo que aparece é uma Caxias rica, com capacidade de absorver mão de obra. Escuto com frequência: é só estar bem de saúde e com vontade de trabalhar para ser empregado em Caxias.

A periferia da cidade é formada de gente mais humilde, mais pobre. Mas não vejo aqui sinais mais graves como os que se notam em Porto Alegre, com muita gente deitada na rua, pedindo esmola... só alguns, na escada da catedral.



CR - Algo lhe surpreendeu em relação à imagem que o senhor fazia?

Dom Alessandro - A pluricultura. Pensava que a cidade era só de uma cultura, não só de italianos, mas com grande predomínio de italianos. Não é bem assim. Agora, há áreas do interior em que há só descendentes de italianos.



CR - E isso mudou algum projeto, alguma linha de ação que o senhor pretendia implantar aqui?

Dom Alessandro - Nossa preocupação, minha e dos padres, é como ir ao encontro desta realidade. Insistimos muito na pastoral da acolhida, para que a pessoa que chega em Caxias se sinta acolhida. A gente nota também na cidade muitas religiões e manifestações de religiosidades não cristãs.


CR - Como o senhor vê esse crescimento de outras religiões?

Dom Alessandro - Eu não tenho medo ou fico triste, porque se uma religião ensina a se querer bem, a fazer o bem, que seja bem-vinda. Que elas ajudem as pessoas a amar a Deus e ao próximo. Não devemos ver outras religiões como inimigas. O Vaticano II e a Verbum Domini nos ensinam que as outras religiões também têm a semente do Verbo, quer dizer, que também têm alguma coisa de Deus. Todas as pessoas vêm de Deus, desde a antiguidade - o confucionismo, o induísmo... Alguma coisa, alguma semente boa eles receberam de Deus e Deus fala também através dessas pessoas. A Igreja Católica não é dona da verdade.



CR - A complexidade da região oferece realidades diferentes, a começar pela formação dos povos - açorianos, italianos. Como lidar com elas?

Dom Alessandro - Notei grande diferença. São Francisco de Paula, Jaquirana (origem açoriana)... É outro tipo de gente. Tem que ter outro padre, porque o padre italiano, se não tem vocação carismática, não é capaz de cativar essa gente. Não pode só ir lá dar ordens, avisos. O padre tem que ir na casa deles, fazer amigos. Uma vez conquistados, são melhores que os outros. Mas é preciso fazê-los amigos.

CR - E as outras, de origem italiana, como Farroupilha, Bento Gonçalves?


Dom Alessandro - Bento é mais católica que Caxias. Não sei se é oportuno dizer, mas até os industriais de Bento são muito mais ligados aos padres, à Igreja, do que em Caxias. Isso está relacionado ao tamanho, um pouco menor, e porque, talvez, em Bento a presença de padres que souberam atrair tenha marcado mais. Aqui em Caxias, sem medo de ofender aos padres diocesanos, a Imaculada Conceição, dos capuchinhos, é uma força muito importante para atrair gente, para conquistar, para participar.



CR - Considerando toda área, aonde a participação é maior?

Dom Alessandro - Não sei se é porque a presença é maior quando o bispo está presente, mas a impressão é de que nessas comunidades, em especial do interior, estão participando intensamente. Essas comunidades mantêm valores. Acho que o interior é ainda muito bom.


CR - Sua grande preocupação sempre foi o migrante. Que projetos o senhor tem em mente para favorecer, acolher melhor essas pessoas?

Dom Alessandro - Como scalabriniano, carlista, trabalhei muito com migrantes. Meu trabalho foi mais na formação de novos padres, mas sempre vivi o clima dos migrantes - atuando no Paraguai, em Porto Alegre e agora. Chegando aqui, achei que pudesse me dedicar melhor ao migrante, mas não está sendo possível. A estrutura da diocese é muito pesada, com muitas pastorais, muitas reuniões. A gente fica presa a essa estrutura, mas irmãs e padres sabem do meu apoio à Pastoral da Acolhida.

CR - Que outra pastoral terá atenção especial?

Dom Alessandro - A da juventude. É um grande desafio. Em vista também da Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, em 2013. Eu vejo os movimentos de jovens (Emaús, RCC, Eja, Cenáculo), os grupos das paróquias, a pastoral juvenil... Poderia existir a Pastoral da Juventude Agrária... Outro desafio é a universidade, onde não estamos presentes diretamente. Uma pastoral universitária seria interessante.


O restante da entrevista está em http://www.editorasaomiguel.com.br/correio/edicoes/frame.php?edicao=275certo e agora volta novamente a ideia. Esses devemos dar mais atenção.


Dom Alessandro Ruffinoni é o quarto bispo da diocese de Caxias do Sul, criada no dia 8 de setembro de 1934, pela Bula “Quae Spirituali Christifidelium”, do Papa Pio XI. O primeiro bispo foi dom José Barea (1931-1951); o segundo, dom Benedito Zorzi (1952-1983) e o terceiro, dom Paulo Moretto (1983-2011).


A diocese abrange uma área de 11,9 mil quilômetros quadrados, formada por 29 municípios. Atualmente, são 71 paróquias e quase mil comunidades-igreja. Atuam na diocese cerca de 200 sacerdotes, metade do clero diocesano e outra metade formada por religiosos de oito diferentes ordens/congregações. Também atuam na diocese duas congregações de irmãos, com cerca de 60 religiosos, e 21 congregações femininas, com 450 religiosas.

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