«Em primeiro lugar, que é isso a que se chamam férias? Eu defini-las-ia assim: o tempo de interrupção do trabalho habitual, escolar, profissional, doméstico.
Daí que pareça que se os estudantes e os homens têm geralmente férias, nem sempre se passa o mesmo com as mães de família, quando elas têm tanta necessidade — por vezes mais — como os outros membros da família: observação feita de passagem a pensar nos maridos.
No regresso das férias, verifico muitas vezes nos pais aquilo que os professores verificam nos estudantes: uma baixa na qualidade espiritual (aqui não entendo "espiritual" no sentido estrito de vida religiosa).
As energias estão frouxas. Um aumento de vitalidade física terá como preço necessário uma diminuição de vitalidade espiritual? Isso seria uma grande decepção.
Mas nada está menos provado. De onde vem, então, essa diminuição? Será que se abandona, por querer ou não, os exercícios religiosos habituais? Talvez, não necessariamente.
Não está aí, parece-me, a primeira razão do enfraquecimento. Ela é de ordem interior: em férias dão-se férias ao amor, toma-se como regra de vida: que é que me agrada?
Jogos, sono, passeios, leitura, tudo é comandado por essa lei soberana. Entendei- me bem: não é repousar, descontrair-se, fazer desporto que eu acho repreensível, é o móbil: porque me agrada.
Daí a perpétua atenção a si próprio, e, logo, a desatenção aos outros; daí a suas próprias preferências em detrimento das preferências dos outros.
Enquanto ao longo de todo o ano, em que não se pode fazer o que agrada, as pessoas se esforçam por fazer a vontade de Deus As vossas férias serão um tempo forte do vosso ano, porque fareis delas um tempo para amar. — se não sempre vista como vontade de Deus, pelo menos sob o aspecto de dever — chegadas as férias, muda-se radicalmente de orientação.
Como se, para descansar de ter amado e servido Deus e os outros durante onze meses, se pudesse finalmente amar-se e servir-se a si próprio. Dá-se férias ao amor, e o egoísmo garante essa pausa.
Aí é que está o erro. Não há férias para o amor. Não cessais de respirar durante as férias, pois não? Então, não cessai de amar; o amor é a respiração da alma.
Tendes razão em interromper as vossas tarefas habituais, mas fazei-o porque essa é uma vontade de Deus e, na medida em que o é, por amor a Ele.
Que o amor se mantenha desperto, alerta, vigilante, solícito. Que o seja ainda mais do que é costume. Respirai a plenos pulmões, amai de todo o coração!
A alma, tal como o corpo, tem necessidade de se refazer, de se renovar; ora é amar que recria a alma. E as férias são — deveriam ser — precisamente um tempo em que é mais fácil amar, amar Deus e amar os outros. Mais fácil amar Deus, porque a criação conta a glória de Deus.
Mais fácil amar os outros, porque se deixou a vida ofegante e, sem pressas, se pode, juntos, descobrir, maravilhar-se, ler, falar longamente…
Tempo em que é mais fácil amar; é preciso, pois, exercitar-se a amar mais, a amar melhor.
Então as férias correspondem à sua razão de ser: são uma recriação.
Recriam cada pessoa. E recriam os laços entre a alma e Deus, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Permitem criar novos laços com os habitantes da aldeia, com os pais e os amigos reencontrados…
De regresso a casa, pode retomar-se o trabalho: a alma está mais forte, a vitalidade aumentou.
Recriam cada pessoa. E recriam os laços entre a alma e Deus, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Permitem criar novos laços com os habitantes da aldeia, com os pais e os amigos reencontrados…
De regresso a casa, pode retomar-se o trabalho: a alma está mais forte, a vitalidade aumentou.
As vossas férias serão um tempo forte do vosso ano, porque fareis delas um tempo para amar».
FÉRIAS:TEMPO FORTE OU TEMPO FRACO?(Carta mensal, Julho 1955)
Henri Caffarel
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