“Sem dúvida o Padre Caffarel não
é o único padre a ter fundado seu
apostolado em uma vida sólida de
oração. Mas raros são aqueles que,
como ele, tanto trabalharam para
compartilhar esse tesouro de suas vidas.
Não somente ele falava a respeito,
mas ele permitiu a uma multidão a
possibilidade de basear sua vida cristã
sobre a rocha da oração interior. ”
Foi com estas palavras que o Padre
Armand Gautier1
abriu sua palestra
sobre o Padre Caffarel, no Colóquio
promovido em Paris em dezembro de
2010 pela Associação dos Amigos do
Padre Caffarel. Nas Equipes de Nossa
Senhora, temos a oportunidade de
vivenciar este aspecto das orientações
de nosso fundador. No dia 5 de maio
de 1970, ao introduzir o PCE (naquele
tempo, “a obrigação”) da meditação diária, ele diz:
“Para encontrar a Deus é preciso,
sem dúvida, primeiramente ouvi-lo;
mas é preciso também responde-lhe,
abrindo e abandonando à sua
Palavra as profundezes de nosso
ser. Esta escuta e esta resposta exigem
esta forma de oração chamada
“oração mental”. Onde falta a oração, tudo morre; onde há oração,
tudo renasce, tudo amadurece.
É
preciso reconhece-lo, se na reunião
de equipe a oração tem o lugar de
honra, não ocorre o mesmo na vida
pessoal da maioria dos membros
do Movimento. Longe disso! Ora,
em vão pretenderemos tornar-nos
O Padre Caffarel e a Oração
testemunhas do Deus vivo, se não
estivermos decididos a nos tornar
homens e mulheres de oração.”
E acrescenta:
“Só se pode dar testemunho do
que se conhece. Só as pessoas que
oram – quer sejam sábios ou sem
muita cultura – não decepcionam
quando falam de Deus. E só quem
ora pode exclamar um dia, como
Jó, dirigindo-se a Deus: ‘Até agora,
só te conhecia por ouvir dizer; agora
meus olhos te viram’“ (Jó 42, 5).3
Para definir melhor a oração,
Caffarel diz: “Orar é expor sua pobreza
aos olhos de Deus” (Cadernos sobre
a Oração – CO 15).
Mas o que são,
na visão do Padre Caffarel, um rico e
um pobre? “Um rico é um senhor
que pode, que tem e que é. O pobre é
aquele que humildemente procura
Deus, recorre a ele, o teme e o serve”.
O pobre é uma pessoa que tem uma
necessidade vital de Deus para ama-
-Lo. “Encontrar Deus é procurá-lo sem
cessar.” Significa ser, diz o padre, “um
verdadeiro mendigo de ágape.4
Sustentado
por uma fé e uma esperança
indefectíveis, você estará suplicando o
Pai de lhe dar o ágape. “ (CO 74).
Na verdade, temos de pedir a
Deus o amor com o qual o amaremos:
“Um santo é sempre um mendigo
na porta de Deus. [...] Ele fica
pedindo a Deus os bens espirituais
de que mais carece: a inteligência e o
amor da Cruz, o crescimento das virtudes teologais da fé, da esperança e
do amor, a humildade e o arrependimento.”
(CO 49 e 29)
A paciência também faz parte
deste espírito de pobreza. É preciso
aceitar o tempo de Deus que muitas
vezes não é o nosso. Segundo o Padre
Caffarel, essa paciência é a medida
do amor e ele cita um poeta lituano:
“Uma passada igual e segura,
assim é a velocidade do amor”.
A oração do pobre é, finalmente,
a oração do pecador, daquele que
não traz nas mãos boas ações que
sejam capazes de salvá-lo de seu mal.
Ao contrário do fariseu do templo,
que se santifica a si mesmo por meio
de seus esforços e de suas façanhas
morais (Lc 18, 9-14). Aí está o grande
mal: a autojustificação, diz o Padre
Caffarel. É por isso que o publicano,
que se reconhece pecador, sai do templo
purificado e o outro não.
Ao comentar
uma outra parábola, a do “filho
pródigo” (Lc 15), ele conclui: “Ao
se aproximar, o filho está impuro, é o
perdão que o purifica e transforma”.
E mais: “O amor com o qual Deus nos
ama não é fundado na nossa virtude,
mas jorra, espontaneamente, de seu
coração”. Logo:
“O pecado reconhecido, confessado,
rejeitado não é mais o pecado,
mas somente a ‘miséria’ apelando
para a mansa misericórdia do Pai.
Em um filho de Deus, não é o fundo
de seu ser que é contaminado
pelo pecado, mas somente aquelas
regiões escuras nele que ainda não
foram evangelizadas.
Não esqueçam nunca que o fundo do ser de
um cristão, desde seu batismo, é
uma zona luminosa, radiosa, infinitamente
pura, graças à presença da
Trindade santa nele”. (CO 54)
Pode parecer uma contradição,
mas um coração de pobre é um coração
disponível para ser ofertado.
Como ele não possui nada, ele pode
ser inteiramente o que ele é e isso
torna possível sua oferenda de si mesmo.
Ora, segundo a fórmula de Padre
Caffarel “fazer a oração interior é, antes
de tudo, oferecer-se a Deus. ”Essa
oferenda de si deve tornar-se uma
disposição fundamental e permanente
de nosso ser, pois “doar-se significa
não cessar de se doar, permanecer à
disposição, em um ato de dom de si”:
“Só a oração interior encaminha para
o dom permanente de si mesmo a
Deus, só ela renova e atualiza a força
desse dom”.
Por quê? Porque a oração é comunhão na oferenda eterna
do Filho ao Pai. Assim, essa oração é
uma ação de graças, celebração do
ágape, prolongamento do ato eucarístico
vivenciado na liturgia.
Será que nossas orações têm esse
caráter de doação, de oferenda a
Deus? Será que elas nos dão a “alegria
do Evangelho”? Será que nas
nossas orações aceitamos ser o “filho
pródigo” que volta pobre para se
oferecer ao pai e mendigar seu amor?
Ou será, como diz Padre Caffarel, que
a oração só tem o lugar de honra nas
reuniões da equipe?
Hélène e Peter
Eq.05A - N. S. da Santa Cruz
São Paulo-SP
Monique e Gérard
Eq.01A - N .S. do Sim
São Paulo-SP
M. Regina e Carlos Eduardo
Eq.01A - N. S. do Rosário
Piracicaba-SP
Cidinha e Igar
Eq.01B - N. S. Aparecida
Jundiaí-SP
extraído da carta mensal CM 499
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