quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os perigos do matrimônio. padre Henri Caffarel



Amigos mais um breve e rico texto do padre caffarel. Clique no título e abra o texto completo!


Texto fundamental do Padre Caffarel (de 1958), onde apresenta um novo conceito de espiritualidade (conjugal) e revela as graças e as exigências do Sacramento do Matrimónio, essencial para a compreensão do seu pensamento sobre este Sacramento.




OS PERIGOS DO MATRIMÓNIO
O matrimónio oferece pois ajudas inestimáveis para o caminho para a santidade, mas
incontestavelmente comporta perigos, os mesmos dos quais se resguardam os religiosos
pelos três votos: perigos dos bens materiais, pelo voto de pobreza; dos amores humanos,
pelo voto de castidade; da fantasia e da independência, pelo voto de obediência. Os nossos
cristão casados não têm estes três votos, e com razão! É que seria enganar-se
estranhamente convidá-los a assemelharem-se o mais possível com os religiosos. Quem não
o vê? Seria barrar-lhes o caminho para a santidade. Isso seria votá-los a um perpétuo
complexo de inferioridade. Como poderiam assemelhar-se aos religiosos que pelos votos se
despojam do dinheiro, da vida sexual, da independência, enquanto que a sua vida quotidiana,
dos casados, os conduz sem cessar a estas realidades? Não é por conseguinte renunciando
a estas realidades mas em se esforçarem por vivê-las cristãmente, que eles farão
resplandecer a Redenção de Cristo neste triplo domínio. Mais precisamente, o uso cristão dos
bens deste mundo oferece sérias dificuldades. Falemos um pouco delas.
Os bens materiais
Primeiro os bens materiais. A preocupação pelo pão de cada dia é em geral uma obsessão do
pai de família. E quando ele trabalha dez horas por dia, às quais se podem acrescentar duas
horas de trajecto, ida e volta, não lhe resta muito tempo para os exercícios religiosos. A
preocupação e a procura dos bens materiais suprimem a liberdade de tempo, que poderia ser
infinitamente precioso para uma vida mais humana e mais cristã.
É não apenas o tempo, mas a liberdade de espírito que é devorada pelas tarefas
profissionais, por todas as exigências desta vida de trabalho, tanto o trabalho fora das tarefas
do casal como as actividades domésticas da mãe de família. E estas exigências impõem-se a
todos.




Além disso, quando chegamos a um certo conforto, os bens materiais dispensam o esforço e
uma certa austeridade de vida, e aí temos outro perigo, não menos grave. É sobretudo uma
coisa da qual a riqueza afasta: é a humilhação. Um inspector das finanças, homem pouco
habituado à miséria, morava em Paris durante a “ocupação”; tinha muitos filhos; como todos
os outros parisienses, tinha de ter muita habilidade (c) para se abastecer dos alimentos
necessários; saía aos Domingos, de bicicleta, para os campos circundantes; e apesar de
inspector das finanças que era, quando entrava na quinta, o cão atirava-se aos seus pés; e
quando batia à porta da casa da quinta, era despachado por um empregado doméstico que
não se deixava nada impressionar pelo Senhor Inspector das Finanças. “Nunca me tinha dado
conta, disse-me ele um dia, a que ponto o nosso dinheiro, a nossa situação social, nos põe ao
abrigo da humilhação.»
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N.T. (c) No original «il lui fallait user de ruses de Sioux»
Os bens materiais não dispensam apenas da humilhação; dispensam também do abandono a
Deus. Pierre Dupouey escrevia à sua mulher, algum tempo antes de morrer:


«Se vier a
desaparecer, não te preocupe demais o amanhã; não esqueças que um pouco de incerteza
do futuro é o melhor aguilhão da confiança, do abandono a Deus. O grande mal dos ricos, é
que o seu ouro os põe ao abrigo da Providência, das suas maravilhosas, ternas e paternais
delicadezas; eles programam toda a sua vida no seu cérebro e não têm, como nós, uma parte
ligada a Deus.» Sim, os pobres têm uma parte ligada a Deus, e eis porque toda a Bíblia canta
a glória dos «anavim» (d), porque Cristo disse: «Felizes os pobres».


os pobres têm uma parte ligada a Deus, e eis porque toda a Bíblia canta
a glória dos «anavim» (d), porque Cristo disse: «Felizes os pobres».
É preciso por conseguinte mostrar às pessoas casadas o desfile de todas estas dificuldades.
Convidá-las a poupar tempo, sabendo de resto que não lhes é fácil; exortar ao espírito de
pobreza, que consiste em usar cristãmente os bens materiais - e é às vezes mais difícil que
despojar-se de todos os bens; ensiná-los também a passar à prática este espírito de pobreza,
que não deve permanecer apenas um espírito. Actualmente, facto característico, cristãos
laicos têm esta inquietação da pobreza evangélica. Por exemplo, este casal provido de uma
boa situação e de numerosos filhos. Frequentemente me perguntavam: «Temos razão em
manter a nossa situação? Não deveríamos ir viver pobres entre os pobres?» Mas isso
colocava grandes problemas: educação dos filhos, família… Procuravam e não encontrando,
eram infelizes. Ora um dia, disseram-me o seguinte: «Não podemos deixar de ter um salão,
uma sala de jantar para receber convenientemente os nossos convidados, mas oferecemonos,
no nosso casamento, um quarto extremamente luxuoso; pois bem, decidimos, se não
desaprovar, vender esses móveis. Procuraremos uns mais modestos, e com o valor da venda,
poderemos procurar para duas famílias alojadas num só quarto, um alojamento mais
conforme com as suas necessidades.»



fonte
POR UMA ESPIRITUALIDADE
DO CRISTÃO CASADO
PADRE HENRI CAFFAREL
(L’Anneau d’Or, Nº 84, 1958)

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