sexta-feira, 9 de abril de 2010

Padre Caffarel e a lenda hindu




Disse no início que o Padre Caffarel devia parecer banal... mas havia o seu olhar. Acrescentemos também a sua presença. Uma presença habitada pela oração, pelo silêncio, por Deus. Emanava dele uma força. Ele é capaz de impor a três mil pessoas o recolhimento absoluto durante meia hora. Quando ele fala, todos escutam. Mas há mais. É uma lenda hindu de que ele gostava que o sugere. Todos conhecem o profundo interesse que o Padre Caffarel tinha pelas outras tradições religiosas, muçulmanas, hindus, numa época em que toda uma juventude europeia e norte-americana partia para a Índia para lá fazer uma experiência religiosa. As suas leituras sobre estes assuntos são inúmeras, e ele refere-as em alguns dos seus livros. Fundou Troussures como um “Ashram cristão”, um lugar de oração, não um centro de ensino ou de retiro como os “Foyers de charité” ... mas uma casa de oração, uma casa só para Deus.


Voltemos à lenda hindu. Um santo homem viveu muito tempo próximo de uma aldeia, e as pessoas alimentavam-no. No entanto, havia quem se admirasse por ele ser pouco produtivo: o santo homem não curava ninguém. Um dia, morreu. Eis a narração: “Seis semanas mais tarde, houve um crime horrível na aldeia. A população ficou perturbada de desgosto e de medo. Os anciãos começaram a jejuar e a orar. De repente, um deles exclamou: ‘Descobri o segredo’. E, diante dos aldeãos reunidos, explicou: ‘É verdade que, enquanto viveu na gruta, o santo homem nunca levantou um dedo para nos ajudar […]. Mas a virtude gerava virtude, a vida produzia vida. Tudo corria bem entre nós. Enquanto o santo viveu entre nós, nenhum homem tirou a vida ao seu irmão. A pista não é clara? Ele nunca trabalhou para nós, mas a sua presença de leão afastava das nossas portas o lobo da infelicidade’” (Henri Caffarel, Na presença de Deus. Cem cartas sobre a oração. Lucerna, Estoril 2008, Carta 69, pp. 141-142).

Presença do Padre Caffarel... presença do leão que afasta o lobo! A sua presença, para além do caráter mais ou menos fácil em relação aos que o rodeavam, era uma presença de nobreza e de vida. Quantas pessoas se ligaram a ele sem se lhe terem submetido. Ele permitiu que toda a espiritualidade do matrimônio e da viuvez ganhasse força, e a muitos revelou a sua grandeza. A sua presença era uma presença não voltada sobre si mesma, mas uma presença orientada para Deus. Quanta gente não ficou fascinada pelo Padre Caffarel de joelhos, sozinho, na capela de Troussures! Ele era como que tomado pelo Espírito, atraído para o mistério de Deus, e arrastava os outros para essa luz. Se lermos em voz alta páginas suas, parece que o ouvimos e, tomados pela sua palavra, queremos saber o que se segue... depressa, cativados pelas suas histórias hindus ou por descrições tão próximas de nós, depressa nos esquecemos de quem fala e escutamos o Senhor a falar em nós. É assim que o Padre Caffarel pode parecer “escondido” como dizia no início. O apóstolo apaga-se sempre diante d’Aquele de quem dá testemunho. Permitam-me um conselho: não façam uma leitura demasiado rápida, irão mais fundo no mistério do Senhor.

fonte:A presença do Padre Caffarel

Padre Paul-Dominique Marcovits, o.p.- Postulador

Roma, 27 Janeiro 2009

2° ENCONTRO INTERNACIONAL DOS RESPONSÁVEIS REGIONAIS
Roma, 24-29 de Janeiro de 2009


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