"Eu quero 'uma cabana no céu' porque nesta terra tudo é provisório".
O portal cancaonova entrevistou o ex-diplomata libanês e missionário Fouad Anis El-Khoury, que lançou pela Editora Canção Nova o livro Uma cabana no céu. Dentre vários países, Fouad foi embaixador do Líbano no Brasil e a pedido da beata Madre Teresa de Calcutá usou de sua condição estratégica para levar a Palavra de Deus ao meio político diplomático.
No áudio abaixo você confere este depoimento na íntegra
cancaonova.com: Foad, na sua vida o missionário veio antes do diplomata ou diplomata veio antes do missionário? Como você conseguia conciliar estas duas funções aparentemente tão opostas?
Fouad: A verdade é que eu sempre quis ser um missionário, mas não consegui fazer isso e acabei entrando no corpo diplomático. Eu me encontrei com Madre Teresa na Argentina, depois de tê-la conhecido na Índia, e disse a ela que queria abandonar a carreira diplomática e ser missionário da Caridade [Congregação das Missionárias da Caridade, fundada pela beata] lá na Índia. Ela me disse: “Não, fique onde você está, pois com este cargo pode ajudar mais a Deus; esta é a sua cruz e você deve carregá-la”. Faz 20 anos que estou nesta carreira e eu quis sempre conciliar a vida de missionário e de diplomata. É muito difícil, no campo diplomático, falar de Deus e dos pobres, mas como sou um instrumento nas Mãos de Deus, Ele me deu sempre forças para fazer este trabalho. Eu sempre falava para estas pessoas da alta sociedade (empresários, políticos, etc., porque, neste ambiente, nós, no fundo, sentimos que temos uma vida muito superficial e vazia) que para termos a verdadeira felicidade temos de estar perto de Jesus e ajudar os pobres, pois uma vez que nós devolvemos um sorriso ao pobre, na verdade, estamos fazendo o bem a nós mesmos, como dizia São Francisco “é dando que se recebe”.
cancaonova.com: Quando você levava a Palavra de Deus para estas pessoas da alta sociedade, como era aceitação dessa sua missão? Elas aceitavam bem ou tinham muita resistência?
Fouad: Tinham, sim, resistência, porque o ser humano é bom, mas devemos saber como e quando tocá-lo. Claro que eu não ia, assim direto, falando para elas de Jesus, dos pobres, eu sabia como e quando falar e o fazia primeiro com as mulheres, porque elas são mais sensibilizadas para o trabalho social. Eu me encontrava com as esposas dos empresários e diplomatas e elas depois falavam com os seus maridos. A verdade é que eles não querem ser incomodados, pois, na vida que levam, se sentem cômodos e indiferentes a esses temas, mas quando viam um homem pecador, sim, como eu, mas no mesmo nível que eles (e eu lhes falava sobre todas essas coisas sociais) iam dormir incomodados e se sentiam envergonhados. Alguns se recusavam a me ouvir, mas outros, ainda que não gostassem de tocar e de falar nesses assuntos, depois cediam. É o caso de um cirurgião muito famoso que me chamou para um almoço com pessoas da alta sociedade e também para falar das obras sociais, então eu falei dos leprosos, dos catadores de lixo, das pessoas de rua que nós estávamos ajudando. No final, ele me abraçou e me disse: “Quando você começou a falar eu não gostei de você. Por que você veio aqui para me incomodar? Eu estava tranquilo aqui na minha casa...” e, no final, ele disse, “Na verdade, eu gostei muito de você e vou me comprometer a ajudar os pobres”. As reações são as mais diversas, pois existem pessoas que querem ajudar e aquelas que, no fundo, não querem sair da sua vida cômoda, e preferem ficar nos seus palácios, tomando os coquetéis, não querem se comprometer. Deus me usava para chegar a essas pessoas para que, quem sabe, elas pudessem se comprometer no serviço aos mais necessitados.
"Madre Teresa foi um presente de Deus para a humanidade"
cancaonova.com: Você citou, no início da entrevista, o seu encontro com Madre Teresa. Como foi esse acontecimento e o que ela lhe disse de mais importante para a sua missão?
Fouad: A grande Indira Gandhi, da Índia, disse que “todos nós nos sentimos muito envergonhados diante de Madre Teresa”. O saudoso Papa João Paulo II disse que “Madre Teresa foi um presente de Deus para a humanidade”, e eu digo modestamente que ela foi um presente na minha vida. Na verdade, o encontro com ela mudou a minha vida. Eu vi em Madre Teresa uma mulher muito modesta, simples, não passava de 1,50m, não andava de Mercedes para trabalhar com os pobres, ela e as irmãs da Caridade viviam como os pobres, e até hoje estas vivem como os pobres, ou seja, não só ajudam os pobres, mas vivem como eles. Madre Teresa não trabalhava com o conceito de que "os pobres são uma coisa e eu sou outra", não, ela enviava as suas missionárias às ruas para pegar os moribundos e trazê-los para casa, para terem uma morte digna. Uma vez, estando lá, ela me chamou e me mostrou um moribundo e disse: “Vai lá e dá amor àquele moribundo porque ele está morrendo, tem apenas uma hora para viver”. Então, eu fui lá e cuidei daquele moribundo, cantei para ele e antes que ele morresse eu vi duas lágrimas caírem de seus olhos. Por isso, essa forma de amar de Madre Teresa mudou a minha vida. Ela mesma me contou uma história de uma pessoa que estava morrendo na rua e que nunca ouviu a palavra “banho”, e as irmãs, quando o levaram para casa só conseguiram dar banho nele porque Madre Teresa disse que aquele era o corpo de Cristo. Elas rezaram e deram banho naquele homem, mas antes de morrer, ele disse: “Madre, obrigado porque eu vivi na rua como um cachorro e, agora, graças a vocês, estou morrendo como um ser humano”.
cancaonova.com: O Senhor lançou pela Editora Canção Nova o livro "Uma cabana no céu". Por que esse título?
Fouad: Porque eu não quero tesouros neste mundo. Quando eu era cônsul-geral no Rio de Janeiro, eu tinha tudo o que um ser humano podia sonhar em ter, carro luxuosos, palácios, muito dinheiro no banco e, quando fazia discursos para 2 mil pessoas, eu era aplaudido e pensava que isso era felicidade. Mas quando eu pegava o Evangelho, ou algum livro da vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Teresa D'Ávila, Charles de Foucault, Santa Catarina de Sena, Santo Agostinho e ia a uma montanha para ler estes livros, eu sentia lá dentro tocar os sinos do meu coração. Ao abraçar um leproso, um pobre, alguém abandonado, comecei a perceber que esta era a verdadeira felicidade, a partir de então, não quis mais acumular terrenos, nem propriedades, nem carros, nem cargos. Para que guardar tudo isso se tudo nesta vida é provisório? Por isso eu quero "uma cabana no céu", eu tenho o direito de sonhar com o céu, mesmo sendo muito fraco, porque sou um homem muito limitado e pecador, mas muitos santos eram pecadores e fracos e lutaram ao longo de suas vidas. Eu também quero viver assim, eu quero "uma cabana no céu" mesmo ainda estando nesta terra, porque a felicidade plena é estar com Jesus e com a Virgem Maria.
cancaonova.com: Em seu livro o senhor fala muito sobre a Santíssima Virgem. Que experiências fez com a Virgem Maria que o levaram a divulgar a devoção mariana pelo mundo?
Fouad: No meu País, o Líbano, a Virgem Maria é muito venerada pelos cristãos e pelos muçulmanos, porque no Corão [ou Alcorão, livro sagrado do islamismo] se fala de Nossa Senhora e eles a veneram muito. Em minha rua, que tem 200 metros, existem sete imagens da Virgem Maria de diferentes santuários. Por isso, você percebe como é a devoção a Maria no Líbano. O povo libanês é um povo sofrido pelas guerras, então, quando olhamos para o céu, nós vemos a Mãe abrindo os braços para nós. Quando temos um problema, nós recorremos à Mãe, porque a mãe é a imagem do carinho. Nós temos, por exemplo, em Harissa no Líbano, a imagem de Nossa Senhora do Líbano, que tem as mãos estendidas para todos os filhos, por essa razão, desde criança eu comecei a ter muito amor pela Virgem Maria e nas minhas viagens missionárias eu comecei a visitar os lugares onde ela apareceu, como Lourdes, Fátima, Medjugorje. Em Medjugorje, em particular, você se sente mais próximo do céu. Eu vi pessoas sendo transformadas lá, porque você sente a presença da Virgem Maria, você passa a ter uma relação mais íntima com ela; e o mais importante é que ela quer nos levar a Jesus. Nós sabemos que Jesus é tudo e Maria nos apresenta este tudo.
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