quinta-feira, 21 de outubro de 2010

CASAL CRISTÃO: DOM DE DEUS PARA OS FILHOS

Lembrando do Encontro nacional das ENS na querida Florianópolis, transcrevo parte da palestra de Silvia e Chico. Na correria da conclusão do curso de agronomia, respiro alguns momentos e leio esta bela reflexão. Deus os abençoe e que o padre Caffarel interceda por nós todos, nos fortalecendo na missão de anunciadores da boa nova!
alexandre

OBS: clique no título e leia na integra o artigo.

Mercedes e Álvaro Gomes Ferrer, ex-casal responsável da ERI, numa palestra sobre os meios que o Movimento disponibiliza em favor dos casais, especialmente na sua relação com os filhos, elencaram algumas pistas que gostaríamos de compartilhar com vocês. São apenas pistas que não esgotam a matéria, de maneira que podemos permanecer inteiramente abertos à nossa própria criatividade. Eis alguns pontos para um esboço do nosso projeto de família.



a) ENSINAR A OLHAR: Talvez haja aqui pessoas que entendam da arte da pintura, mas provavelmente a maioria, como nós, limite-se a gostar ou desgostar de um quadro. Quando porém nos deixamos conduzir por um especialista, descobriremos o sentido das sombras que fazem realçar a luz. Percebem-se os detalhes, as expressões, os matizes, os contrastes que nos permitem ver muito mais do que está ao alcance dos olhos, e nos fazem penetrar na alma do artista.

Também podemos aprender e ensinar a olhar cada pessoa com atenção, com ternura e compaixão. Se assim a olharmos, poderemos percebê-la como pessoa única, digna de um amor exclusivo. É assim que Deus nos olha: olhar amoroso, criativo, cheio de misericórdia.



b) ENSINAR A ESCUTAR

Não é fácil escutar. Não se trata de uma atitude passiva: fechar a boca e pronto. É uma atitude ativa, talvez até mais exigente que o próprio falar. Implica descentralizar o foco de si para o outro. Quem não esquece de si mesmo não terá tempo para ouvir.

Não se trata, tampouco, de apenas prestar atenção para poder entender o pensamento do outro, mas também é escutar com todo o corpo, com os olhos, com o sorriso, com o coração, e tudo o que for capaz de mostrar acolhimento.



c) ENSINAR A PENSAR

Que nossos filhos reconheçam que não fazemos o papel de “animais arrastados pelo tropel da boiada”. Que vejam que somos capazes de pensar, de ter senso crítico. Que não nos deixamos levar pelas primeiras notícias dos jornais ou da TV, geralmente manipuladas e tendenciosas. Já dizia o filósofo Descartes: “penso, logo existo”. Quem pensa e reflete exercita uma das principais características do ser humano. Que nossos filhos possam beneficiar-se da retidão no pensar que aprimoramos através do estudo e discussão do tema de nossas reuniões mensais, que nos vejam gastando tempo com boas leituras, que nos sintam interessados no conhecimento da fé. Que não nos vejam envergonhados por mudar de idéias porque estamos sempre abertos a aprender algo novo.



d) ENSINAR A ENTUSIASMAR-SE

O entusiasmo é essa atitude interior que faz a vida ser bela. Não se trata de atitude de quem não tem problemas, mas da capacidade de prestar atenção ao raio de luz em vez de perder tempo com a escuridão que tenta esconder essa luz. Entusiasmar-se é transformar qualquer coisa comum em algo interessante, é saber alegrar-se com o que é simples.

Num antigo editorial escrito pelo Padre Bernard Olivier, que foi conselheiro espiritual da ERI ele dizia: “A felicidade é para aqueles que são felizes”. Pensem se isso não é verdade! É que há pessoas que por mais coisas boas que lhes estejam ocorrendo, estão sempre amarguradas, enquanto outras transformam em bem tudo o que lhes ocorre de ruim.



e) ENSINAR A DIALOGAR

O Pe. Caffarel, no livro a Missão do Casal Cristão, dizia que o amor humano que os pais têm para com os filhos precisa evoluir para o amor caridade, pois o amor de um pai ou de uma mãe, por estar tão enraizado no humano, está longe de ser um amor caridade. E diz mais: se não aprendermos a usá-la com os filhos quando pequenos dificilmente chegaremos à segunda etapa, onde a caridade será ainda mais necessária, junto aos filhos adolescentes ou adultos.

E para se instalar essa caridade, continua o Pe. Caffarel “se exige que, já no plano humano, se tenha estabelecido um verdadeiro diálogo, em que cada um seja acolhedor para com o outro”.

E prosseguindo em seus comentários: “quantos filhos, quantos homens e mulheres, entre vós que me escutais, poderiam subscrever esta página de um grande escritor francês ao evocar a memória do pai: “Que conheci eu dele? Uma função, a função paterna. Um governo de direito divino, que exerceu sobre mim, sobre nós, trinta anos seguidos, com toda a consciência. Mas ele, o ser que ele era quando se encontrava só em presença de si mesmo, quem era afinal? Nada sei sobre isso. Nunca exprimiu perante mim um pensamento, um sentimento onde pudesse ver qualquer coisa de íntimo. E de mim, que sabia ele?”

Diálogo é lugar de encontro, uma via de mão dupla para conhecer e dar-se a conhecer, onde devem cair as máscaras, revelar-se o mais profundo do nosso ser, enfim, abrir-se para criar laços fortes de confiança e cumplicidade.



f) ENSINAR A AMAR

No Natal de 1945, Pe. Caffarel publicou um editorial chamado Deus, o primeiro a ser amado. É esta a grande orientação que o Movimento proclama, incitando os casais para que busquem fazer com que o amor a Deus ocupe o lugar prioritário, seja ardentemente procurado. A essência da perfeição reside no amor de Deus.

O casal cristão vive essencialmente da dinâmica de dois amores, que são como lados de uma mesma moeda: amor ao cônjuge, e amor a Deus.

Este é um aprendizado para toda a vida, para o qual não há férias, recessos ou aposentadoria.

Ensinar que amar a Deus passa necessariamente pelo caminho da ascese, do exercício e do esforço de cada dia. Assim como o amor a Deus, também, o amor humano não evolui se não se incluir nele a abnegação, esta espécie de despojamento de si mesmo, de fazer renúncias para o bem do outro. São palavras que soam tão estranhas aos jovens de nosso tempo, mas que eles podem assimilar através do exemplo contagiante de nossa vida feliz como casal.

Portanto, não basta ser feliz um pouco, nem ser feliz por pouco tempo. Trata-se da arte de conservar o frescor primaveril dos primeiros encontros, dos primeiros olhares, mesmo quando com o passar dos anos, chegam os netos e roubam boa parte do nosso tempo e nossa ternura.

Silvia e Chico
II Encontro Nacional ENS
julho 2009

Nenhum comentário: