sexta-feira, 18 de maio de 2012

"O futuro da Igreja e da Humanidade passa pela família"

  
* espiritualidade da partilha (Partilha). "Se tu e eu trocamos um dólar, ficamos sempre com um dólar cada um. Se, pelo contrário, trocamos entre nós ideias, tu ficarás com duas e eu também" (Don Zadra).

Trocar entre si uma moeda ou um objecto é, na verdade, um acto que deixa tudo como estava e, no fim de contas, é sinal de egoísmo.

Trocar entre si uma ideia ou o amor é, pelo contrário, um enriquecimento: a troca, de facto, permite que conserves a tua ideia ou o teu amor, mas, ao mesmo tempo, recebes também algo do outro e, assim, ambos ficamos mais ricos. Quem vive apenas para as trocas comerciais nunca poderá entender o paradoxo que Jesus propôs numa frase citada por São Paulo e desconhecida dos Evangelhos: "Há mais alegria em dar do que em receber" (Act 20,35).

Há pessoas, e, devemos acrescentar com tristeza, casais, famílias, comunidades... que têm uma vida cheia coisas mas vazia de serenidade e de paz, justamente porque a sua relação se baseia inteiramente no cálculo, sem entenderem que é a liberdade do diálogo ou da doação que torna plena a existência.

O confronto das ideias, o abraço no amor, a conversa inteligente, são os verdadeiros percursos para enriquecer a alma e saborear a beleza da vida. Talvez se deva redescobrir a linguagem dos sinais, que são mais intuitivos e mais comunicativos. A própria Igreja sente o desconforto de não saber comunicar com o mundo e com as novas culturas. Talvez sinta que a comunicação não é feita somente de palavras (dizer, anunciar...), mas de sentimentos (primeiro, é preciso amar o outro), de projectos (dar sinais através de algumas escolhas...).


Mas o que mais preocupa é que a incomunicabilidade corrói o casal e a família, que deveriam ser o lugar mais fértil e mais livre para a comunicação e o diálogo.

* espiritualidade da acção pastoral (Tema de Estudo). Os documentos do Magistério destes últimos trinta anos indicam-nos o caminho que conduz a valorização da família como recurso no projecto pastoral. Citamos entre tantos o documento Evangelização do Sacramento do Matrimónio, em que se afirma que: "os cônjuges pela força do seu ministério não são apenas o objecto da solicitude pastoral da Igreja, mas são também sujeito activo e responsável numa missão de salvação que se realiza com sua palavra, com as suas acções e com a sua vida" (CEI, CSM nº 59).

Diz o Concílio: "É um dever permanente da Igreja (...) perscrutar os sinais dos tempos à luz do Evangelho (...) e responder às constantes interrogações dos homens, no sentido da vida presente e futura e da relação entre ambas" (Gaudium et Spes, nº 4).

Uma das mais expressões mais fortes de Paulo VI, retomada muitas vezes por João Paulo II, é esta: "O futuro da Igreja e da Humanidade passa pela família". Acrescenta ainda João Paulo II: "Seguindo Cristo que veio ao mundo para servir" (Mt 20,28), a Igreja considera o serviço à família uma das suas tarefas essenciais. Neste sentido, tanto o homem como a família constituem "a via da Igreja" (Carta às Famílias, nº 2)

Se o futuro da humanidade passa pela Família, isso significa que o "Matrimónio e a Família - comentam os bispos - são um dos bens mais preciosos da humanidade, e irrenunciáveis são os valores da realidade matrimonial".

Os nossos temas de estudo não podem ser um exercício de debate intelectual; aí está em jogo não só o nosso crescimento pessoal mas também a missão ao serviço da Igreja.

O Casal é verdadeiramente "riqueza" se viver a sua identidade e a sua missão a favor de toda a comunidade cristã, naquilo que lhe é "próprio e original" (Familiaris Consortio, nº 50).

Segundo o desígnio divino, a família é constituída como "comunidade íntima de vida e de amor" (GS 48), que se realizará totalmente no Reino de Deus. Por outras palavras, a família tem a missão de guardar, revelar e comunicar o amor; qual reflexo vivo e participação real no amor de Deus pela humanidade e no amor de Cristo Senhor pela Igreja, sua esposa.

* espiritualidade eucarística e de perdão (Oração e Partilha) - Encontramo-nos nas nossas casas para recordar que Jesus comeu a Páscoa, celebrou a Última Ceia, instituiu o sacramento do Sacerdócio e o sacramento da Eucaristia e lavou os pés dos apóstolos numa casa, o Cenáculo.

Todos estes mistérios tiveram lugar na sala de jantar de uma casa...razão pela qual a casa, espaço da família, continua a ser o lugar altamente significativo para a construção do Reino de Deus.

Se a família é "pequena Igreja", "Igreja domestica", é-o a partir de como vivemos em casa a nossa realidade concreta de vida, iluminada pela oração que diariamente elevamos a Deus e pela liturgia ferial de comunhão que nos prepara e nos faz viver a grande liturgia comunitária dominical.

Isto diz-nos que a família não é um apêndice da Igreja que organiza e propõe, mas ela própria é estímulo propositivo porque faz esta experiência no seu interior. Espaço de relevo absoluto é a Eucaristia.

 
A Eucaristia é a nova e eterna Aliança! Mas, "Aliança" é também o matrimónio cristão. É precisamente a Aliança Eucarística "então" a fonte e o alimento desta aliança esponsal, isto é, desta comunhão partilha que se encontra no casal e na família. É o "sim de amor" de Jesus pela Igreja, o "sim" pronunciado na cruz, que faz da Igreja a "sua esposa" para sempre.

"Os dois serão uma só carne": isto é dito primeiramente de Cristo e da Igreja na cruz, isto é recordado e proposto em cada Eucaristia e é justamente tudo isto a substância e o fundamento do ser "um só coração e uma só alma" para os cônjuges cristãos.

A Eucaristia é fonte de vida porque é essencial e fundamentalmente o alimento de vida; disse Jesus: "Eu sou o pão da vida descido do céu, quem come deste pão viverá para sempre, e o pão que Eu dou é a minha carne para a vida do mundo... se não comerdes da carne do Filho do homem... não tereis a vida em vós". Alimentando-se desta carne, o casal pode ser, na sua verdade profunda, santuário da vida. A família existe e poderá viver somente para dar a vida. Assim foi sonhada por Deus, que é o Deus do amor e da vida.

Todo o amor não pode deixar de ser fecundo, porque ao amor é indispensável estender-se, conquistar, renovar. Por isso, os esposos cristãos, ao mesmo tempo que geram os filhos, expressão da sua fecundidade material, justamente em razão do alimento que recebem da Eucaristia, tornam-se geradores de uma humanidade renovada, de solidariedade, de alegria de viver.

A Eucaristia fonte de vida porque é memória do sacrifício da cruz, isto é, do amor, do dom total de si que Cristo faz à Igreja e à humanidade inteira. Ora, este amor e esta doação, que se encontram vivos e palpitantes na Eucaristia, tornam-se a única e grande lei da vida do casal e da família cristã. As relações interpessoais, dentro e fora da família, são inspiradas e sustentas pela lógica do amor e do dom.

É uma perene "escola de amor" que nos faz entender o gesto da cruz: "Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos" (Jo 15,13).

Cada casal, no seu caminho, elabora um projecto e realiza um missão abençoada e inspirada pelo próprio Jesus, que está vivo na sua comunhão ("O Reino de Deus está entre vós", Lc 17,21). Deus não une duas pessoas sem que esta sua obra produza bons frutos. Naturalmente, neste âmbito deve ser vivido com particular empenho o perdão recíproco e aos outros.

Cristo é a fonte onde devemos ir buscar a água para refrescar o nosso caminho de crentes. Várias vezes o dissemos no decorrer dos anos! Em Cristo se joga a nossa vida, não num ou noutro aspecto do método ou em algumas escolhas da nossa vida. É olhando-O e partindo d'Ele que se enfrentam as crises, aliás inevitáveis na vida.

A FAMÍLIA: ESCOLA DE AMOR


Editorial para a Carta - Março 2012
P. Angelo Epis CE ERI

Excerto da sua intervenção no Colégio de Bogotá 2011


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