Novos Contextos: Desafios à Paróquia
Dando
continuidade ao Estudo 104: Comunidade de Comunidades, uma Nova
Paróquia, esta ficha 54 aborda o seu Capitulo III – Novos Contextos:
Desafios à Paróquia. Ela reflete a urgência de renovação da paróquia,
decorrente das mudanças sociais que ocorrem no mundo e que repercutem
diretamente na vida eclesial, especialmente na forma de conduzir a sua
ação Evangelizadora. O Concílio Vaticano II propôs o ‘aggiornamento’ ou a
atualização da Igreja para que sua ação pastoral e evangelizadora fosse
eficaz. Especialmente a Constituição Pastoral Gaudium et Spes
destacou que a comunidade dos cristãos deveria assumir, como seus, os
sentimentos da humanidade (angustia, tristeza, alegria e esperança), e
afirmar que a alegria e a esperança nascem da fé no Cristo. Todas as
Conferências Episcopais Latino-Americanas assumiram tal propósito e,
especialmente, Aparecida indicou que o desafio de tornar a Igreja mais
missionária, depende intrinsecamente da renovação das estruturas
eclesiais. Por sua vez, a CNBB assumiu integralmente aquelas propostas e
as explicitou nas DGAE de 2011-15, da qual decorre o Estudo 104.
1. Desafios no âmbito da Pessoa
Um dos maiores desafios eclesiais, na
atualidade, é o individualismo, o qual atinge também as comunidades
cristãs. Grande é o número de católicos que nutrem uma concepção
espiritual individualista, subjetivista, intimista e vertical, que
dispensa a experiência comunitária, que é a base fundante da Igreja.
Este intimismo religioso desvincula a pessoa do grupo social, privando-a
do convívio com outras pessoas, o que por sua vez contribui para uma
cultura da solidão em que cada pessoa se basta ou, no máximo, busca os
que lhe são afins. Nesta concepção, o outro, enquanto diferente, de
outra cultura, é visto como concorrente e/ou um empecilho para o
sucesso/felicidade pessoal. Esta mentalidade individualista também
atinge a família, a primeira célula social e eclesial, que se vê
questionada na sua função de transmissão e manutenção dos valores
sociais. A busca pelos bens de consumo e pela suposta qualidade de vida
tem diminuído o número de filhos, especialmente nos casos de filhos
únicos, que ‘educados’ sozinhos e sem referência social podem se tornar
extremamente egoístas e individualistas. Cabe à Igreja recuperar a ideia
da comunidade como espaço de acolhida daqueles que se sentem jogados à
margem. Acolher a pessoa é o mandamento de Jesus.
2. Desafios no âmbito da comunidade
Os novos contextos sociais da
modernidade colocam os seguintes desafios à comunidade: a
territorialidade, as estruturas obsoletas na pastoral, o relativismo e o
fundamentalismo.
a) A nova territorialidade.
As grandes cidades, os diversos meios de comunicação e interesses
sociais fizeram surgir novas formas de articulação social. Também na
Igreja, a paróquia ou a comunidade sempre foram vistas como espaços
geográficos, onde cada pessoa se vinculava à comunidade ou paróquia do
seu bairro ou região. Com os novos contextos sociais, o espaço paroquial
deixou de ser a única possibilidade de pertença eclesial para dar lugar
a novas formas de grupos onde acontece a experiência do encontro com
Jesus, mediatizada pela comunidade eclesial na vivência fraterna.
Assim, se fala de uma nova definição de comunidade, que alguns chamam de
ambiental, onde se constrói novos vínculos afetivos e religiosos.
b) Estruturas obsoletas na pastoral.
A realidade urbana pede a revitalização e renovação das estruturas. O
anonimato imposto às pessoas nas grandes cidades exige da Igreja a
acolhida aos fiéis. A Igreja é a casa de Deus e do seu povo. Ela é lugar
de encontro dos irmãos, que assumem o cuidado dos menores e dos que
sofrem. O Papa Francisco insiste que a Igreja não é uma ONG ou um
organismo assistencial, mas um lugar de encontro dos que professam fé.
Os ministros, padres e os coordenadores das comunidades, não são
administradores de patrimônio e das finanças, mas animadores da vida
comunitária. Portanto, renovar as estruturas, implica em perceber que as
pessoas não buscam a Igreja apenas para os sacramentos e os serviços
pastorais. Elas são como ovelhas errantes que precisam ser cuidadas e
curadas. Suas almas estão machucadas, doentes, sozinhas e violentadas.
As reformas nas estruturas precisam atingir a vida da comunidade a ponto
de renová-la interiormente, e não apenas como se mudasse a cor das
paredes da Igreja.
c) Entre o relativismo e o fundamentalismo.
O terceiro desafio da comunidade está em duas posições antagônicas na
sociedade, as quais também se fazem presente na comunidade eclesial: o
relativismo e o fundamentalismo. Ambos derivam do individualismo, sendo
expressões do egoísmo. O primeiro esvazia todo absolutismo, mas, ao
mesmo tempo, torna tudo fluído e sem consistência, onde tudo pode, tudo é
certo, tudo é decidido pela consciência pessoal que se torna o único
critério de decisão. Na vida de comunidade, isto provoca o
desenraizamento e o fechamento em relação aos valores comunitários, à
doutrina e dogmas de fé. Inexiste o compromisso ético que deriva do
apelo do Evangelho. O segundo, absolutiza determinadas práticas e
posicionamentos em nome de uma pretensa fidelidade à religião, mas que
na verdade, são posições extremamente excludentes, pois não aceita quem
pensa diferente. Defendem-se modelos eclesiais como se fossem
ideologias, esquecendo-se de que a Igreja, sendo comunhão de diferentes,
deve ter como fundamento apenas o Evangelho de Jesus.
3. Desafios no âmbito da Sociedade.
O terceiro âmbito que exige a renovação da Igreja são os desafios
presentes na Sociedade. A Igreja é um organismo vivo da sociedade e seus
membros são chamados a dar as razões da fé (1Pe 3,15).
a) Sociedade pós-cristã.
Se os princípios modernos definiram a secularização dos Estados, também
é verdade que os cristãos não podem se omitir de participar da vida
pública. O Vaticano II definiu na LG, que o Povo de Deus tem a vocação
de defender a vida e a dignidade humana em função da fé em Jesus Cristo.
Dizer não ao individualismo, ao materialismo, ao consumismo da
sociedade é imperativo da fé, e as comunidades e paróquias devem
promover tais valores. Em todo ser humano há uma busca pela razão da
vida, e isto deve ser valorizado.
b) O pluralismo cultural.
A sociedade moderna enaltece as diferentes formas de se viver e pensar.
Mas a abertura ao pluralismo não pode ser identificada como indiferença
à diversidade. O indiferentismo, como fruto do individualismo, não pode
ter a última palavra. Diante desta realidade de anti-reino, a Igreja,
que deseja ser presença servidora e solidária, deve se renovar como
sinal de constante conversão pastoral ao Evangelho.
4. A Urgência da renovação paroquial. A
paróquia é uma realidade eclesial e a Conferência de Aparecida a vê
como uma importante célula eclesial. A renovação proposta deve ser vista
em função dos apelos do Evangelho de Jesus. Há desafios sociais que
pedem uma tomada de posição sociopolítica da comunidade dos cristãos. A
vida precisa ser defendida. As grandes cidades desafiam a Igreja,
principalmente nas periferias, os aglomerados urbanos exigem
criatividade missionária de ir ao encontro do povo que precisa ser
evangelizado. De outro lado, há anos, a Igreja identifica vários sinais
que revelam a necessidade da renovação: a diminuição de católicos, a
existência de muitas comunidades sem eucaristia, a redução de pessoas
que buscam os sacramentos, as poucas crismas e a falta de vocações para a
vida presbiteral e religiosa. Em muitas comunidades e paróquias parece
haver um esfriamento na fé, há uma crise do sentimento de pertença à
comunidade e no engajamento na paróquia.
Os novos contextos provocam a Igreja.
Identificam-se desafios externos e internos. De fora, os ventos são de
individualismo, relativismo, fundamentalismo, do pluralismo e das
mudanças familiares. De dentro, é desafiada a pôr em prática a
conversão pastoral, a ultrapassar a territorialidade e a romper as
estruturas obsoletas da evangelização, abandonando a mera pastoral de
manutenção e implantando uma pastoral realmente missionária. Este
capítulo propõe uma profunda reflexão por conta dos desafios deste mundo
em mudança, e de limitações internas e resistências a modelos de
paróquias, que já não são mais adequados para este tempo, por isso
oportunidade de conscientização, ação e transformação em vista de uma
renovação. Eis a razões pelas quais as estruturas eclesiais e,
especialmente, as paroquiais precisam ser renovadas.
Esta ficha foi publicada três dias depois da publicação oficial da Exortação Apostólica Evangelli Gaudium.
Trata-se de um belo texto que destaca a alegria como característica
fundamental da Evangelização. É um programa pastoral para a Igreja que
deseja ser presença de Cristo no mundo. Sugerimos a leitura,
especialmente o capitulo 1 – A Transformação Missionária da Igreja.
Faça o download do texto em PDF
Para Refletir:
1) Qual dos três âmbitos da Evangelização você julga mais desafiador e por quê?
2) Que mudanças você considera necessárias ou mais importantes para a renovação das paróquias?
3) Como viver a proposta cristã no âmbito pessoal, comunitário e social?
Orientações para a Interação:
a) Você poderá discutir este texto, presencialmente, com seus amigos na comunidade.
b) Você poderá enviar sua opinião usando a caixa de comentários logo abaixo deste texto.
c) Por fim, você poderá interagir na sala de aula virtual “Ambiente Virtual de Formação” da Arquidiocese.
Aguarde a publicação da próxima ficha:
11 dezembro – Estudo 104 – CNBB – “Comunidade de Comunidades: Uma nova
Paróquia” (IV) – Perspectivas Teológicas
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