
A reportagem foi publicada por Vatican Insider, 10-09-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
“Viestes de um irrepetível encontro com o Ressuscitado”, disse aos bispos em Roma nestes dias para um encontro promovido pela Congregação dos Bispos e a das Igrejas orientais. A sua presença é “um hálito a resguardar, um sopro que revoluciona a vida (a qual não será mais como antes), embora também serene e console como leve brisa, da qual não é possível apossar-se. Peço-vos que não domestiquem tal potência, mas deixem que ela envolva continuamente a vossa vida”.
A proclamação do Ressuscitado, disse o Papa, não é “óbvia nem fácil”: “O mundo está tão contente com seu presente, pelo menos na aparência, daquilo que está em condições de assegurar quanto lhe parece útil para sufocar a exigência daquilo que é definitivo. Os homens andam tão esquecidos da eternidade, enquanto, distraídos e absortos, administram o existente, deixando de lado quanto virá. Tantos se resignaram tacitamente ao costume de navegar à vista, ao ponto de remover a própria realidade do porto que os espera. Muitos se deixam raptar tão fortemente pelo cínico cálculo da própria sobrevivência, que até se tornaram indiferentes, e não raramente impermeáveis à própria possibilidade da vida que não morre”.
O Pontífice argentino fez referência aos “desafios dramáticos como a globalização, que aproxima o que está longe e, de outra parte, separa quem está próximo”, “ao fenômeno epocal das migrações que transtorna os nossos dias”, “ao ambiente natural, jardim que Deus deu como habitação ao ser humano e às outras criaturas e que está ameaçado pelo míope e por vezes predatório desfrutamento”, “à dignidade e ao futuro do trabalho humano, do qual estão privadas gerações inteiras, reduzidas a estatísticas”, “à desertificação das relações, à desresponsabilização difusa, ao desinteresse pelo amanhã, ao crescente e pavoroso fechamento”, “ao desnorteamento de tantos jovens e à solidão de não poucos anciãos”.

Quanto às “pessoas batizadas que no entanto não vivem as exigências do Batismo”, “alguns – sublinhou Bergoglio – se afastaram porque desiludidos pelas promessas da fé ou porque demasiado exigente pareceu o caminho para atingi-las. Não poucos saíram batendo a porta, lançando contra nós as nossas fraquezas e procurando, sem conseguir de todo, convencer-se que se tinham deixado enganar por esperanças no final desmentidas. Sede Bispos capazes de interceptar o seu caminho; fazei-vos também vós viandantes aparentemente perdidos, perguntando o que aconteceu na Jerusalém de sua vida e, discretamente, deixando que se desafogue o seu coração enregelado. Não vos escandalizeis com suas dores ou suas desilusões”.

Enfim, “procurai também quem não conhece Jesus ou sempre o recusou”, disse Francisco aos novos bispos. “Não é verdade que possamos prescindir destes irmãos distantes”, disse o Papa. “Não é permitido remover a inquietude pela sua sorte. Além disso, ocupar-nos do seu autêntico e definitivo bem poderia abrir uma brecha no murado perímetro com o qual ciosamente tutelam a própria autarquia. Vendo em nós o Senhor que os interpela, talvez tenham a coragem de responder ao convite divino. Caso isso ocorresse, as nossas comunidades serão enriquecidas com quanto eles têm a compartilhar e o nosso coração de Pastores se alegrará por ainda poder repetir: “Hoje a salvação entrou nesta casa”. Tal horizonte – concluiu o Papa – prevaleça no vosso olhar de Pastores no iminente Ano Jubilar da Misericórdia que nos preparamos a celebrar”.
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