quarta-feira, 4 de junho de 2008

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”. (1Jo 3,24a)

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”. (1Jo 3,24a)

junho de 2008



Quem ama gostaria de estar sempre com a pessoa amada. Esse também é o desejo de Deus, que é Amor. Criou-nos para que pudéssemos encontrá-lo e, sendo ele o único capaz de saciar o nosso coração, não teremos alegria plena enquanto não alcançarmos a íntima união com ele. Desceu do céu para estar conosco e para introduzir-nos na sua comunhão.
O apóstolo João, na sua carta, fala de “permanecer” um no outro, Deus em nós e nós em Deus, lembrando a exigência mais profunda manifestada por Jesus na sua última ceia. “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”, disse o Mestre, explicando com a alegoria da videira e dos seus ramos o quanto é forte e vital a ligação que nos une a ele (cf. Jo 15,1-5).
Mas, como alcançar a união com Deus?
João não hesita. Afirma que basta observar os mandamentos:

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”.

São muitos os mandamentos que devemos observar para que essa unidade seja alcançada?
Não, porque Jesus os sintetizou num só preceito. João recorda, imediatamente antes de citar a Palavra de Vida escolhida para este mês: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu” (1Jo 3,23).
Crer em Jesus e amar-nos como ele nos amou: eis o único mandamento.
Se a existência humana encontra a sua realização na presença de Deus entre nós, então existe apenas um modo para sermos pessoas plenamente realizadas: amar! João está tão convicto dessa realidade que repete sempre no decorrer de toda a carta: “Quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,16b); “Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós…” (1Jo 4,12).
A esse respeito a tradição conta que, quando alguém fazia perguntas a João, já bem idoso, sobre os ensinamentos do Senhor, ele repetia sempre as palavras do mandamento novo. Se lhe perguntavam por que não dizia outra coisa, respondia: “Porque é o mandamento do Senhor! Se alguém o pratica, isso basta”.
Pode-se dizer o mesmo de cada Palavra de Vida: ela nos leva inevitavelmente a amar. Não pode ser de outra forma, porque Deus é Amor e cada Palavra sua contém o amor, exprime o amor e, se for vivida, nos transforma em amor.

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”.

A Palavra deste mês nos convida a acreditar em Jesus, a aderir com todo o nosso ser à sua Pessoa e ao seu ensinamento: crer que ele é o amor de Deus – como nos ensina ainda João nessa carta – e que por amor deu a vida por nós (cf. 1Jo 3,16). Faz-nos acreditar até mesmo quando ele parece estar longe, quando não o sentimos, quando chegam as dificuldades ou o sofrimento…
Encorajados por essa fé, saberemos viver seguindo o seu exemplo e, obedecendo ao seu mandamento, amar-nos como ele nos amou.
Amar inclusive quando o outro não parece mais merecer o amor, mesmo quando temos a impressão de que o nosso amor seja inadequado, inútil, não correspondido. Agindo assim, reavivaremos os relacionamentos entre nós, que se tornarão cada vez mais sinceros, cada vez mais profundos, e a nossa unidade atrairá a permanência de Deus entre nós.

“Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus, e Deus permanece nele”.

“Meu marido e eu vivíamos apaixonados. Era fácil o relacionamento entre nós nos primeiros anos de casados. Nesse último período, porém, ele anda muito cansado e estressado. No Japão, o trabalho pesa como chumbo nas costas de um homem.
Uma noite, voltando do trabalho, ele sentou-se à mesa para jantar. Aproximei-me para sentar ao seu lado, mas aos gritos mandou que eu saísse: “Você não tem o direito de comer, porque não trabalha!” Passei a noite chorando e prometendo a mim mesma separar-me dele, ir embora. No dia seguinte mil pensamentos me torturavam o tempo todo: “Casei-me com a pessoa errada, não consigo mais viver com ele”.
À tarde falei com as amigas com as quais partilho a minha experiência cristã. Escutaram-me com amor e na comunhão com elas encontrei a força e a coragem necessárias para não desanimar… Então consegui preparar mais uma vez o jantar para o meu marido. Porém, quanto mais se aproximava a hora da sua chegada, mais aumentava o meu receio: como será que ele vai reagir hoje? E sentia como se uma voz interior me dissesse: “Acolha essa dor. Fique firme. Continue amando”. Nesse momento ele abriu a porta. Trazia uma torta para mim. E disse: “Perdoe-me por tudo o que aconteceu ontem.”

Chiara Lubich

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