O pensador polonês Zygmunt Bauman, estudioso da pós-modernidade, elaborou as metáforas do peregrino e do turista, que foram utilizadas para refletir sobre as barreiras impostas pela cultura atual ao desenvolvimento de uma espiritualidade biblicamente consistente e sadia.
‘Turista é aquele indivíduo que visita muitos lugares, mas não pertence a nenhum deles. Seja qual for seu sentimento, não pretende se comprometer com nada à sua volta. Afinal, está apenas de passagem. Sua maior motivação está vinculada à descoberta de novos lugares, à vivência de novas experiências. Está comprometido apenas com o próprio prazer e seu insaciável desejo por entretenimento, estabelecendo relacionamentos frágeis e descartáveis.
Peregrino é uma espécie em extinção em nossa cultura contemporânea. Diferentemente do turista, ele não está envolvido numa aventura de entretenimento, mas numa jornada que tem um início, um meio e um fim. O percurso é mais importante que chegar ao lugar. Algo o moveu a iniciar a jornada, e ele percebe que, ao longo dela, existe uma missão a ser vivenciada e a realidade última se encontra no fim da caminhada. Tudo o que presencia ao longo do caminho são pontos de referência de grande importância e, portanto, tratados com grande reverência por parte do peregrino. Faz-se o próximo daquele que está a beira do caminho, como o samaritano da parábola.”
Atualmente a cultura do hedonismo - busca contínua do prazer, é predominante. Como o prazer é um sentimento momentâneo, diferente da alegria, que é um sentimento duradouro, tudo a nossa volta sofre rápida obsolescência. O objetivo é ter consumidores vorazes, com desejo de consumo permanente. Para tanto somos forçados a consumir fragmentos. Os noticiários são exemplos acabados desta técnica. Apresentadores dão informações de diversas naturezas, em pouco tempo, de modo que os espectadores fiquem com medo do mundo, estressados e deprimidos, e não se envolvam com os assuntos.
Na vida o que é mais importante: conhecimento ou informação?
Na vida o que é mais importante: conhecimento ou informação?
Em geral recebemos muita informação, fragmentos, e não temos tempo para juntá-los e transformá-los em conhecimentos. Mesmo o saber tecnológico é obtido de forma pragmática, não como uma paixão, pois este conhecimento amanhã poderá não ter o mesmo valor.
Na espiritualidade cristã os discípulos de Cristo são comparados aos peregrinos.
Na espiritualidade cristã os discípulos de Cristo são comparados aos peregrinos.
Existe uma estreita relação entre a jornada de um cristão e a experiência de um peregrino. Ambas possuem alguns elementos em comum: a consciência de que a realidade última está ainda por vir; a sensibilidade de que o caminho que trilham pertence ao processo da descoberta e do preparo de si mesmo para esta realidade final; e, por fim, o senso de missão para com os lugares por onde passam e as pessoas que encontram em direção do lugar almejado.
Em nossas igrejas, não é difícil constatar a presença massiva de pessoas mais parecidas com turistas do que com peregrinos. O que muitos cristãos não se dão conta é da dificuldade de abastecer uma espiritualidade sadia nessa cultura gerada por demandas de turistas.
Inspirado na palestra de Ives de La Taille – TV Cultura SP– 23.04.2010
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