A Igreja não está preocupada “consiga mesma, com suas estruturas e suas conquistas”, mas é uma Igreja em saída, “sai ao encontro do homem, anuncia a palavra libertadora do Evangelho, cura com a graça de Deus as feridas da alma e do corpo, socorre os pobres e necessitados”. É o que escreveu o Papa Francisco na mensagem enviada aos bispos, padres, consagrados e fiéis de todo o mundo por ocasião da 52ª Jornada Mundial de Oração pelas Vocações do próximo dia 16 de abril. A vocação, escreveu Bergoglio, é “êxodo”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 14-04-2015. A tradução é de André Langer.
“Na raiz de cada vocação cristã – afirma o Papa no texto assinado em 29 de março e publicado nesta terça-feira –, há este movimento fundamental da experiência de fé: crer significa deixar-se a si mesmo, sair da comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em Jesus Cristo; abandonar como Abraão a própria terra pondo-se confiadamente a caminho, sabendo que Deus indicará a estrada para a nova terra. Esta ‘saída’ não deve ser entendida como um desprezo da própria vida, do próprio sentir, da própria humanidade; pelo contrário, quem se põe a caminho no seguimento de Cristo encontra a vida em abundância, colocando tudo de si à disposição de Deus e do seu Reino. Como diz Jesus, ‘todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá por herança a vida eterna’ (Mt 19, 29). Tudo isto tem a sua raiz mais profunda no amor. De fato, a vocação cristã é, antes de mais nada, uma chamada de amor que atrai e reenvia para além de si mesmo, descentraliza a pessoa, provoca um ‘êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus’ (Bento XVI, Carta Encíclica Deus Caritas Est, 6).
“A experiência do êxodo é paradigma da vida cristã, particularmente de quem abraça uma vocação de especial dedicação ao serviço do Evangelho”. Mas “esta dinâmica do êxodo diz respeito não só à pessoa chamada, mas também à atividade missionária e evangelizadora da Igreja inteira. Esta é verdadeiramente fiel ao seu Mestre na medida em que é uma Igreja ‘em saída’, não preocupada consigo mesma, com as suas próprias estruturas e conquistas, mas sim capaz de ir, de se mover, de encontrar os filhos de Deus na sua situação real e compadecer-se das suas feridas. Deus sai de Si mesmo numa dinâmica trinitária de amor, dá-Se conta da miséria do seu povo e intervém para libertá-lo (Ex 3, 7). A este modo de ser e de agir, é chamada também a Igreja: a Igreja que evangeliza sai ao encontro do homem, anuncia a palavra libertadora do Evangelho, cuida as feridas das almas e dos corpos com a graça de Deus, levanta os pobres e os necessitados”.
Este “êxodo libertador rumo a Cristo e aos irmãos constitui também o caminho para a plena compreensão do homem e para o crescimento humano e social na história. Ouvir e receber a chamada do Senhor não é uma questão privada e intimista que se possa confundir com a emoção do momento; é um compromisso concreto, real e total que abraça a nossa existência e a põe a serviço da construção do Reino de Deus na terra. Por isso, a vocação cristã, radicada na contemplação do coração do Pai, impele simultaneamente para o compromisso solidário a favor da libertação dos irmãos, sobretudo dos mais pobres. O discípulo de Jesus tem o coração aberto ao seu horizonte sem fim, e a sua intimidade com o Senhor nunca é uma fuga da vida e do mundo, mas, pelo contrário, ‘reveste essencialmente a forma de comunhão missionária’ (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 23)”.
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