Extraída da série “Iniciação III” dos “Cadernos sobre a Oração”, eis a seguir uma carta de dezembro 1966, do Padre Caffarel. Escutai-O Enquanto os Evangelhos nos oferecem um sem-número de palavras de Cristo, só trazem três do Pai. O quanto essas deveriam ser preciosas para nós! Uma delas é um conselho, o único conselho do Pai para seus filhos. Com que infinita, que filial deferência deveríamos recebê-la, com que dedicação deveríamos seguí-la! Esse conselho, que detém o segredo de toda santidade é simples e é contido numa palavra.
“Escutai-o” (Mt 17, 5) diz o Pai, mostrando seu Filho Amado. Orar, portanto, é o grande ato de obediência ao Pai; como para Madalena, consiste em sentar-nos aos pés de Cristo para escutar sua palavra, ou melhor, para escutá-lo, a Ele que nos fala. Pois de fato é a Ele, mais ainda que às suas palavras, que devemos estar atentos.
Segue daí que começar a oração a partir de uma página de Evangelho é muito recomendável, a condição de não se ler como um professor de literatura e sim como uma namorada que, para Dos Arquivos Carta sobre a Oração do Padre Caffarel 13 além das palavras das cartas que recebe, ouve bater o coração de seu amado. É uma arte grande, saber escutar.
O próprio Cristo nos alerta: “Olhai a maneira como ouvis!” (Lc 8, 18). Se formos beira do caminho, pedregulho, espinheiros, sua Palavra não poderá crescer em nós. Devemos ser esse terreno fértil onde as sementes encontram o necessário para desabrochar, desenvolver-se, amadurecer.

Na verdade, sem a graça ninguém poderia escutar Cristo, pois somos todos surdos de nascença, filhos de uma raça de surdos. Mas no nosso batismo, Cristo pronuncio a palavra que desde a cura do surdo-mudo da Decápole, abriu as orelhas de milhões de discípulos: “Efatá!” (Mc 7, 34). Quando lhe damos acesso por meio da oração, a palavra de Cristo nos converte, nos faz “passar da morte para a vida” (Jo 5, 24), nos ressuscita; torna-se em nós, para nós uma fonte que jorra, a vida eterna.
Porém, escutar a Palavra não basta. “Felizes, diz Cristo, os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam” (Lc 11, 28), regozijam-se e alimentam-se com ela, a levam com eles, como Maria levava o filho que havia concebido – e que era a Palavra substancial. Por intermédio de Jesus, ela santificava os que encontrava, fazia estremecer de alegria o Batista no seio de sua mãe.
É o que ele quer fazer por meio de nós. Mas não basta dizer só isso. Essa Palavra escutada, guardada, importa “pô-la ativamente em prática” (Tg 1, 25).
Entendam que é preciso, durante todo o dia, estar atentos à sua presença que age em nós, entregar-se a suas sugestões, seus incentivos. É seu dinamismo que nos levará a multiplicar as boas obras, a trabalhar, a padecer, a viver, a morrer pelo advento do Reino do Pai.

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