terça-feira, 21 de julho de 2009

Homilia do Padre Angelo Epis no II Encontro em Florianópolis

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Tema: “Casal cristão, célula de evangelização”.
Leitura: At 18, 1-4, 24-26 – O casal Priscila e Aquila acolhe Paulo.

Salmo: Sal 103(102) 1.2a.14-15.24.27-28 - Bendize o Senhor!
Evangelho: Mt 10,5-9.23-33 – A missão dos doze.

Queridíssimos irmãos, antes de tudo, a minha cordial saudação e a alegria de estar aqui com vocês neste
segundo encontro das Equipes brasileiras. O seu país, particularmente amado por Padre Caffarel, é hoje também amado por todos os casais das Equipes de Nossa Senhora espalhadas pelo mundo. Neste momento, em particular, todos os casais são gratos porque a sua Super-Região aceitou hospedar o próximo Encontro internacional em 2012. A E.R.I., com a solicitação que nos foi dirigida, quis destacar a vivacidade e a força de seu país. Ao mesmo tempo, com esta escolha, quis dizer a todos que o Movimento é internacional e que sair dos limites da Europa para escutar as exigências, perguntas e propostas de vocês é escutar todos os equipistas do mundo. Em nome de todos, obrigado!
A palavra de Deus que vocês escolheram sugere algumas reflexões que eu quero propor-lhes. Jesus revela o seu rosto mais autêntico, na própria medida de Deus. Vendo as multidões, vendo-nos, vendo a nossa contemporaneidade, Jesus tem um sentimento de compaixão. Não de juízo, não de crítica, não de indiferença, não de raiva. De compaixão!
Neste gesto percebo o reflexo do amor de Cristo que permite a Padre Caffarel a sabedoria de responder aos primeiros casais que procuravam uma espiritualidade: “Façamos o caminho juntos!”. Isto é, gastemos uma parte do nosso tempo, da nossa vida, para alguma coisa importante. Busquemos a vontade do Senhor no matrimônio cristão. No matrimônio há o chamado para a santidade! O matrimônio é lugar de santificação.
Hoje, diante de nós, está uma multidão, um mundo cheio de dúvidas, que busca a verdade. Nós somos o sinal de Cristo e junto com Ele temos que ter compaixão, não julgar. Juntos com Jesus devemos procurar caminhos, não fechar estradas. Por isso Jesus inventa a Igreja! Vocês casais, junto com suas famílias, são a Igreja doméstica.
Não nos contentamos em ser um número na Igreja, mas quisemos ser pedras vivas que edificam o templo vivo ao redor de Cristo. Não é fácil entender e amar a Igreja. São muitas suas fragilidades, muitos os contra-testemunhos, muitas as pessoas que se dizem crentes e que nem vivem como homens, muitas as incoerências, muitos os erros na história para não duvidarmos quando se fala da Igreja. A escolha e o envio dos doze por parte de Jesus é um sinal também para nós. Com aqueles doze inicia-se a construir o Reino, primeiro junto com Ele, para depois se tornarem capazes de conduzir para pastagens verdejantes por onde eles primeiro serão conduzidos.
O nosso encontrar-nos, às vezes, nos faz alcançar os nossos limites e nos faz defrontar com o desejo de uma Igreja que vive, pensa e faz sempre as mesmas coisas. Estamos com certeza apaixonados por percursos de unidade, mas não de unanimismo. Olhar para os doze, enviados dois a dois, nos faz pensar e nos encoraja: ninguém sonharia em colocar juntos doze pessoas tão radicalmente diferentes para realizar um projeto! Pescadores acostumados à praticidade e à rudeza colocados ao lado de intelectuais como Mateus e João; tradicionalistas como Tiago junto com publicanos, pecadores públicos, terroristas como Simão do grupo dos Zelotas, dispostos a matar o invasor romano.
Israel inteiro está neste grupo, a inteira humanidade em sua intensa diversidade. A Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus, diferentes entre si em tudo exceto no amor ao Mestre, chamados a anunciar o Evangelho com simplicidade e verdade. À humanidade ferida e frágil que necessita de um guia, Jesus propõe um pedaço da humanidade, igualmente frágil e ferida,.transfigurada.pelo.Amor.A missão proposta aos doze é desconcertante: devem dirigir-se às ovelhas perdidas de Israel. É um convite atual e urgente: a Igreja precisa de testemunhas que a
reconduzam ao aprisco do Pai. Os primeiros destinatários do anúncio do Evangelho somos justamente nós cristãos. Peço-lhes que neste encontro não pensem para quem anunciar o Evangelho: acolham-no vocês, acolhamo-lo nós.
A pobreza e o escândalo da Encarnação é também isso: Deus escolhe se fazer anunciar por meio de pessoas inconstantes e duvidosas. Nós somos, para os irmãos desgarrados, o consolo de Deus.

Não tenham medo! É a outra expressão que lemos na Palavra de hoje. Não tenham medo: vocês valem mais do que muitos passarinhos! Um Deus que cuida dos passarinhos e depois se perde amo­roso em contar os cabelos da minha cabeça. E, no entanto, os passarinhos con­tinuam a cair, os ino­centes a morrer, as crianças a serem vendidas. E Deus a tranqüilizar os seus: «Não temais, nem um passarinho cairá em terra sem a vontade de vosso Pa­i ». E nos garante: nem um passarinho cairá em terra «sem que Deus saiba», de um Senhor envolvido no vôo e na dor das suas criaturas. Nada acontecerá na ausência de Deus, mas no mundo pessoas demais caem no chão sem que Deus queira, coisas demais acontecem con­tra a vontade de Deus: cada ódio, cada guerra, cada injustiça. Mas nada acontece «sem que Deus saiba». Ele se inclina até mim. Entrelaça a sua esperan­ça com a minha, o seu respiro com o respiro do homem, está no reflexo mais profundo das nossas lágrimas para multi­plicar a coragem. Por isso o mundo precisa de homens e mulheres que são reflexo do amor de Deus.
Não tenham medo daqueles que matam o corpo: o cor­po não é a vida, você não é o seu corpo. Assim mesmo o reencontrará: nem mesmo um cabelo se perderá. Para o amante nada daquilo que pertence ao amado é insignificante.
A imagem dos passarinhos e dos cabelos contados, destas criaturas efêmeras e frágeis, me leva aos ministérios que somos chamados a cumprir: Leva-me aos mais frágeis entre os irmãos, aos idosos, aos doentes, aos excepcionais, aos que não podem mais trabalhar e produzir, e se sen­tem inúteis e impotentes. É a ele que Jesus diz: «Não temas: tu vales mais. Ainda que a tua vida fosse leve co­mo a de um passarinho ou frágil como um cabelo, tu vales mais, porque existes, vi­ves, és amado, e Deus se entrelaça com a tua vida». O amor conjugal nos torna todos os dias sabedores das palavras que devemos dizer a estes nossos irmãos: Senhor, fiz po­uco durante a minha existência e agora não consigo fazer mais nada. E Ele responde: Tu vales mais, não porque produzes, trabalhas, tens sucesso, mas porque existes, gratuitamente como os passarinhos, fragilmente como os cabelos, nas mãos de Deus. Sobre ti está a sua cura, sobre ti está o seu respiro. Onde você acaba, começa Deus.
Gritem dos telhados! Eis a função da Igreja: anunciar a cada homem a ternura de Deus. Para isso precisa encher os pulmões e gritar dos telhados aquilo que experimentamos dentro de nós. Nesta não-lógica de Deus, que confia nas nossas frágeis mãos do anúncio, encontramos hoje o seu desejo de anunciar aos homens o seu verdadeiro rosto.
Somos chamados a gritar dos telhados que Deus conta também os cabelos da nossa cabeça, que Deus não é feio e incompreensível como o imaginamos, que Deus ama carinhosamente os passarinhos e conhece seus sofrimentos, que Deus, o Deus de Jesus, é esplêndido. Gritar dos telhados que Deus é grande, que Deus nos ama, que Deus está presente, como o coração do apaixonado que, cheio, quer comunicar a todos a sua experiência.
Ao homem indiferente ou arrastado pelo caos da vida, Jesus anuncia o rosto suave de um Deus que caminha conosco. Gritem dos telhados! E me lembro de todas as situações em que nos envergonhamos de ser cristãos, em que afirmamos que cremos, sim, mas com muitos parênteses, com muitas objeções, para não fazer má figura diante da "modernidade", toda vez que tentamos ser cristãos "politicamente corretos", quando nos entregamos aos compromissos para ser acolhidos neste hipócrita mundo liberal que é liberal somente com quem pensa como ele.
No fundo, porém, temos medo da nossa fé, acreditamos que devemos quase desculpar-nos por crer, que as nossas razões vacilam diante do pensamento moderno. Mas é assim? Talvez sim, para muitos.
Precisamos aprofundar a nossa fé, de sacudir a poeira da rotina e do tradicionalismo, para redescobrir o rosto extraordinariamente humano e misericordioso, confiável e racional do Deus.de.Jesus.Cristo.

Gritem dos telhados! Não nas Igrejas, não nas sacristias, não ao pequeno rebanho, mas na praça, no bar, no escritório. A fé esteve por muito tempo escondida nos tabernáculos, sem ter a coragem de contagiar a nossa vida. Não é este talvez o drama da nossa fé? O de ficar timidamente escondida nos estreitos espaços do Espírito? Não é talvez porque Deus foi expulso da nossa economia, das nossas escolhas, das nossas famílias, da nossa cultura, para ser idolatrado no tempo do sagrado que muitos homens.olham.com.desconfiança.no.Evangelho, como se quase fosse uma renúncia.à.plena.humanidade?
Gritemos do telhado este Evangelho, responsabilizemo-nos por ele, entremos no grupo de quem leva a sério a ânsia de plenitude que inquieta o Senhor.
Sejamos claros, porém: nada de integralismos nestes tempos de excessos religiosos, em que se sopra sobre o nunca adormecido espectro das guerras de religião.
Viver o Evangelho com seriedade não leva de forma alguma a agir sem o respeito ditado pela caridade. Respeito absoluto pelas idéias e pela experiência humana, com certeza, mas também a exigência de ser reconhecidos cidadãos plenos, com uma experiência forte e reestruturadora da sociedade. Existe o risco de brandir a fé como uma arma, ou o risco da insignificância.
"O amor nos empurra", dizia São Paulo. É o amor em Deus e no homem que faz gritar nos telhados, é a percepção da salvação que pode encher os corações que nos faz sair para indicar a quem vive no medo e na solidão que existe uma plenitude e que esta plenitude tem o rosto e o olhar de Cristo.
O crente, operário da compaixão. «Jesus, vendo as multidões, teve compaixão». O fim de uma carga infinita, belíssima. Jesus sente dor pela dor do mundo. De fato: «A messe é grande», mas não pela quantidade de pessoas, mas porque está brotando no mundo uma grande colheita de cansaços, de espigas inchadas de lágrimas, uma messe de medos como de ovelhas que não têm pastor.
É este seu a­postolado que Jesus confia aos discípulos. Torna-os operários de um trabalho que descreve com seis verbos: preguem, curem, ressuscitem, sanem, libe­rtem e doem. Em primeiro lugar tem o mini­stério da pregação a­postólica, mas unido ao mini­stério da piedade divina, numa relação desbalanceada, de um a cinco. O trabalho nos campos do Senhor se expri­me em gestos concretos, em cin­co obras que mostram como «o Reino dos céus se aproxima» para quem tem o coração fe­rido, e numa sexta obra que proclama a proximidade de Deus. O discípulo é cha­mado a tomar conta da causa de Deus junto com a causa do homem, a tomar conta dos rebanhos e das messes, das dores e das asas, de um mun­do bárbaro e magnífico.
Áquila e Priscila, após ter vivido a experiência da prova que os afastou de Roma, tornam-se a
colhedores com Paulo e com outros que encontraram em seu caminho. Revelam a Paulo, desanimado pelos fracassos e amedrontado, o rosto daquele Deus que lhe havia dito “Eu estarei contigo” com a sua acolhida. Ensinam a Apolo com a catequese o caminho da plena comunhão com Cristo. Este casal nos faz vislumbrar um estilo. Lembra-nos um pouco a palavra do Evangelho: «O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde tinha de ir....» (Lc 10,1). Isto é, ninguém é mediador único do Evangelho, e ninguém é enviado sozinho. O Evangelho pe­de sempre uma lógica de companhia, de compartilhamento, de comunicação, também na fase em­brionária da comunidade. A vida conjugal é este lugar onde se faz experiência do anúncio, dois a dois.
Colhemos nesta pequena Igreja doméstica, um verdadeiro estilo evangélico: somos pelo menos dois! Estamos em comunhão, porque o Evangelho é uma palavra maior do que eu e a minha compreensão, e não posso carregá-lo sozinho, senão corro o risco de carregar minhas opi­niões, minhas convicções, sacralizando-as.
Por exemplo, Paulo, procurava nunca andar sozinho, como se depreende dos contos nos Atos. Tinha sempre um ou dois companheiros com ele. Às vezes, um parava numa cidade, enquanto Paulo prosseguia; depois um outro voltava para manter os contatos e aprofundar a catequese. A obra evangélica nunca é realizada por um 'dom Quixote' heróico e solitário... Precisa ser ágeis, ter sempre de alguma maneira uma dimensão de sinodalidade, um caminhar juntos no nome do Evangelho. E é uma comunhão não idilíaca, mas trabalhosa; o próprio Paulo se cansa, e briga, e se separa
. Brigou com Barnabé e Marcos, depois brigará com Pedro. Cansa-se em compartilhar as opiniões daqueles que têm tendências mais próximas daquelas do hebraísmo do que daquelas que ele desenvolveu. Neste âmbito, o casal, vocês casais são chamados a viver a comunhão entre vocês, em suas casas e a colocar a serviço as suas capacidades. Neste sentido o Movimento nos quer ser de ajuda para levar o Evangelho do amor no mundo.
Como amava dizer-nos Padre Caffarel: lembrem-se de que o motor e o coração de tudo é a Eucaristia. Do viver e fazer Eucaristia deriva o seu estilo de casal a serviço do Evangelho.

Um comentário:

osvaldo999 disse...

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