Nas asas do sonho partem os migrantes,aos milhares e milhões põem-se em marcha;das terras do desemprego e da fomerumam em direção às terras do trabalho e do pão;rompem leis, fronteiras e obstáculos,fortes e frágeis na luta pela vida.
Mas a cada esquina tropeçam e caemcom os mil rostos e mil ciladas da morte: morte filha do tráfico e da violência,que cedo ceifa a flor da juventude;morte filha do trabalho explorado e escravo,que cansa antes do amanhecer e encurva antes dos trinta;morte indefesa e inocente, filha da indiferença,que se alimenta de vidas não nascidas;morte em meio às tempestades da travessia,que no mar ou no deserto frustra o sonho;morte filha da pobreza e da inanição,que a conta-gotas mata os desenraizados;morte da fauna e da flora, grito da terra devastada,a bio em suas distintas formas ameaçada.
Morte nas ruas, cotidiana, quase “cultural”,sangue quente na telinha e nas páginas do jornal;morte do planeta, destruição do meio ambiente,água e ar, rios e florestas, animais e gente!morte espetáculo, na cidade e no campo, banal;espalha silêncio e medo, como coisa natural.
Teimosos, voltam a erguer-se o sonho e o migrante;nas asas do vento, vencem ambos o caminho;o sonho se faz raiz, se faz broto e se faz tronco,se faz árvore, se faz flor e se faz fruto;no chão de uma nova pátria planta raízes,que hão de forjar uma cidadania sem fronteiras,onde acima da raça, língua ou cultura, está a vida.
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