Desde 1996, o projeto já auxiliou 70 comunidades católicas de Caxias do Sul
18/10/2016 às 00:00 (atualizado em 14/10/2016 às 11:11)
IGREJA
Caxias do Sul: iniciativa criada a partir da Campanha da Fraternidade de 1996 visa ajudar na construção de templos , como o da comunidade São João Batista
Foto: CR
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O que é uma comunidade? O dicionário exprime que trata-se de um conjunto de indivíduos ligados por interesses comuns, que se associam com frequência ou vivem em conjunto. Partindo desse princípio literal, como pode ser traduzida uma comunidade cristã? O documento nº. 100 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), intitulado “Comunidade de comunidades: uma nova Paróquia” resume.
O estudo concebe que “comunidade cristã é a experiência de Igreja que acontece ao redor da casa. É a Igreja que está onde as pessoas se encontram, independentemente dos vínculos de território, moradia ou pertença geográfica.” Antes disso, de uma forma teológica, a comunidade cristã consiste numa união de pessoas entre si e delas com Deus Trindade, por meio do batismo.
Em uma realidade urbana de quase 500 mil habitantes, Caxias do Sul se vê cada vez mais necessitada de comunidades que acolham os migrantes e lhes propiciem a vivência da fé. Aos 126 anos de emancipação política, o município conta com bairros consolidados e outros em expansão. A cidade não cresce no centro e nas regiões próximas, mas se espalha pelas diversas localidades.
Junto com o desenvolvimento da cidade cresce, também, a necessidade da atuação das religiões, para que cada indivíduo possa exercer suas práticas religiosas. Isso tudo inclui a Igreja Católica. Hoje, a diocese de Caxias do Sul possui 74 paróquias e mais de 970 comunidades em 31 municípios. Somente em Caxias, são 28 igrejas paroquiais, e outras 192 comunidades, perfazendo um total de 220 comunidades-igreja.
No entanto, apesar de um número elevado de comunidades de fé, algumas ainda se reúnem em garagens ou outros locais. Isso ocorre pela falta de recursos para a aquisição do terreno e/ou para a construção do templo. De acordo com o pároco da paróquia Santa Catarina, padre Renato Ariotti, antigamente a prefeitura já destinava um terreno para a construção da igreja, nos loteamentos novos. “Hoje, com a diversidade de religiões, se destinar terreno a um, obrigatoriamente, tem de destinar aos outros”, explica.
Campanha da Fraternidade – Anualmente, durante a Quaresma, a CNBB propõe a reflexão acerca de temas sociais na Campanha da Fraternidade (CF). Em 1996, a CF refletia o lema: “Justiça e paz se abraçarão!” Até hoje, como gesto concreto, as coletas das celebrações do Domingo de Ramos são encaminhadas para um fundo que destina parte dos recursos para a CNBB e parte para a diocese. A partir da apresentação de projetos sobre a temática da Campanha, os organismos da Igreja diocesana são beneficiados com esses recursos.
Naquele ano, diante de uma realidade de novos bairros e loteamentos em Caxias, os padres definiram que o valor recolhido seria destinado à construção de templos e de salas para a catequese. O projeto recebeu o nome de Fundo da Solidariedade (FS). A partir de então, cada comunidade é convidada a contribuir, anualmente, para a manutenção do Fundo de Solidariedade
Comunidade: casa da Palavra, do Pão e da caridade
De acordo com o coordenador, padre Olavo Bombardelli, em 20 anos, o Fundo de Solidariedade já distribuiu mais de R$ 3.000.000,00, que facilitaram a concretização dos projetos de evangelização de 70 comunidades. “O Fundo é uma injeção. A comunidade se mobiliza e nós ajudamos. Isso acontece porque somos Igreja e queremos estar em comunhão”, ressalta.
O documento da CNBB fala, ainda, da descentralização da paróquia e da consequente valorização das pequenas comunidades. O subsídio remete ao Papa Francisco. “Deveria ser a grande missão da Igreja que busca desenvolver a cultura da proximidade e do encontro.” Por isso, quase que a totalidade dos recursos foram empregados nas periferias da cidade. Foram beneficiadas, sobretudo, comunidades das paróquias Santa Fé, Santa Catarina, Santíssima Trindade, Menino Deus, Imaculada Conceição, Cristo Operário e Santos Apóstolos.
Uma das 70 comunidades auxiliadas é a São Roque, do Distrito Industrial, pertencente à paróquia Santíssima Trindade. De acordo com o membro da equipe administrativa, Florenaldo Duarte,o Fundo de Solidariedade é essencial para que a Igreja permaneça unida e possa celebrar a vida. “O projeto é muito importante, porque a comunidade precisa de espaço para se reunir, expressar a sua fé e se sentir acolhida”, destaca.
Bozo, como é conhecido, revela que a comunidade já recebeu uma ajuda que se aproxima dos R$ 70.000,00. “Ajudaram-nos a comprar o terreno, depois nos ajudaram a começar a construção. Agora, pedimos um empréstimo para o Fundo”, conta. O templo já está coberto e com as paredes levantadas. A expectativa é de que a missa de Natal seja celebrada em seu interior.
Unidade que constrói comunhão
Padre Olavo Bombardelli ressalta, ainda, a alegria da unidade. O sacerdote, que coordena o projeto desde 2001, se diz emocionado ao ver as comunidades que foram ajudadas promoverem eventos para colaborar com o Fundo. “É algo muito emocionante. Comunidades que precisaram da injeção do Fundo de Solidariedade estão construindo comunhão com outras localidades, contribuindo com o crescimento da fé”, comemora.
Ao recordar o documento da CNBB que fala sobre as comunidades, o sacerdote lembra que o Fundo de Solidariedade é pioneiro no país. “Criamos esse espírito de rede, isto é, vamos construindo juntos, com os padres, leigos, religiosas”, observa. “Além disso, o lema que permeia os 20 anos, e se atualiza a cada ano, transcreve essa urgência da Igreja do Brasil nas questões do cuidado com a vida. ‘Sonhar juntos é realizar’ é a motivação do trabalho”, afirma.
Padre Olavo faz memória, ainda, do Papa Francisco que escreve aos cristãos falando da necessidade de uma Igreja em saída. “Temos que superar barreiras e estar em todos os lugares. Precisamos ser Igreja em estado permanente de missão, auxílio e solidariedade”, finaliza.
Redação Jornal Correio Riograndense
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