II SESSÃO DE FORMAÇÃO NACIONAL 2015
A nossa intenção não é evidentemente fazer um relato minucioso da forma como o Padre Caffarel vivia e sentia o nosso Movimento, contudo parece-nos útil destacar alguns aspectos essenciais daquilo que Henri Caffarel trouxe às equipas, pelo ensinamento deixado nos seus numerosos escritos que nos falam desde a criação das ENS, à sua animação, missão e expansão no mundo.
Ele próprio, quando olhava para o passado, cuidava de
retirar lições para os passos seguintes. É o que
nos cumpre fazer nesta sessão de Formação, onde falar da
vivencia nas ENS pode vir a ser uma ajuda
para todos os que a frequentam, baseada no testemunho
deixado e legado pelo Padre Caffarel.
Prometemos deixar-vos o resultado de tudo quanto esta
palestra nos obrigou a fazer, tentando sempre ser fieis ao espírito do nosso Movimento, não esquecendo contudo
as sábias palavras deixadas pelo Padre Caffarel quando os casais o procuravam no principio e lhes
pediam que indicasse o Caminho, ele respondia com grande sabedoria “Procuremos juntos”.
Foi em 1938, a pedido de alguns jovens casais, que o Padre
Caffarel começou a discernir as bases de uma espiritualidade para os casais.
A espiritualidade era correntemente considerada como uma
especialidade dos religiosos, celibatários,
enquanto o casamento era mais ou menos depreciado.
Podemos também dizer que a sexualidade era, na maior parte
mais das vezes, compreendida como uma espécie de concessão inevitável para a procriação e para
apaziguar o desejo, não sendo o seu sentido cristão nada explorado.
Henri Caffarel impulsiona os casais que se lhe juntaram a
prosseguir o seu caminho quando lhes diz que os leigos devem “ definir bem quais são os seus meios e os
seus métodos, porque isso constituirá a espiritualidade do cristão casado” (Conferência aos
responsáveis de Equipas, 1952).
Ao lermos e estudarmos os seus editoriais das Cartas das
Equipas e tudo quanto nos deixou escrito nos primeiros anos, descobrimos que em Junho de 1950, por
exemplo, Caffarel apresenta talvez a primeira definição de espiritualidade: «A espiritualidade é a ciência
que trata da vida cristã e dos caminhos que conduzem ao seu pleno desenvolvimento.»
Pouco depois, o Padre Caffarel vai concretizar a sua ideia e
diz aos casais que procuram construir a sua espiritualidade, que não se trata de se evadirem do mundo,
mas de aprenderem como, a exemplo de Cristo, podem servir Deus em toda a sua vida e no meio do
mundo.
É-lhes necessário então descobrir que a espiritualidade não
diz respeito apenas à oração ou à ascese, mas que ela implica o serviço a Deus no lugar de cada um, na
família, no trabalho, na cidade, no mundo.
Caffarel continua o seu discernimento e coloca-nos de
imediato a sua reflexão sobre o amor, sobre os
laços estreitos entre o amor de Deus e o amor humano e
deixa-nos uma preciosa orientação para
começarmos no nosso caminho para a santidade.
O amor humano é a referência que nos ajuda a compreender o
amor divino.
Pelo seu poder de fazer de dois seres, um único,
salvaguardando a personalidade de cada um, o amor
permite-nos adquirir a compreensão da misteriosa união de
Cristo com a humanidade e do casamento
espiritual da alma com o seu Deus.» (Reflexões sobre o amor e
a graça, p. 44)
Chegamos ao cerne do carisma do nosso Movimento: a partir da
experiência vivida do amor no casal,
podemos descobrir o amor de Deus, a sua fidelidade, o seu
desejo do nosso bem – ao mesmo tempo que os cônjuges desejam a felicidade um do outro, no plano
humano e sobre o plano do desenvolvimento religioso; sem esta dupla dimensão, o seu amor permaneceria
imperfeito, Caffarel diz mesmo, mutilado.
E o Padre Caffarel propõe-nos as Orientações de Vida, os
Pontos Concretos de Esforço e a Vida de
Equipe como meios de aperfeiçoamento no caminho para a
santidade.
Pede então aos casais que se formem na procura de Deus. O
objectivo é radical. Caffarel nunca gostou de águas mornas. Por exigência espiritual, ele entende que
tudo nos deve levar a Deus.
Um aspecto que não deve ser negligenciado naquilo a que o
Padre Caffarel chama a “via mística” do
casal cristão, é o sentido do pecado e do perdão de Deus.
É essencial que quando sobrevêm as opacidades de um para com
o outro, as incompatibilidades e as
formas diversas do mal que divide, os esposos cristãos devem
reconhecer-se como pecadores.
Os fracassos do amor levam a tomar consciência de que o amor
tem necessidade de ser salvo. Caffarel termina um parágrafo intitulado Comunidade pecadora,
arrependida e perdoada, da sua obra
“Casamento, esse grande Sacramento”, por estas palavras: «
Se, consentindo na cruel descoberta [de
serem pecadores], a comunidade conjugal se torna por fim
comunidade penitente na grande
comunidade penitente da Igreja e recorre ao seu Senhor, do
qual ela não quer pôr em causa a
presença e a solicitude, então, abrindo-se ao perdão, ela
renascerá para a esperança. »
Tó e Zé CR ERI
Continua........
Tó e Zé CR ERI
Continua........
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