Pequenos agricultores de todo o Estado participam da 35ª edição da romaria, em Santo Cristo
A agricultura familiar camponesa como um espaço bom de viver com qualidade de vida, é a temática que move a 35ª Romaria da Terra, evento que será realizado no dia 21 de fevereiro de 2012 em Bom Princípio Baixo, Santo Cristo (RS). Promovida pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pela diocese de Santo Ângelo, a romaria tem como tema “Agricultura familiar camponesa: vida com saúde”.
Para a CPT, é pertinente enfocar a temática da agricultura familiar camponesa. Os movimentos sociais atuantes e participantes do processo consideram oportuno destacar a expressão “camponesa”, um elemento central daqueles que cuidam do campo e, em especial, da vida.
Se nas suas origens a Romaria da Terra tinha como bandeira a função social da propriedade, passadas quase quatro décadas outros temas importantes são contemplados nas celebrações e reflexões da romaria. Questões fundamentais como os agrotóxicos e os decorrentes problemas ambientais, a preservação das sementes crioulas e da sabedoria popular, a água como um direito humano, o consumismo, a exploração abusiva do solo, os problemas decorrentes das barragens entram na pauta das reflexões e discussões propostas pela romaria.
Especificamente, a 35ª Romaria da Terra se propõe motivar os participantes a tomar consciência das dificuldades enfrentadas por quem trabalha na agricultura familiar; celebrar as conquistas e os projetos representados por essa iniciativa popular; assumir o compromisso de fortalecer essa perspectiva de vida; sinalizar tais projetos como caminhos de vida com saúde.
Desta forma, a Romaria da Terra ocorre, a cada ano, como um momento profético de denúncia e anúncio, oportunizando exemplos concretos que se traduzem em propostas de viabilidade da agricultura familiar camponesa como um espaço bom de viver com qualidade de vida, sem o uso de venenos e outros produtos prejudiciais à vida.
Bispo gaúcho preside celebração
Realizada todos os anos na terça-feira de Carnaval, a 35ª edição da romaria, no dia 21 de fevereiro, inicia com acolhida aos romeiros de todas as dioceses gaúchas, de outros Estados e também da Argentina. Às 9 horas inicia a caminhada, na comunidade Bom Princípio, até Bom Princípio Baixo, num trajeto de dois quilômetros.
Na chegada, momento celebrativo com a pregação de dom Guilherme Werlang, bispo gaúcho que atua na diocese de Ipamiri (GO) e que integra a Comissão de Justiça e Paz. Em seguida, pronunciamento das autoridades presentes. Ao meio-dia, almoço partilhado e também disponibilizado pela comunidade de Bom Princípio Baixo e, na parte da tarde, momento cultural, com artistas da terra; e encerramento, às 15h30, com bênção do envio.
No final também será anunciado o local da 36ª Romaria da Terra, que deverá ocorrer num município da diocese de Caxias do Sul, no dia 12 de fevereiro de 2013.
“Alto lá, esta terra tem dono”
A Romaria da Terra é, desde suas origens, um momento forte, privilegiado, de mobilização, celebração e conscientização. A primeira romaria foi realizada no dia 7 de fevereiro de 1978, em Caiboaté, São Gabriel, no dia exato e no local onde há 222 anos, Sepé Tiaraju e 1.500 companheiros índios foram massacrados na luta em defesa da terra.
O evento, que iniciou tímido - apenas 400 participantes -, tomou forma a tal ponto de reunir milhares de camponeses e simpatizantes da causa dos pequenos produtores. A maior das romarias ocorreu em Tenente Portela, no ano de 1985, quando participaram 70 mil pessoas.
A diocese de Santo Ângelo, no ano de celebração de seu jubileu de ouro, acolhe pela quarta vez a Romaria da Terra. “A diocese missioneira quer expressar seu comprometimento firme e vigoroso com essa iniciativa das Igrejas do RS. A caminhada de preparação, a disposição de acolhida aos romeiros, os esforços na realização da romaria constituem expressivos jeitos de participação do povo de Deus de nossa diocese jubilar”, salienta dom José Clemente Weber, bispo diocesano.
Na terra do homem da terra
Santo Cristo, o município que acolhe a 35ª Romaria da Terra, é conhecido como a “Terra do homem da terra”. Localiza-se no noroeste gaúcho, na região da Grande Santa Rosa. A colonização local iniciou em 1910, por migrantes alemães, e a emancipação municipal ocorreu em 1955.
Com cerca de 14,5 mil habitantes, o município revela uma economia dinâmica, muito diversificada. Na agricultura familiar destaca-se a produção de leite (250 mil litros/dia) e a suinocultura (100 mil animais/mês). Nesses dois segmentos, o município ocupa os primeiros lugares no Estado. Também destaca-se o cultivo de milho, trigo, hortigranjeiros e mandioca.
Diversas agroindústrias estão instaladas em comunidades rurais de Santo Cristo e é forte a atuação do cooperativismo de crédito e de produção. Os agricultores contam com o apoio permanente da prefeitura e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. E também existe a Casa Familiar Rural, a educação de sua gente e a influência secular da própria Igreja.
Alimento para 70% da humanidade
O modelo agrícola do agronegócio é definido pela Via Campesina Internacional - organização que reúne cerca de 100 milhões de pequenos agricultores - como uma “agricultura petrolífera sem agricultores”. Os métodos (monocultura, maquinaria pesada, pesticidas, fertilizantes químicos, sementes trânsgênicas etc) estão degradando as melhores terras do planeta.
A população urbana ultrapassou a população rural. Mas ainda há 1,5 bilhão de camponeses que trabalham em 380 milhões de propriedades, 800 milhões que produzem em área urbana, 410 milhões que coletam frutos das florestas, 190 milhões são pastores... No total, são mais de 3 bilhões de pessoas. Segundo a Via Campesina, 70% da humanidade é alimentada por esses trabalhadores, que cultivam menos de metade da terra disponível.
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