Há momentos em que quaisquer palavras -nossas, em busca da “riqueza espiritual”de CAFFAREL, se tornam a mais.Tínhamos acabado de ouvir na TV, mais uma vez, casos duros sobre famílias inteiras, as agruras que a crise que avassala o nosso País e o mundo lhes está a provocar e, ao mesmo tempo, palravam vários personagens no estilo de “bater o mea-culpa no peito dos outros”, como D. António Ferreira Gomes denunciava como nosso mesquinho vício. Eis então que, angustiados pela tardança em dar o nosso “textosinho” para a CARTA, logo deparámos, caída como bênção do Espírito Santo, com uma luminosa reflexão do nosso Fundador a propósito duma carta recebida em reacção ao que ele escrevera algures. Bastará transcrever (e atrevidamente adaptar ao nosso País) no essencial. Pois bem:
“(...) recebi esta carta: “Sou o tipo de assinante passivo, a-mãe-de-família- -demasiado-ocupada-para-escrever!
Mas, desta vez, reagi violentamente ao ler o seu artigo. , diz o senhor. Mas, Senhor Padre, a inquietação corrói-nos; é esse o termo. O mundo está aí à nossa frente, tão cheio de miséria, como poderemos sentir-nos em paz? Haverá tanta gente que vive feliz,
contente, no seio da sua tranqüila comunidade familiar onde nada falta, onde se está confortavelmente entre pessoas que se amam e que são agradavelmente ‘bem educadas’? Eu pensava realmente que isso era de outros tempos. Por mim, acho tão difícil conseguir alguns momentos de paz e de quietude! Então, pomos a cabeça entre as mãos e dizemos: ‘A minha posição social, a minha fortuna adquirida justamente (...), foi o bom Deus que as quis; de resto, não sou eu generosa de acordo com os meus meios?, etc. etc.’... e lá vamos andando com um pouquinho de tranquilidade. Mas não por muito tempo. Uma pedinte bate à porta (uma profissional, certamente, não lhe devo nada... ! ah! e se ela tiver filhos enregelados em casa?... os meus estão tão contentes à volta da lareira – plano da Providência: a sua miséria, o meu conforto?...
– viro tudo ao contrário). Ou então é um testemunho do Padre Américo ou do Banco Alimentar ou da Caritas que nos cai nas mãos: a miséria está ali, espreita-nos, estraga o nosso conforto, vira do avesso as nossas perspectivas razoavelmente estabelecidas; já não há maneira de ser feliz; e o pior é que o saco no supermercado ou o dinheiro não apaziguam. Não, Senhor Padre, ajude-nos antes a encontrar a paz. A paz que vem da caridade – (como vê, condeno-me a mim própria; já sei, tudo vem da falta de amor). Qual é o nosso lugar, de burgueses ricos (ou supostamente), nesta miséria do mundo? Estas desculpas (plano providencial, etc.) não serão fúteis? Pergunto a mim própria muitas vezes se a sua revista feita para nós e que compreende tão bem os nossos problemas e nos ajuda não faria por vezes melhor se mandasse passear
Pergunto a mim própria se, unidos nessa intensa caridade, não veríamos melhor a insignificância desses problemazínhos conjugais que tanto nos ocupam (...)”.
Como isto soa a cristão! É por esta inquietação, captada com muita verdade e energia, que se reconhece o discípulo de Cristo. Perante a miséria do mundo, ele descobre a sua riqueza e inquieta-se: porquê eu, por que não eles? Como sois ricos, vós a quem me dirijo! Mesmo se não tendes fortuna material. Ricos da nossa cultura, da vossa educação, das vossas relações, das vossas amizades, dessa família onde há amor. Ricos do bem infinitamente ainda mais precioso da fé, da graça... E, à vossa volta, uma terrível pobreza: corpos famintos, corações famintos, almas famintas. Sois perseguidos por esta pergunta: porquê eu, por que não eles? Sois perseguidos pela vontade de partilhar? Dir-me-eis “Eles não vêm pedir”! De verdade?
Credes que é a eles a quem compete deslocar-se... e pedir
Nela e Augusto Lopes Cardoso
Casal Responsável pela Equipa de Reflexão
e Aprofundamento do Pensamento do P. Caffarel
fonte: CARTA MENSAL PORTUGAL
fonte: CARTA MENSAL PORTUGAL
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