quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A última lição de Bento XVI


Olhar Diferente

Aldo Colombo
Com o comunicado de sua renúncia, o Papa administrou sua aula mais brilhante

A Igreja, em sua história bimilenar, foi governada por 265 papas. Cada um deles com personalidade, cultura e virtudes próprias. Sobretudo nos últimos 100 anos, figuras extraordinárias ocuparam a cátedra de Pedro. João XXIII passou à história como o Papa Bom. Foi substituído por um gênio de organização, Paulo VI. Depois houve o curto reinado de João Paulo I, o Sorriso de Deus. Depois surgiu a carismática figura de João Paulo II, o homem da mídia e das multidões. Bento XVI foi diferente de todos eles. Foi o professor, o Papa da Teologia e da Fé.

Com o comunicado de sua renúncia com data marcada – 28 de fevereiro – , Bento XVI administrou sua aula mais brilhante.Trata-se de um gesto marcado pela maturidade, pela grandeza e pelo amor. Foi uma atitude profética e que sinaliza mudanças importantes na Igreja nos próximos anos. A Igreja de Deus é divina, mas caminha na história. Ela lida com verdades eternas, que não podem ser negociadas, mas não pode tornar-se um museu. A verdade é eterna, mas os costumes não.

O Concílio Vaticano II há cinquenta anos ajudou a Igreja a acertar os passos com a modernidade. Uma Igreja que desceu da montanha para partilhar a vida dos homens e mulheres, como fermento evangélico. A história, hoje se acelerou. O que no passado acontecia em cinquenta anos, hoje acontece em seis meses. A Igreja de Roma pode ser comparada a um gigantesco porta-aviões que se desloca com vagar no mar da história, devagar mas com segurança. Mas isto não significa que não possa ser mais ágil.

Em dois mil anos de história, apenas um papa renunciou. Trata-se de Celestino V em 1294, um eremita, arrancado de sua solidão para a complexidade de Roma. Depois de cinco meses, para salvar sua saúde e sua alma, renunciou. Dante, na Divina Comédia, o chamou de grande desertor e o colocou no Inferno, mas a Igreja o colocou no céu com a canonização. Bento XVI esclareceu: “Diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino”. 

O Direito Canônico, a lei maior da Igreja, em seu artigo 332, prevê esta possibilidade. Não se trata de uma crise, mas um gesto profético que enche de esperanças e certezas a comunidade cristã. A Igreja situa-se numa encruzilhada e necessita escolher o caminho do futuro. A Igreja primitiva, quando Pedro estava preso, “rezava por ele sem cessar” (At 12,6). Navegando nos mares da história, a Igreja sempre enfrenta tempestades. Mas não há o que temer: ela é guiada pelo Espírito Santo. Bento XVI despediu-se em grande estilo. Trata-se de uma aula magistral.

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