quarta-feira, 2 de abril de 2014

Também nós “tantas vezes tivemos preguiça ou fomos hipócritas como os fariseus”.

Não aos cristãos que sempre dizem que “não se pode”, diz o Papa Francisco

A acidez e o formalismo de muitos cristãos “anestesiados” e hipócritas fazem muito mal à Igreja. A afirmação é do Papa Francisco e feita na missa da manhã desta terça-feira na Capela da Casa SantaMarta, segundo indicou a Rádio Vaticano. O Pontífice convidou para “imiscuir-se”, a sujar as mãos, a arriscar-se em primeira pessoa para anunciar a Palavra de Deus.
 
Fonte: http://bit.ly/1jvjMxs  
A reportagem é de Domenico Agasso Jr e publicada no sítio Vatican Insider, 01-04-2014. A tradução é de André Langer.
O Papa desenvolveu sua homilia comentando o trecho evangélico que narra o encontro entre Jesus e o paralítico, o qual, aos 38 anos, estava sob os pórticos, perto da piscina, esperando a cura. Este homem se lamentava porque não conseguia se imergir, porque sempre era precedido por alguém. Mas Jesus o cura. Um milagre que provoca críticas dos fariseus porque era sábado e, naquele dia, diziam que não se podia fazer milagres. Nesta narração, encontramos duas doenças fortes, espirituais. Duas doenças sobre as quais, disse, “fará bem refletir”.
Em primeiro lugar, explicou Francisco, a resignação do doente, que se sente amargurado e se lamenta: “Eu penso em muitos cristãos, muitos católicos: sim, são católicos, mas sem entusiasmo, inclusive amargurados! ‘Sim, é a vida, é assim, mas a Igreja... Eu vou à missa todos os domingos, mas melhor não se envolver, tenho fé para a minha saúde, não tenho necessidade de dá-la a outro...’. Cada um em sua casa, tranquilos… E se alguém ousa, é reprovado: ‘Não, é melhor assim, não correr riscos...’. É a doença da preguiça, da preguiça dos cristãos. Esta atitude que é paralisante do zelo apostólico, que faz dos cristãos pessoas estagnadas, tranquilas, mas não no bom sentido da palavra: que não se preocupam em sair para anunciar o Evangelho! Pessoas anestesiadas”.
“E a anestesia, acrescentou o Papa, é uma experiência negativa”. Esse não implicar-se converte-se em “preguiça espiritual”. E a “preguiça – disse é uma tristeza”. Estes cristãos são tristes, “não são pessoas iluminadas, são pessoas negativas. E esta é uma doença nossa, dos cristãos”. Vamos à missa “todos os domingos, mas – dizemos –, por favor, não incomodar”. Estes cristãos “sem zelo apostólico”, advertiu Francisco, “não servem, não fazem bem à Igreja. Há muitos cristãos assim, afirmou o Papa com aflição, “egoístas, para si mesmos”. Este é o pecado de preguiça que vai contra o zelo apostólico, contra a vontade de apresentar a novidade de Jesus aos outros, esta novidade que me foi dada gratuitamente”.
Mas nesta passagem do evangelho – acrescentou o Papa – encontramos também outro pecado quando vemos que Jesus é criticado por ter curado um doente no sábado. O pecado do formalismo. “Cristãos – disse o Bispo de Roma – que não deixam lugar à graça de Deus. E a vida cristã, a vida destas pessoas é ter todos os documentos em dia, todos os certificados”. “Cristãos hipócritas, como estes. A eles só interessavam as formalidades. Era sábado? Não, não se podem fazer milagres no sábado, a graça de Deus não pode atuar no sábado. Fecham as portas à graça de Deus! Temos tantos na Igreja, temos tantos! É outro pecado. Os primeiros, aqueles que cometem o pecado da preguiça, não são capazes de ir em frente com zelo apostólico, porque decidiram fechar-se em si mesmos, em suas tristezas, em seus ressentimentos, em tudo isso. Estes não são capazes de levar a salvação porque fecham a porta à salvação”.
Para eles, disse o Papa, contam “apenas as formalidades”. “Não se pode: é a palavra que mais usam”. E nós também encontramos estas pessoas – acrescentou Francisco – e também nós “tantas vezes tivemos preguiça ou fomos hipócritas como os fariseus”. E acrescentou que se trata de tentações que vêm, mas que “devemos conhecer para nos defender delas”. Ao mesmo tempo, recordou que diante destas duas tentações, diante “desse hospital de campanha, ali, está o símbolo da Igreja”, diante de “tantas pessoas feridas”, Jesus se aproxima e lhes pergunta: “Querem ficar curados?” e “lhes dá a graça. A graça faz tudo”.
E depois, quando se encontra novamente com o paralítico, Jesus diz a ele para que “não peque mais”. “As duas palavras cristãs: 'queres ficar curado?' e 'não peque mais', são palavras ditas com ternura, com amor. E este é o caminho cristão: aproximar-se das pessoas feridas, neste hospital de campanha... muitas vezes pessoas feridas por homens e mulheres da Igreja. É uma palavra de irmão e de irmã: queres ficar curado? E depois, quando segue em frente: 'Ah, não peques mais, porque não faz bem!’ É muito melhor isto: as duas palavras de Jesus são mais bonitas do que a preguiça e a hipocrisia”.

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